Karim Miskulin
"Governar é mais do que entreter o povo", eis uma estrofe da épica canção Don't cry for me Argentina. La Santa Peronista, Evita Perón, 71 anos depois da sua partida, não acreditaria no que se transformara aquele império do mundo que foi sua amada nação Argentina. Intuo que de onde está também não admitiria que o Peronismo fosse atribuído a um sobrenome de cunho ideológico, cujo fim é a insuficiência e a ruína coletiva.
Do auge da sua glória, a Argentina testemunhou seu potencial produtivo esfacelar-se, o dinheiro derreter e a pobreza tomar conta. E a sua economia, desde a década de 40, navega entre o medo, a incerteza e desfocada esperança. No último mês, a inflação dos 'hermanos' chegou a 12,7%.
A matemática de quem financia e de quem é financiado pelo Estado é desajuizada. Raciocinemos juntos: são 4,5 milhões de servidores públicos, 25 milhões de pessoas que recebem incentivo do governo e apenas 5,8 milhões de argentinos aportando recursos em impostos.
Qual o resultado dessa equação? Não por coincidência, uma nação com déficits insistentes há mais de uma década, alta dívida externa, moeda sem credibilidade e falta de dólares que fazem a inflação explodir. Hoje, a Argentina é um país refém. Refém da assistência social do governo, refém do Fundo Monetário Internacional, refém de um sistema que levou ao colapso.
O segundo turno das eleições do próximo dia 19 de novembro podem mudar o futuro? Arrisco o palpite que sim. O país não aguenta mais o derrotismo, e Sérgio Massa representa um passado de fracassos. Javier Milei é o nome da vez, mas pela intempestividade emocional e pela representação de mudanças drásticas, como acabar com o Banco Central e implementar a dolarização, tem gerado receios.
A vida na Argentina é com emoção, o que não dá o direito de ser triste. O resultado do primeiro turno, apesar da apertada vitória de Massa, aponta que a direita está consolidada no país. Por outro lado, uma grande ruptura representada por Milei faz os argentinos hesitarem.
Quiçá, Evita, desejasse exatamente isto: a vitória do desenvolvimento de um povo que não nasceu para sofrer. Que o sol dourado presente ao centro da bandeira azul dos hermanos possa resplandecer em uma pátria que não suporta mais sobreviver sob dias sombrios.
Cientista política e vice-presidente do Conselho Feminino da Fiesp