Fernando Ferrari Filho
O crescimento de 1,4% do PIB no segundo trimestre de 2024 "surpreendeu" a maioria dos analistas e jornalistas econômicos, que esperavam uma taxa de crescimento bem menor.
Motivos para o bom resultado do PIB não faltam: a taxa de desemprego caiu para 6,9% no segundo trimestre do ano, a massa salarial aumentou, o salário-mínimo tem crescido em termos reais, os programas sociais foram turbinados, o Programa Desenrola tem recuperado o crédito de famílias inadimplentes e o "Minha Casa, Minha Vida" voltou a estimular a construção civil.
Como consequência, os principais componentes setoriais tanto de demanda, quanto de produção, tiveram os seguintes desempenhos: em relação à demanda, a formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu 2,1% e 5,7% e o consumo das famílias expandiu-se 1,3% e 4,9%, com e sem ajustes sazonais, respectivamente; por sua vez, pelo lado da produção, o crescimento da indústria foi 1,8% e 3,9% e a expansão dos serviços foi 1,0% e 3,5%, em comparação ao primeiro trimestre/2024 e ao segundo trimestre/2023, respectivamente. Importante ressaltar que o indicador FBCF/PIB elevou-se para 16,8% e o crescimento da construção civil, importante setor que sinaliza o desempenho da economia, foi 3,5%.
O ponto negativo ficou por conta do setor agropecuário que apresentou quedas de 2,3% e 2,9%, comparativamente ao trimestre imediatamente anterior e ao mesmo trimestre do ano passado, respectivamente. Segundo o IBGE, o recuo do setor deveu-se às intempéries climáticas que acabaram afetando a produtividade do setor.
A despeito destes bons indicadores da economia real, os referidos analistas não somente se "surpreenderam" com a atual dinâmica econômica, mas, de forma apocalíptica, argumentaram que "a irresponsabilidade fiscal e o desequilíbrio do setor público e a ausência de reformas estruturais" tendem a acelerar a inflação e trazer reveses para a trajetória do PIB.
Tais agouros me fazem lembrar da professora Maria da Conceição Tavares, recentemente falecida. Certa vez, em meus tempos de estudante de graduação no Rio de Janeiro, a mestra me disse que "análise econômica se faz cientificamente e não através de bravatas político-ideológicas".
Parafraseando-a e concordando com John Maynard Keynes de que Economia é uma "Ciência Moral", análises econômicas devem ser feitas com argumentos lógicos, empíricos e éticos.
Ph.D. em Economia e professor colaborador do PPGE/UFRGS