Jorge Avancini
Recentemente, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, decidiu contratar a empresa de consultoria norte-americana Alvarez & Marsal para desenvolver um plano de recuperação da capital gaúcha, fundamentando a contratação no decreto de estado de calamidade pública que permite dispensar processos licitatórios em meio a tragédias. Esta decisão, anunciada em 13 de maio, levanta preocupações sobre as oportunidades perdidas para profissionais e entidades de ensino do Rio Grande do Sul e do Brasil.
A Alvarez & Marsal atuará de forma voluntária por um período inicial de 30 dias. Entretanto, não há clareza sobre os custos que poderão ser impostos aos cofres públicos após esse período. Experiências anteriores com a empresa mostram que, em outros contextos, seus serviços custaram milhões de dólares e muitas vezes resultaram na privatização de serviços públicos e demissões em massa. A falta de clareza sobre os custos futuros são preocupações legítimas.
O Rio Grande do Sul e o Brasil possuem uma vasta gama de profissionais qualificados nas áreas de administração, engenharia, arquitetura e urbanismo, capazes de elaborar e implementar planos de recuperação eficientes e adaptados às necessidades locais. Instituições de ensino e pesquisa do Estado, como a Ufrgs e a Pucrs, possuem reconhecida expertise e poderiam contribuir significativamente para um projeto desta magnitude.
Além de subestimar a capacidade técnica local, a contratação de uma empresa estrangeira desconsidera o potencial de gerar emprego e renda para profissionais e empresas da região. Em momentos de crise, é essencial fortalecer a economia local, e isso começa por valorizar e empregar os talentos que já temos. A decisão do prefeito contraria essa lógica e reforça uma dependência externa desnecessária e possivelmente custosa.
A decisão do prefeito ignora a capacidade e a necessidade de envolver profissionais e instituições locais no processo de recuperação de Porto Alegre. É fundamental que as autoridades revejam esta decisão e considerem seriamente a mobilização de recursos humanos locais, garantindo que a recuperação da cidade seja feita por quem conhece e vive a realidade de Porto Alegre.
Presidente do Sindicato dos Administradores no Estado do Rio Grande Sul (Sindaergs)