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Publicada em 20 de Agosto de 2024 às 07:09

Os impactos da política de cotas nas diferentes etapas de ensino

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César SilvaA política de cotas no ensino superior público, com destinação de 50% das vagas para egressos de alunos da escola pública, deu mais diversidade às universidades e traz impactos não previstos. Criada em 2012, ela já reflete na opção de mais famílias em colocar os filhos para cursar as séries finais do Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio em colégios mantidos pela União, Estados ou Municípios.A conclusão é da pesquisa feita professora Úrsula Mello, do Insper, em São Paulo, que analisou os dados de 2011 a 2016 e constatou aumento de 31% nas transferências de alunos do 9º saindo da escola privada para o Ensino Público. De acordo com o estudo, o movimento reflete uma estratégia familiar que pretende aumentar a chance de ingresso ao final do Ensino Médio na universidade pública, pois a oportunidade de ingresso é maior para os participantes do ENEM que estão caracterizados como oriundos do ensino médio público, dentro do sistema de cotas.Outro movimento, paralelo ao fenômeno identificado pelo Insper, e que decorre da Lei de Cotas, é a maior busca pelas famílias com maior poder aquisitivo de alternativas de ensino pago para o ingresso de seus filhos na etapa do ensino superior. Tal procura reflete uma lenta ruptura que a Lei de Cotas faz na antiga tradição brasileira, de que na universidade pública estudavam os filhos da elite socioeconômica, ficando a maioria da população sujeita ao ensino noturno das IES privadas, ou aos cursos por EAD, nas públicas ou nas IES particulares.A reserva de 50% das vagas para egressos da escola pública, e com limitador de renda familiar mensal per capita em apenas um salário mínimo em algumas categorias, criou um novo excedente de potenciais universitários no país. São aqueles jovens egressos das escolas de Ensino Médio privadas, que mesmo alcançando bom aproveitamento em processos classificatórios como o Enem e os vestibulares, não conseguem mais ingressar nas universidades públicas.As vagas para este perfil de ingressante caíram 50%. É um fato. Uma realidade com a qual a classe média e a classe alta precisam lidar. Desta forma, os alunos deste excedente somente conseguem iniciar rapidamente o Ensino Superior em instituições que cobram mensalidades, mas com qualidade percebida justificando o ingresso de alunos com boa formação.Recuperando o conceito das “Consequências Impremeditadas”, de Anthony Giddens, a Lei de Cotas acabou produzindo entre os seus efeitos a valorização do ensino superior privado de alta performance.Em São Paulo, por exemplo, uma grande parte dos alunos que hoje estão no Insper, no Einstein, na FAAP, na ESPM, na faculdade Etapa, na Link ou na Faculdade XP estão dentro de um perfil dos que antigamente cursavam USP, Unicamp ou na Unifesp (a antiga Escola Paulista de Medicina).O mesmo cenário se reflete em todo o país. Cria-se para o ensino privado um nicho de excelência para disputar a posição de ser a primeira opção das famílias e dos estudantes para os não aprovados nas IES públicas, apesar do alto rendimento escolar e de boas notas no Enem ou vestibular.Tais instituições caracterizadas como “outsiders” do setor ou nichadas estão se proliferando com objetivo de formar profissionais para segmentos de mercado onde a demanda é alta (como o Einstein em Saúde, Faculdade XP em Finanças e Investimentos e a ESPM em Comunicação e Marketing) e bastante promissora como carreira.As políticas públicas inclusivas estabelecem valores ao setor educacional muito maiores do que a correção social do passado, mas principalmente os ajustes econômicos do futuro.Diretor presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT)
César Silva

A política de cotas no ensino superior público, com destinação de 50% das vagas para egressos de alunos da escola pública, deu mais diversidade às universidades e traz impactos não previstos. Criada em 2012, ela já reflete na opção de mais famílias em colocar os filhos para cursar as séries finais do Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio em colégios mantidos pela União, Estados ou Municípios.

A conclusão é da pesquisa feita professora Úrsula Mello, do Insper, em São Paulo, que analisou os dados de 2011 a 2016 e constatou aumento de 31% nas transferências de alunos do 9º saindo da escola privada para o Ensino Público. De acordo com o estudo, o movimento reflete uma estratégia familiar que pretende aumentar a chance de ingresso ao final do Ensino Médio na universidade pública, pois a oportunidade de ingresso é maior para os participantes do ENEM que estão caracterizados como oriundos do ensino médio público, dentro do sistema de cotas.

Outro movimento, paralelo ao fenômeno identificado pelo Insper, e que decorre da Lei de Cotas, é a maior busca pelas famílias com maior poder aquisitivo de alternativas de ensino pago para o ingresso de seus filhos na etapa do ensino superior. Tal procura reflete uma lenta ruptura que a Lei de Cotas faz na antiga tradição brasileira, de que na universidade pública estudavam os filhos da elite socioeconômica, ficando a maioria da população sujeita ao ensino noturno das IES privadas, ou aos cursos por EAD, nas públicas ou nas IES particulares.

A reserva de 50% das vagas para egressos da escola pública, e com limitador de renda familiar mensal per capita em apenas um salário mínimo em algumas categorias, criou um novo excedente de potenciais universitários no país. São aqueles jovens egressos das escolas de Ensino Médio privadas, que mesmo alcançando bom aproveitamento em processos classificatórios como o Enem e os vestibulares, não conseguem mais ingressar nas universidades públicas.

As vagas para este perfil de ingressante caíram 50%. É um fato. Uma realidade com a qual a classe média e a classe alta precisam lidar. Desta forma, os alunos deste excedente somente conseguem iniciar rapidamente o Ensino Superior em instituições que cobram mensalidades, mas com qualidade percebida justificando o ingresso de alunos com boa formação.

Recuperando o conceito das “Consequências Impremeditadas”, de Anthony Giddens, a Lei de Cotas acabou produzindo entre os seus efeitos a valorização do ensino superior privado de alta performance.

Em São Paulo, por exemplo, uma grande parte dos alunos que hoje estão no Insper, no Einstein, na FAAP, na ESPM, na faculdade Etapa, na Link ou na Faculdade XP estão dentro de um perfil dos que antigamente cursavam USP, Unicamp ou na Unifesp (a antiga Escola Paulista de Medicina).

O mesmo cenário se reflete em todo o país. Cria-se para o ensino privado um nicho de excelência para disputar a posição de ser a primeira opção das famílias e dos estudantes para os não aprovados nas IES públicas, apesar do alto rendimento escolar e de boas notas no Enem ou vestibular.

Tais instituições caracterizadas como “outsiders” do setor ou nichadas estão se proliferando com objetivo de formar profissionais para segmentos de mercado onde a demanda é alta (como o Einstein em Saúde, Faculdade XP em Finanças e Investimentos e a ESPM em Comunicação e Marketing) e bastante promissora como carreira.

As políticas públicas inclusivas estabelecem valores ao setor educacional muito maiores do que a correção social do passado, mas principalmente os ajustes econômicos do futuro.

Diretor presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT)

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