Paulo Ernesto Gewehr Filho
Nas últimas semanas, testemunhamos a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Dezenas de mortos e desaparecidos se somam a desalojados e desabrigados. E para além da preocupação primária de salvamento e abrigo aos afetados pelas chuvas, é preciso atentar a questões relacionadas à saúde pública. Uma das preocupações que cresce se refere à exposição prolongada às águas contaminadas e a possíveis ferimentos sofridos durante ações de evacuação e resgate.
Nessa situação excepcional que estamos vivenciando, doenças como leptospirose, tétano, hepatite A e raiva podem se tornar frequentes. A primeira, e mais comumente associada a cenários como o nosso atual, é transmitida pela urina de ratos. A bactéria que causa a doença consegue penetrar pela pele muito tempo exposta às águas contaminadas, por meio de feridas e também pela ingestão de água.
Com muitos sintomas parecidos com outras doenças que estão circulando atualmente, como dengue, Covid e gripe, a leptospirose exige uma avaliação médica individual e tratamento específico, feito com antibióticos - usados somente com prescrição. Se não tratada, a doença pode levar à morte, especialmente em grupos mais suscetíveis, como crianças, imunodeprimidos, idosos e gestantes. É preciso prestar atenção em sinais como febre, dor de cabeça, dor muscular, olhos vermelhos, náuseas e vômitos. Também pode haver icterícia (amarelão na pele e olhos), tosse seca, tosse com sangue, cansaço, calafrio, diarreia e dor nas articulações.
Sem vacina disponível, as medidas preventivas para evitar a leptospirose, especialmente no momento de retorno às residências onde as cheias cederam, é evitar o contato com a água das enchentes, lama e terra através do uso de equipamentos de proteção individual, como botas, luvas e macacões impermeáveis, e higienizar bem os utensílios e materiais que podem ter sido contaminados. Quem atua nas frentes de resgate deve, na medida do possível, se proteger. Fundamental, também, é consumir apenas água potável.
Além dessa enfermidade, a situação provocada pelas enchentes ainda pode causar hepatite A e gastroenterites. Também preocupam o tétano - causado por ferimentos - e a raiva - geralmente associada a mordidas de cães e gatos em situação de estresse durante as ações de salvamento. Diante de qualquer uma dessas situações a recomendação expressa é buscar atendimento médico para avaliação de medidas profiláticas.
Médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento