Pedro Saraiva
Muito se tem falado sobre as casas de apostas online, mais conhecidas como bets, principalmente depois de levantamento feito pelo Banco Central ter indicado que, entre janeiro e agosto de 2024, elas receberam em torno de R$ 20 bilhões de aportes mensais. Todavia, a demografia de quem os fez chamou ainda mais atenção. Somente em agosto, a estimativa é de que 5 milhões de beneficiados pelo Bolsa Família tenham enviado R$ 3 bilhões a essas empresas. A média de gasto por pessoa foi de R$ 100.
Os números são claros sobre a chance de se perder dinheiro com as bets: dos 2 mil apostadores entrevistados pela Mobile Time e Opinion Box, 60% reconheceram ter resultados negativos. Já um estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostrou que 64% dos apostadores utilizam a renda principal para fazer apostas, deixando de comprar itens básicos para o dia a dia. O problema seria agravado se o brasileiro não tivesse alternativas rentáveis e seguras para aplicar seus recursos, o que não é verdade.
Hoje, no mercado, encontram-se títulos bancários garantidos pelo FGC pagando 15,3% ao ano. Em dez anos, essa rentabilidade multiplica o capital investido em mais de quatro vezes, mas, mesmo assim, esses investimentos tradicionais vêm perdendo espaço para as bets, principalmente entre os mais necessitados.
Muito se fala em regulação, taxação e proibição, mas, assim como vemos com bebidas, tabaco e até drogas ilegais, não é porque algo é regulado, taxado e proibido que deixa de ser consumido. A medicina cada vez mais caminha em direção à prevenção versus remediação - e nossas políticas públicas deveriam seguir o mesmo rumo.
Existe, ainda, a tendência do brasileiro de buscar retornos rápidos. Você pode até tentar atalhar o caminho para o sucesso financeiro, mas a matemática indica que isso não é sustentável nem recomendável. Similarmente, a natureza mostra que nem sempre os atalhos para o crescimento rendem os melhores frutos. Se uma muda de árvore pudesse "escolher" ficar em uma região livre de sombra, ela cresceria mais rápido, mas sua madeira seria mais arejada e macia, ideal para fungos e bactérias.
Políticas públicas voltadas para educação financeira seriam um bom caminho para prevenir a busca esperançosa - e temerária - pela sorte para melhorar de vida no país.
Associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e sócio da Capse Investimentos