Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 27 de Setembro de 2024 às 07:30

Como a sustentabilidade pode reforçar a estratégia de negócio

Fabiana Gomes, bióloga e Diretora de Sustentabilidade na Hidrovias do Brasil

Fabiana Gomes, bióloga e Diretora de Sustentabilidade na Hidrovias do Brasil

Hidrovias do Brasil/Divulgação/JC
Compartilhe:
JC
JC
Fabiana GomesAno passado, mais precisamente em maio de 2023, o economista Klaus Schwab, o fundador do Fórum Econômico Mundial visitou o Brasil e, claro, deu uma série de entrevistas. Na conversa dele com o apresentador Luciano Huck, publicada no jornal O Globo, ao comentar sobre o fato de que empresas são atores da sociedade, e não apenas unidades econômicas, Schwab ressaltou a dicotomia entre a gestão de curto e longo prazo e falou sobre como enfrentar crises sob essa ótica. Dentre as soluções possíveis para que os negócios sejam resilientes aos problemas globais, ele destacou a necessidade de uma visão de longo prazo que inclua “responsabilidades ESG (Environmental, Social and Governance)”.Parto desse ponto para trazer uma discussão sobre como a Sustentabilidade pode trazer uma nova forma de gestão das companhias, necessariamente com o foco em longo prazo e com um olhar abrangente sobre o ecossistema em que se realizam os negócios. Tomo a liberdade aqui de resgatar a minha formação como Bióloga e recordar, de Eugene Odum, uma definição clássica para o conceito de “ecossistema” que fala sobre a “obrigatória interdependência e causalidade das relações contidas entre os produtores, consumidores, decompositores e os fatores abióticos do ambiente”. Façamos um exercício criativo e troquemos produtores, consumidores por clientes, fornecedores, empresas, o meio ambiente a sociedade em que se inserem os empreendimentos e, voilá, temos, diretamente da Biologia para o universo corporativo, uma definição de cadeia de valor interconectada, um ecossistema de negócios cujo equilíbrio, assim como na natureza, depende de relações equânimes entre as partes. Aposto que, lá em 1957, Odum, não pensou que seu entendimento de como a natureza opera em cadeia seria aplicável ao universo dos negócios. Confesso que eu, há 30 anos, ao abraçar a Biologia também não pensei nessa correlação, e muito menos que escreveria sobre para um público de negócios mas, ela existe, e hoje se traduz na gestão sustentável dos negócios, popularmente conhecida pela sigla ESG. Seguindo o meu exemplo, pense comigo: assim como olhamos para uma mancha de floresta e pensamos no delicado equilíbrio de forças necessário para que aquele ambiente se mantenha ali por muitos anos (não necessariamente intacto mas resiliente à mudança), é possível olhar para um negócio, qualquer que seja, e entender que a manutenção de relações comerciais e contratuais longevas e de valor compartilhado é fundamental para que aquele negócio se mantenha por muitos anos, não necessariamente intacto mas resiliente à mudança.Pensando em diversidade agora, se pegarmos duas manchas de vegetação isoladas e sem intervenção humana, uma de floresta, diversa em espécies da macro e micro biota; e uma monocultura qualquer, escolha a que preferir, desde que consista de uma única espécie plantada. Agora repita o exercício, considerando um negócio gerido por pessoas iguais em geração, origem, formação e raciocínio e outro gerido por uma variedade geracional, de origens, formações e raciocínios. Quem permanece mais tempo funcionando e se autossustentando, o sistema diverso ou o homogêneo? Nos dois exemplos com alta diversidade existe um equilíbrio dinâmico, ou seja, ele dá trabalho, seja porque as espécies disputam recurso entre si, seja porque as pessoas discordam e tem contrapontos frequentes, mas o resultado é de resiliência e permanência ao longo do tempo.Este equilíbrio dinâmico, baseado na geração de valor compartilhado, é a base para negócios longevos. E não estamos falando aqui, necessariamente de negócios sustentáveis, mas de gestão sustentável do negócio, qualquer negócio, e há sim diferença entre os dois. Um negócio com uma gestão sustentável é capaz de olhar para suas externalidades de maneira clara e franca, entendendo quais as oportunidades e riscos associados ao ambiente externo e interno, porém numa ótica muito mais ampla do que aquela que tradicionalmente considera clientes, concorrentes, cadeia de fornecimento. Um negócio sustentável entende que o relacionamento transparente e claro com todas as partes interessadas pode sim mitigar riscos e gerar oportunidades; reconhece que o meio ambiente pode oferecer riscos e oportunidades, e as mudanças do clima afetando a economia são a prova disso. Olhe para a diversidade da sua força de trabalho como potência a ser destravada. Olhe para as relações de poder dentro da organização e pense em como elas podem ser mais equânimes mediante uma governança ajustada. Mais importante do que tudo isso, coloque estes riscos e as oportunidades na sua estratégia de planejamento de longo prazo garantindo um ambiente mais seguro para seus acionistas e investidores. Para os mais velhos, recordo aqui os primórdios dos Sistemas de Gestão da Qualidade. Houve um tempo em que todas as empresas queriam “certificar” a despeito da qualidade da gestão. Hoje, ouso dizer que quase ninguém duvida do poder de um sistema de gestão robusto. Ouso dizer também que em alguns anos, ninguém mais vai duvidar da importância de se considerar todas as externalidades de um negócio para a avaliação de seus riscos e oportunidades. Uma coisa é certa, a discussão vai muito além do “se vale ou não a pena adotar uma agenda ESG”, a transformação do mundo corporativo e da era na qual estamos vivendo exige preparar um negócio, seja ele qual for, para ser mais resiliente em um ambiente de mudança veloz. É preciso garantir o aprimoramento das corporações para que cada uma delas possa oferecer o seu melhor à sociedade, para que possamos evoluir em conjunto. Bióloga e diretora de Sustentabilidade na Hidrovias do Brasil
Fabiana Gomes

Ano passado, mais precisamente em maio de 2023, o economista Klaus Schwab, o fundador do Fórum Econômico Mundial visitou o Brasil e, claro, deu uma série de entrevistas. Na conversa dele com o apresentador Luciano Huck, publicada no jornal O Globo, ao comentar sobre o fato de que empresas são atores da sociedade, e não apenas unidades econômicas, Schwab ressaltou a dicotomia entre a gestão de curto e longo prazo e falou sobre como enfrentar crises sob essa ótica. Dentre as soluções possíveis para que os negócios sejam resilientes aos problemas globais, ele destacou a necessidade de uma visão de longo prazo que inclua “responsabilidades ESG (Environmental, Social and Governance)”.

Parto desse ponto para trazer uma discussão sobre como a Sustentabilidade pode trazer uma nova forma de gestão das companhias, necessariamente com o foco em longo prazo e com um olhar abrangente sobre o ecossistema em que se realizam os negócios. Tomo a liberdade aqui de resgatar a minha formação como Bióloga e recordar, de Eugene Odum, uma definição clássica para o conceito de “ecossistema” que fala sobre a “obrigatória interdependência e causalidade das relações contidas entre os produtores, consumidores, decompositores e os fatores abióticos do ambiente”. Façamos um exercício criativo e troquemos produtores, consumidores por clientes, fornecedores, empresas, o meio ambiente a sociedade em que se inserem os empreendimentos e, voilá, temos, diretamente da Biologia para o universo corporativo, uma definição de cadeia de valor interconectada, um ecossistema de negócios cujo equilíbrio, assim como na natureza, depende de relações equânimes entre as partes.

Aposto que, lá em 1957, Odum, não pensou que seu entendimento de como a natureza opera em cadeia seria aplicável ao universo dos negócios. Confesso que eu, há 30 anos, ao abraçar a Biologia também não pensei nessa correlação, e muito menos que escreveria sobre para um público de negócios mas, ela existe, e hoje se traduz na gestão sustentável dos negócios, popularmente conhecida pela sigla ESG.

Seguindo o meu exemplo, pense comigo: assim como olhamos para uma mancha de floresta e pensamos no delicado equilíbrio de forças necessário para que aquele ambiente se mantenha ali por muitos anos (não necessariamente intacto mas resiliente à mudança), é possível olhar para um negócio, qualquer que seja, e entender que a manutenção de relações comerciais e contratuais longevas e de valor compartilhado é fundamental para que aquele negócio se mantenha por muitos anos, não necessariamente intacto mas resiliente à mudança.

Pensando em diversidade agora, se pegarmos duas manchas de vegetação isoladas e sem intervenção humana, uma de floresta, diversa em espécies da macro e micro biota; e uma monocultura qualquer, escolha a que preferir, desde que consista de uma única espécie plantada. Agora repita o exercício, considerando um negócio gerido por pessoas iguais em geração, origem, formação e raciocínio e outro gerido por uma variedade geracional, de origens, formações e raciocínios. Quem permanece mais tempo funcionando e se autossustentando, o sistema diverso ou o homogêneo? Nos dois exemplos com alta diversidade existe um equilíbrio dinâmico, ou seja, ele dá trabalho, seja porque as espécies disputam recurso entre si, seja porque as pessoas discordam e tem contrapontos frequentes, mas o resultado é de resiliência e permanência ao longo do tempo.

Este equilíbrio dinâmico, baseado na geração de valor compartilhado, é a base para negócios longevos. E não estamos falando aqui, necessariamente de negócios sustentáveis, mas de gestão sustentável do negócio, qualquer negócio, e há sim diferença entre os dois. Um negócio com uma gestão sustentável é capaz de olhar para suas externalidades de maneira clara e franca, entendendo quais as oportunidades e riscos associados ao ambiente externo e interno, porém numa ótica muito mais ampla do que aquela que tradicionalmente considera clientes, concorrentes, cadeia de fornecimento.

Um negócio sustentável entende que o relacionamento transparente e claro com todas as partes interessadas pode sim mitigar riscos e gerar oportunidades; reconhece que o meio ambiente pode oferecer riscos e oportunidades, e as mudanças do clima afetando a economia são a prova disso. Olhe para a diversidade da sua força de trabalho como potência a ser destravada. Olhe para as relações de poder dentro da organização e pense em como elas podem ser mais equânimes mediante uma governança ajustada. Mais importante do que tudo isso, coloque estes riscos e as oportunidades na sua estratégia de planejamento de longo prazo garantindo um ambiente mais seguro para seus acionistas e investidores.

Para os mais velhos, recordo aqui os primórdios dos Sistemas de Gestão da Qualidade. Houve um tempo em que todas as empresas queriam “certificar” a despeito da qualidade da gestão. Hoje, ouso dizer que quase ninguém duvida do poder de um sistema de gestão robusto. Ouso dizer também que em alguns anos, ninguém mais vai duvidar da importância de se considerar todas as externalidades de um negócio para a avaliação de seus riscos e oportunidades.

Uma coisa é certa, a discussão vai muito além do “se vale ou não a pena adotar uma agenda ESG”, a transformação do mundo corporativo e da era na qual estamos vivendo exige preparar um negócio, seja ele qual for, para ser mais resiliente em um ambiente de mudança veloz. É preciso garantir o aprimoramento das corporações para que cada uma delas possa oferecer o seu melhor à sociedade, para que possamos evoluir em conjunto.

Bióloga e diretora de Sustentabilidade na Hidrovias do Brasil

Notícias relacionadas