Maira Caleffi
Em maio deste ano, o Rio Grande do Sul viveu a maior crise climática de sua história até então. Mais de 400 municípios invadidos pelas águas que devastaram casas, vidas e impactaram também de forma significativa o acesso à saúde, sobretudo para pacientes em tratamentos de alta complexidade como o tratamento oncológico.
No contexto das crises climáticas, surgem desafios significativos que podem afetar tanto a disponibilidade quanto a eficácia dos tratamentos. Eventos climáticos extremos, como o que vivemos no estado, podem interromper parcial ou totalmente os serviços de saúde em razão dos danos à infraestrutura, dificultando o acesso dos pacientes a tratamentos essenciais como quimioterapia, radioterapia e cuidados paliativos. Isso é especialmente crítico em áreas vulneráveis ou em desenvolvimento. Além disso, o descarte de equipamentos médicos, medicamentos e materiais cuja indicação de uso seja comprometida - como os que ficaram submersos pelas enchentes - impactam significativamente o meio ambiente. É necessário mobilizar esforços para pensar em soluções para a proteção mais efetiva desses equipamentos e materiais, mas também na gestão desse tipo específico de resíduos se assim for necessário.
Outro ponto que não deve ser desconsiderado são as dificuldades no manejo de condições pré-existentes. A exposição prolongada ao calor ou frio extremos, por exemplo, ou às águas contaminadas, podem ser especialmente difíceis para pacientes com câncer em tratamento por ampliar o risco de efeitos adversos ou contaminações que interfiram diretamente no quadro de saúde. A segurança alimentar também é importantíssima ao longo da jornada dos pacientes e o comprometimento na disponibilidade de alimentos nutritivos impacta diretamente no sucesso de qualquer tratamento. Pacientes com necessidades nutricionais específicas enfrentam ainda mais dificuldades para manter uma alimentação balanceada em contextos de adversidade.
Os impactos psicossociais não podem ser menosprezados. Pacientes oncológicos necessitam de atenção integral ao longo do tratamento, com acesso a acolhimento e acompanhamento psicológico para lidar da melhor forma possível com toda a carga que vem junto ao diagnóstico. A ansiedade e o estresse relacionados às mudanças climáticas podem apresentar dimensões muito mais complexas, potencialmente afetando o bem-estar emocional e a resposta ao tratamento.
Existe ainda um ponto de suma importância, que observamos tanto no período de pandemia e pós-pandemia como durante e no pós-enchentes: a dificuldade de fazer exames preventivos e de rastrear doenças, como certos tipos de câncer que dependem do diagnóstico precoce para garantir chances de cura. Nesse sentido, sabemos o quão fundamental é o acesso ágil às equipes assistenciais para dirimir dúvidas, realizando até mesmo teleconsultas em caso de impedimento de deslocamentos. Sabemos ainda, que esse acesso já enfrentava barreiras diversas, antes mesmo do desastre ambiental vivido recentemente.
Um exemplo claro é a metodologia da navegação de pacientes, uma abordagem para garantir um acompanhamento personalizado ao paciente oncológico durante sua jornada de diagnóstico e tratamento. Embora a rede privada no Brasil já disponha do serviço, a inclusão na rede pública tem sido um desafio não apenas em nosso estado, mas em todo o país. Em 2022 a FEMAMA apoiou a mobilização em torno da sanção presidencial da lei de navegação de pacientes para câncer de mama, o que acabou ficando apenas no papel, sem regulamentação. Embora não se trate de algo tecnicamente complexo, a navegação tem o potencial de gerar inúmeros benefícios ao sistema de saúde como um todo e ao paciente principalmente; contudo, sua incorporação no dia a dia da gestão em saúde tem passado despercebido pelo poder público, gerando efeitos em cascata.
No contexto das crises climáticas, surgem desafios significativos que podem afetar tanto a disponibilidade quanto a eficácia dos tratamentos. Eventos climáticos extremos, como o que vivemos no estado, podem interromper parcial ou totalmente os serviços de saúde em razão dos danos à infraestrutura, dificultando o acesso dos pacientes a tratamentos essenciais como quimioterapia, radioterapia e cuidados paliativos. Isso é especialmente crítico em áreas vulneráveis ou em desenvolvimento. Além disso, o descarte de equipamentos médicos, medicamentos e materiais cuja indicação de uso seja comprometida - como os que ficaram submersos pelas enchentes - impactam significativamente o meio ambiente. É necessário mobilizar esforços para pensar em soluções para a proteção mais efetiva desses equipamentos e materiais, mas também na gestão desse tipo específico de resíduos se assim for necessário.
Outro ponto que não deve ser desconsiderado são as dificuldades no manejo de condições pré-existentes. A exposição prolongada ao calor ou frio extremos, por exemplo, ou às águas contaminadas, podem ser especialmente difíceis para pacientes com câncer em tratamento por ampliar o risco de efeitos adversos ou contaminações que interfiram diretamente no quadro de saúde. A segurança alimentar também é importantíssima ao longo da jornada dos pacientes e o comprometimento na disponibilidade de alimentos nutritivos impacta diretamente no sucesso de qualquer tratamento. Pacientes com necessidades nutricionais específicas enfrentam ainda mais dificuldades para manter uma alimentação balanceada em contextos de adversidade.
Os impactos psicossociais não podem ser menosprezados. Pacientes oncológicos necessitam de atenção integral ao longo do tratamento, com acesso a acolhimento e acompanhamento psicológico para lidar da melhor forma possível com toda a carga que vem junto ao diagnóstico. A ansiedade e o estresse relacionados às mudanças climáticas podem apresentar dimensões muito mais complexas, potencialmente afetando o bem-estar emocional e a resposta ao tratamento.
Existe ainda um ponto de suma importância, que observamos tanto no período de pandemia e pós-pandemia como durante e no pós-enchentes: a dificuldade de fazer exames preventivos e de rastrear doenças, como certos tipos de câncer que dependem do diagnóstico precoce para garantir chances de cura. Nesse sentido, sabemos o quão fundamental é o acesso ágil às equipes assistenciais para dirimir dúvidas, realizando até mesmo teleconsultas em caso de impedimento de deslocamentos. Sabemos ainda, que esse acesso já enfrentava barreiras diversas, antes mesmo do desastre ambiental vivido recentemente.
Um exemplo claro é a metodologia da navegação de pacientes, uma abordagem para garantir um acompanhamento personalizado ao paciente oncológico durante sua jornada de diagnóstico e tratamento. Embora a rede privada no Brasil já disponha do serviço, a inclusão na rede pública tem sido um desafio não apenas em nosso estado, mas em todo o país. Em 2022 a FEMAMA apoiou a mobilização em torno da sanção presidencial da lei de navegação de pacientes para câncer de mama, o que acabou ficando apenas no papel, sem regulamentação. Embora não se trate de algo tecnicamente complexo, a navegação tem o potencial de gerar inúmeros benefícios ao sistema de saúde como um todo e ao paciente principalmente; contudo, sua incorporação no dia a dia da gestão em saúde tem passado despercebido pelo poder público, gerando efeitos em cascata.
Recentemente, na tarde do dia 17 de julho, o governador Eduardo Leite sancionou a Lei 16.151/2024, que, com autoria da deputada Delegada Nadine e apoio da FEMAMA E Do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (IMAMA), institui o Programa Estadual de Navegação de Pacientes com Neoplasia Maligna de Mama. Em 2023, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado brasileiro com o maior número de novos casos de câncer de mama e o quarto em óbitos relacionados à doença. Com a nova legislação, o estado gaúcho se torna pioneiro no Brasil ao implementar uma lei voltada para a navegação de pacientes oncológicos em âmbito estadual, uma intervenção importante para minimizar os atrasos, ampliando o acesso ágil às equipes assistenciais e ao próprio tratamento.
O documento reafirma a importância dos prazos estabelecidos pelas Leis dos 30 e 60 dias, que determinam a realização dos exames de detecção do câncer no prazo de 30 dias e o início do tratamento em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico positivo. Prevendo, também, a capacitação das equipes de saúde com o objetivo de garantir que todas as etapas do processo ocorram de forma orientada e personalizada.
Como a Lei entrou em vigor na data da sua publicação, cabe agora à Secretaria de Estado da Saúde desenvolver o Programa de Navegação de Pacientes e integrá-lo à Política Estadual de Atenção Oncológica. Apoiar a gestão pública no desenvolvimento de planos de adaptação às mudanças climáticas que considerem não apenas as demandas mais perceptíveis da sociedade, como o direito à vida e a moradia digna, mas também com um olhar mais atento aos cuidados contínuos com pacientes de alta complexidade é essencial.
Mitigar impactos tão diversos não é uma tarefa fácil, mas incentivar esse debate no Rio Grande do Sul é urgente, pois em menos de quatro anos passamos por desafios nunca antes vividos em tamanha dimensão. Precisamos aprender com as experiências vividas para que nossas políticas públicas ganhem robustez, considerando a saúde para além de sua infraestrutura e logística, a partir das necessidades do paciente.
Escutando a voz de nossos pacientes e especialistas, criamos condições para atuar com resiliência, de maneira sustentável ao longo dos anos, conscientizando e envolvendo pacientes, profissionais de saúde, poder público e sociedade.
Mastologista, chefe do serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento e presidente voluntária da Femama