Simone Camargo
Quando resolvi escrever sobre uma obra não ficcional, foi justamente por encontrar nela uma grande aproximação entre a ficção e a realidade. O sujeito, autor do livro, narra o fim da própria vida, e é exatamente essa reflexão que ele faz sobre a finitude da nossa existência e ausência de autonomia quanto a forma que desejamos morrer, que me motivou a escrever esse artigo.
Gilberto Dimenstein narra, em seu livro “Os últimos melhores Dias da minha Vida”, um sonho que teve, no qual ele dialogava com seu avô, quando este lhe faz uma série de revelações, entre as quais uma que acabou lhe soando quase que como uma certeza, um prenúncio, daquilo que ele, em razão de tal sonho, iria descobrir dias depois: que estava com um câncer: “dizem que, ao receber esse tipo de notícia, a pessoa passa por três fases: a negação, a rebeldia e a resignação.” Diante da descoberta da doença, Dimenstein afirmou que o final de sua vida não poderia ter outro desfecho, em razão de vícios aos quais se entregou durante muito tempo, como a bebida, o cigarro e a falta de hábitos saudáveis.
Apesar de ele ser paciente de câncer, com gravidade, sua narrativa não é sofrida, é até poética e dá a Gilberto a oportunidade para a expressão de uma profunda racionalidade sobre a sua própria existência. Ele deixa entrever que, se ele pudesse, voltaria pelo retrovisor do tempo e consertaria o que não mais tinha conserto: uma vida que se empobreceu pela própria ausência de vida - sem tempo para os amigos, para a família, para os livros, para os filmes e até mesmo para uma refeição. Uma vida dedicada para o trabalho.
Aqui me deparo com a Ética protestante e o espírito do Capitalismo de Max Weber, e os doutrinadores que o antecederam: Santo Agostinho, Lutero e Calvino que defendiam a tese de que devemos trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar - sem adentrar na parte religiosa de que com muito e dedicado trabalho se pode alcançar um lugar no céu. E esta ideia de trabalho está refletida na vida de Dimenstein. Mesmo ele sendo um homem com uma vida financeira confortável, continuou sempre trabalhando sem se dar pausas para viver.
De certa forma, o autor encontrou na doença a oportunidade que muitos não têm antes de morrer: como se tivesse feito uma pequena parada em um ônibus, para uma profunda reflexão de como sua vida passou tão rapidamente. Ele redirecionou o pouco tempo que lhe restava para aquilo que antes nunca teve sentido e agora passou a ter a própria vida.
Quando resolvi escrever sobre uma obra não ficcional, foi justamente por encontrar nela uma grande aproximação entre a ficção e a realidade. O sujeito, autor do livro, narra o fim da própria vida, e é exatamente essa reflexão que ele faz sobre a finitude da nossa existência e ausência de autonomia quanto a forma que desejamos morrer, que me motivou a escrever esse artigo.
Gilberto Dimenstein narra, em seu livro “Os últimos melhores Dias da minha Vida”, um sonho que teve, no qual ele dialogava com seu avô, quando este lhe faz uma série de revelações, entre as quais uma que acabou lhe soando quase que como uma certeza, um prenúncio, daquilo que ele, em razão de tal sonho, iria descobrir dias depois: que estava com um câncer: “dizem que, ao receber esse tipo de notícia, a pessoa passa por três fases: a negação, a rebeldia e a resignação.” Diante da descoberta da doença, Dimenstein afirmou que o final de sua vida não poderia ter outro desfecho, em razão de vícios aos quais se entregou durante muito tempo, como a bebida, o cigarro e a falta de hábitos saudáveis.
Apesar de ele ser paciente de câncer, com gravidade, sua narrativa não é sofrida, é até poética e dá a Gilberto a oportunidade para a expressão de uma profunda racionalidade sobre a sua própria existência. Ele deixa entrever que, se ele pudesse, voltaria pelo retrovisor do tempo e consertaria o que não mais tinha conserto: uma vida que se empobreceu pela própria ausência de vida - sem tempo para os amigos, para a família, para os livros, para os filmes e até mesmo para uma refeição. Uma vida dedicada para o trabalho.
Aqui me deparo com a Ética protestante e o espírito do Capitalismo de Max Weber, e os doutrinadores que o antecederam: Santo Agostinho, Lutero e Calvino que defendiam a tese de que devemos trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar - sem adentrar na parte religiosa de que com muito e dedicado trabalho se pode alcançar um lugar no céu. E esta ideia de trabalho está refletida na vida de Dimenstein. Mesmo ele sendo um homem com uma vida financeira confortável, continuou sempre trabalhando sem se dar pausas para viver.
De certa forma, o autor encontrou na doença a oportunidade que muitos não têm antes de morrer: como se tivesse feito uma pequena parada em um ônibus, para uma profunda reflexão de como sua vida passou tão rapidamente. Ele redirecionou o pouco tempo que lhe restava para aquilo que antes nunca teve sentido e agora passou a ter a própria vida.
Advogada e doutoranda em Direito