Onde mora a esperança

Devastado, este é o sentimento, literalmente, do povo gaúcho perante o mês de maio. Um Maio que não sairá da cabeça dos gaúchos por muitos e muitos anos. Creio que não existe nenhum cidadão ileso nesta tormenta, pois quem não foi impactado diretamente, sofreu com os reflexos indiretos da enchente.

O mercado imobiliário é um setor de extrema importância para os municípios e foi bruscamente afetado. Em Porto Alegre, o Centro Histórico e os bairros que compõem o 4° Distrito - região que estava na mira de uma valorização imobiliária graças à retomada dos tempos áureos - se apoiavam na crença de que não haveria nova enchente como em 1941, fato que fomentou a debandada da vida urbana nesses locais.

Na Zona Norte da Capital, principalmente os bairros Sarandi, Humaitá, Vila Farrapos e outros, que ficam de fora da vitrine especulativa do mercado, precisarão de muita atenção. Carinho, investimento e prevenção são as palavras-chave para este processo de reconstrução. E afeto, lógica, para as pessoas que sofreram um golpe tão colossal como este, para algumas vítimas, fatal.

Acredito que não exista momento melhor para o mercado imobiliário se debruçar em soluções que contemplem todas as faixas sociais do que este. Melhorar bairros, fomentar negócios em regiões seguras, viáveis, sem a máxima do ganha ou perde, onde a balança pesa apenas para um lado, ou melhor, bolso.

É preciso criar soluções para facilitar acesso a financiamentos, regularização de moradias, aumentar a possibilidade de negócios em outras regiões da cidade, como as que não foram afetadas pela água. O mercado imobiliário precisa olhar para bairros como Partenon, Bom Jesus, bairros onde as atividades são prejudicadas pela falta de bens passíveis de financiamento.

O melhor aproveitamento de Porto Alegre passa pela possibilidade de olhar para toda a população que vive Porto Alegre. Chega de olhar apenas para os interesses dos construtores que vivem de explorar a cidade. Agora, mais do que nunca, podemos transformar as realidades através de um mercado imobiliário equilibrado, justo e agregador.