Empreender é entregar marketing. Marketing é satisfazer a necessidade de clientes com produtos de alto valor. Ter sucesso empresarial é atender essas necessidades para um grande número de clientes, a famosa "escala". Analisando mercados dentro e fora do Brasil, mas principalmente dentro tenho reparado num erro comum, o desenvolvimento de produtos que atingem grande complexidade e gama de soluções, mas que vão muito além do que o mercado em que atuam utiliza.
Vejamos o mercado brasileiro. O Brasil é um país notadamente de classes C e D. As duas representaram ano passado mais de 65% da venda online no Brasil. Se colocarmos junto a classe E o percentual chega a 82%. Também é de 82% o percentual das famílias brasileiras que ganham até R$ 3.000,00 mensais. Mais do que isso, o Brasil é um país de PMEs, ou ainda mais de MPEs (micro e pequenas). As MPEs representam 52% dos empregos no Brasil. Se colocarmos as médias juntos a taxa é de mais de 70%.
Ok, tem então claramente o mercado em que atuamos no Brasil. Um mercado de Classes C,D e E e de PMEs. Ponto. Grande. Aqui nós temos um grande problema. No mercado digital e no mercado de startups temos o olhar de referência voltado 100% para a Califórnia (6ª economia do mundo), especialmente o Vale do Silício. Muitas vezes este modelo não serve aqui.
A inovação tem uma coisa muito em comum com o Marketing. Começa pela pesquisa. Pesquisa de mercado, de hábito ou de consumo. Ou mesmo de usabilidade. Marketing é resolver problemas. Inovação também. Um novo produto será inovador e tomará lugar rapidamente no mercado se resolver problemas que seus concorrentes não resolveram. Somente na área de usabilidade (UX no inglês) há um universo maravilhoso para se trabalhar no Brasil. Um estudo bacana que abre grandes horizontes é analisar as classes C,D e E e o uso de smartphones. Um grande percentual dessas classes pulou o computador.
Ao desenvolver produtos para o mercado PME brasileiro que atende as classes C,D e E o empreendedor tem que ter um norte bem definido. Ele vai vender no Brasil. Aqui vale ressaltar mais uma obviedade. Seu ticket será baixo, mas o mercado de atuação será de milhões de empresas e milhões de consumidores. E isso é bom, é uma característica quase única brasileira. Aqui temos uma grande facilidade, no horizonte um faturamento diluído em milhares de clientes. O tal ticket médio baixo. Modelo ideal, mas nem sempre colocado como meta para o empreendedor. Quando seu ticket médio é muito baixo seu risco é pequeno. Quando sua empresa atua no segmento de grandes empresas X poucos clientes, sua companhia vira refém de um ticket médio alto. Pense num projeto popular, pense em inovar para o brasileiro. Pense pequeno. Será grande.