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Publicada em 24 de Março de 2025 às 16:42

Indústria gaúcha manifesta otimismo e prevê investimentos para 2025

Empresários destacaram perspectiva durante apresentação da pesquisa Marcas de Quem Decide 2025

Empresários destacaram perspectiva durante apresentação da pesquisa Marcas de Quem Decide 2025

Mauro Belo Schneider/Especial/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Depois de o Rio Grande do Sul ter enfrentado um dos maiores desastres naturais da sua história no ano passado com as enchentes, o setor industrial tem perspectivas positivas para 2025. A expectativa é que, mesmo ainda encarando algumas diversidades, o ano seja de aportes e crescimento do segmento.
Dentro desse cenário, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, admite que esperava que o Estado tivesse uma safra muito boa neste ano. “E não aconteceu isso”, lamenta o dirigente. Mesmo assim, ele prevê um ano positivo para o Rio Grande do Sul em função de vultosos investimentos que estão encaminhados, como o da CMPC. A companhia pretende desenvolver em Barra do Ribeiro o projeto Natureza, que prevê aporte de R$ 24 bilhões na construção de uma fábrica com capacidade para 2,5 milhões de toneladas de celulose ao ano.
Porém, na esfera nacional, o presidente da Fiergs manifesta preocupação quanto às elevações das taxas de juros, que podem, segundo ele, ocasionar algum atraso em investimentos. Bier enfatiza que a indústria e o setor produtivo não aguentam mais essa situação. “O remédio, quando é muito forte, mata o paciente e é o que está acontecendo”, alerta o dirigente. Ele frisa que, em um primeiro momento, essa medida tinha como intenção segurar a inflação, porém agora a estratégia tem sido nociva. Bier participou nesta segunda-feira (24) da apresentação da pesquisa Marcas de Quem Decide 2025, realizada na Fiergs, em Porto Alegre.
Uma das empresas que têm investido no Estado e prepara novas ações é a Fruki. A indústria de bebidas desembolsou R$ 130 milhões relacionados à ampliação da fábrica de Paverama, com 14 mil metros quadrados a mais de área construída em andamento, e à aquisição de nova linha de envase, que deverá estar completamente instalada em agosto, dobrando a capacidade produtiva da unidade de 200 milhões para 400 milhões de litros por ano, com envase de produtos de 500 ml, dois e três litros. Além disso, Lajeado receberá uma linha de envase de garrafas de água mineral de cinco litros. Somando as duas fábricas, a produção da empresa saltará para aproximadamente 820 milhões de litros por ano.
Sobre as perspectivas para o ano, a gerente de Relações Institucionais da Fruki Bebidas, Fabíola Eggers, se diz otimista. “Acho que o nosso Estado tem muito a crescer, apesar de todas as dificuldades", ressalta a executiva. Já o diretor administrativo e de marketing da empresa, Júlio Eggers, frisa que a companhia tem aproveitado o potencial da marca para inovar. Ele cita o exemplo de lançamentos recentes de novas embalagens e versões saborizadas da Água da Pedra, que ganharão ainda mais produtos neste ano.
Também na área de bebidas, o gerente de Mercados Especiais RS da Coca-Cola Femsa, João Batista Bernardi Neto, se diz entusiasmado com as perspectivas do Brasil. Uma prova disso são os aportes feitos pela empresa. “A nossa companhia, com o que aconteceu com a tragédia no Rio Grande do Sul, está investindo algo em torno de R$ 1 bilhão no Estado para recuperar a nossa fábrica (em Porto Alegre)”, frisa o dirigente.
Ele ressalta que a unidade ainda não voltou a operar na sua totalidade, o que deve ocorrer entre abril e maio. Um dos impactos da enchente, comenta o gerente de Mercados Especiais RS da Coca-Cola Femsa, foi ocasionar a falta de alguns produtos nas gôndolas de supermercados. “Este final de semana foi a primeira produção, depois de dez meses, de Coca-Cola zero, de 200 ml, e Coca-Cola sem açúcar, 600 ml”, cita como exemplo Bernardi Neto.
A GM, que tem planta em Gravataí, também desenvolve novos planos no Rio Grande do Sul. “Anunciamos no ano passado, mesmo com as chuvas, mesmo com as enchentes, novos investimentos”, salienta a gerente de Relações Públicas e Governamentais na General Motors e Conselheira do Comitê ESG GM América do Sul, Daniela Kraemer. Em 2024, a companhia divulgou investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão no aprimoramento da unidade de Gravataí e a meta de produzir um novo modelo a partir de 2026. Ela acrescenta que em 2025 serão completados 100 anos da GM Chevrolet no Brasil e 25 anos da fábrica no Rio Grande do Sul.
Já o presidente da Stihl Brasil, Cláudio Guenther, afirma que este ano está sendo uma grande surpresa para a companhia, que tem uma previsão de crescimento de 25% do seu faturamento, que normalmente gira em torno de R$ 3 bilhões. A empresa produz no Estado máquinas como motosserras, roçadeiras, pulverizadores e sopradores, entre outras. “Estamos crescendo muito”, comemora Guenther. Ele lembra que em 2008 o faturamento era na casa de R$ 500 milhões.
No entanto, o dirigente admite algum receio com a política da taxa de juros que pode baixar o poder aquisitivo da população e desestimular a compra de produtos. Outra dificuldade é a falta de mão de obra. Ele enfatiza que a companhia está em um período de contratação já tendo empregado neste ano cerca de 250 pessoas. Guenther adianta ainda que há planos para a unidade da empresa em São Leopoldo de trocar o uso do gás natural fóssil por biometano (feito de matéria orgânica), assim como aumentar em torno de 30% a produção de motores da planta até 2030.

Segmento de energia projeta construção de novas usinas no Estado

Na área de energia, o diretor do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Guilherme Sari, considera que 2025 será um período de muita visibilidade para o setor. “Entre este ano e 2027, esperamos muitas construções (de usinas) no Estado”, antecipa o dirigente. Ele aponta projetos eólicos e de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) como os empreendimentos que devem se destacar.
Uma associação que tem projetos a serem desenvolvidos, futuramente, na área hídrica e eólica é a cooperativa de infraestrutura Certel. “A Certel está com planos de geração de energia elétrica na eclusa de Bom Retiro (no rio Taquari), para mais de 100 mil pessoas, e também uma planta eólica, próxima de Teutônia, para gerar energia para em torno de 140 mil pessoas”, detalha o presidente da Certel, Erineo José Hennemann.
O investimento na hidrelétrica é estimado em cerca de R$ 350 milhões e na eólica R$ 400 milhões. A primeira usina é projetada para 35 MW de capacidade e a segunda em torno de 40 MW. Segundo ele, o País está demonstrando que a energia limpa e renovável é importante.
Na área de distribuição, o diretor-executivo da RGE, Ricardo Dalan de Vargas, comenta que o setor começou o ano com desafios intensos ainda no tema climático, como as ondas de calor em fevereiro, colocando o sistema elétrico no limite, e demonstrando que os investimentos já realizados em robustez da rede foram fundamentais para suportar essa adversidade. “O setor precisa entender que a qualidade do serviço prestado é algo que cada vez mais terá alto nível de exigência de nossos clientes”, salienta o dirigente.
No campo logístico, o vice-presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) e presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Fetransul), Francisco Cardoso, aponta como uma preocupação nessa área a questão de como ficará a nova concessão do Polo Rodoviário de Pelotas. O contrato atual, da Ecosul (hoje rebatizada como Ecovias Sul), encerra em março de 2026.
Outro ponto salientado por Cardoso é a revisão do projeto de concessão de rodovias para o Bloco 2 na região do Vale do Taquari e Norte do Estado. “Para se ter uma tarifa de pedágio mais competitiva”, argumenta o dirigente. O chamado Bloco 2 abrange 32 municípios gaúchos, tem um total de 414,91 quilômetros de extensão e é composto por sete estradas (ERS-128, ERS-129, ERS-130, ERS-135, ERS-324, RSC-453 e BR-470).
Já sobre a conjuntura econômica, o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), Celestino Loro, enfatiza que o receio das indústrias da Serra gaúcha está concentrado no segundo semestre. "É um ano que está com uma taxa de juros muito elevada e para uma região que é extremamente dependente da fabricação de bens de capital isso é muito sensível", aponta o dirigente.

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