Valny Giacomelli Sobrinho
A observação de ciclos econômicos é, decerto, tão antiga quanto a dos da agricultura. Não por acaso, a primeira teoria respeitável sobre eles associava-os aos ciclos solares. Segundo o economista britânico Stanley Jevons, que a propôs no final do século XIX, havia uma correlação impressionante da periodicidade das manchas solares (10, 45 anos) com as ondas de prosperidade e declínio dos negócios na Inglaterra, entre 1721 e 1878 (10, 46 anos). Os ciclos solares desencadeariam ciclos meteorológicos que alternariam fases de vacas gordas e de vacas magras, por assim dizer.
Embora desacreditada por muitos, a correlação dos ciclos solares com o desempenho econômico poderia ser invocada novamente hoje. As enchentes anormais que devastaram o Rio Grande do Sul coincidem com a ocorrência de violentas tempestades solares, tão atípicas que se avista a Aurora Boreal até mesmo em países mediterrâneos, como Portugal e Espanha!
Apesar disso, uma das falhas da teoria econômica dos ciclos solares é que correlação nem sempre indica causa e efeito, ao contrário do que reivindicam, por exemplo, as teses do aquecimento global para as emissões de carbono e o aumento da temperatura média da Terra. Assim como os economistas, os climatologistas não podem conduzir experimentos; só examinar correlações.
No mais, a mera existência de oscilações não define uma teoria de ciclos. A menos que eventos passados influenciem resultados futuros, os ciclos podem ser puramente aleatórios, como a alternância de caras e coroas nos lançamentos de uma moeda.
A propósito de moeda e coroa, a economia do Reino dos Países Baixos é, como a gaúcha, historicamente vulnerável a inundações. Embora o ponto mais alto dos Países Baixos tenha só 321 metros, a geografia de lá, como a da porção meridional do Estado, descreve terras planas, rasgadas por vários cursos d'água. Em 1953, depois de uma violenta tempestade, o Mar do Norte inundou o país e matou mais de 2,5 mil pessoas. A resposta imediata, de adaptação climática, foi um reforçado sistema de diques de proteção.
Com o Projeto Delta, os holandeses logo viraram referência mundial em gestão hídrica e urbana. Hoje, os pôlderes inscrevem, abaixo do nível do mar, um terço do território e dois terços da população. Por isso, reza a lenda que "Deus criou o mundo, mas os holandeses fizeram a Holanda". Na dúvida, antes do dilúvio, chamem os holandeses!
Professor associado do Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)