Depois de o Rio Grande do Sul ter enfrentado um dos maiores desastres naturais da sua história no ano passado com as enchentes, o setor industrial tem perspectivas positivas para 2025. A expectativa é que, mesmo ainda encarando algumas diversidades, o ano seja de aportes e crescimento do segmento.
Dentro desse cenário, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, admite que esperava que o Estado tivesse uma safra muito boa neste ano. “E não aconteceu isso”, lamenta o dirigente. Mesmo assim, ele prevê um ano positivo para o Rio Grande do Sul em função de vultosos investimentos que estão encaminhados, como o da CMPC. A companhia pretende desenvolver em Barra do Ribeiro o projeto Natureza, que prevê aporte de R$ 24 bilhões na construção de uma fábrica com capacidade para 2,5 milhões de toneladas de celulose ao ano.
Porém, na esfera nacional, o presidente da Fiergs manifesta preocupação quanto às elevações das taxas de juros, que podem, segundo ele, ocasionar algum atraso em investimentos. Bier enfatiza que a indústria e o setor produtivo não aguentam mais essa situação. “O remédio, quando é muito forte, mata o paciente e é o que está acontecendo”, alerta o dirigente. Ele frisa que, em um primeiro momento, essa medida tinha como intenção segurar a inflação, porém agora a estratégia tem sido nociva. Bier participou nesta segunda-feira (24) da apresentação da
pesquisa Marcas de Quem Decide 2025, realizada na Fiergs, em Porto Alegre.
Uma das empresas que têm investido no Estado e prepara novas ações é a Fruki. A indústria de bebidas desembolsou R$ 130 milhões relacionados à ampliação da fábrica de Paverama, com 14 mil metros quadrados a mais de área construída em andamento, e à aquisição de nova linha de envase, que deverá estar completamente instalada em agosto, dobrando a capacidade produtiva da unidade de 200 milhões para 400 milhões de litros por ano, com envase de produtos de 500 ml, dois e três litros. Além disso, Lajeado receberá uma linha de envase de garrafas de água mineral de cinco litros. Somando as duas fábricas, a produção da empresa saltará para aproximadamente 820 milhões de litros por ano.
Sobre as perspectivas para o ano, a gerente de Relações Institucionais da Fruki Bebidas, Fabíola Eggers, se diz otimista. “Acho que o nosso Estado tem muito a crescer, apesar de todas as dificuldades", ressalta a executiva. Já o diretor administrativo e de marketing da empresa, Júlio Eggers, frisa que a companhia tem aproveitado o potencial da marca para inovar. Ele cita o exemplo de lançamentos recentes de novas embalagens e versões saborizadas da Água da Pedra, que ganharão ainda mais produtos neste ano.
Também na área de bebidas, o gerente de Mercados Especiais RS da Coca-Cola Femsa, João Batista Bernardi Neto, se diz entusiasmado com as perspectivas do Brasil. Uma prova disso são os aportes feitos pela empresa. “A nossa companhia, com o que aconteceu com a tragédia no Rio Grande do Sul, está investindo algo em torno de R$ 1 bilhão no Estado para recuperar a nossa fábrica (em Porto Alegre)”, frisa o dirigente.
Ele ressalta que a unidade ainda não voltou a operar na sua totalidade, o que deve ocorrer entre abril e maio. Um dos impactos da enchente, comenta o gerente de Mercados Especiais RS da Coca-Cola Femsa, foi ocasionar a falta de alguns produtos nas gôndolas de supermercados. “Este final de semana foi a primeira produção, depois de dez meses, de Coca-Cola zero, de 200 ml, e Coca-Cola sem açúcar, 600 ml”, cita como exemplo Bernardi Neto.
A GM, que tem planta em Gravataí, também desenvolve novos planos no Rio Grande do Sul. “Anunciamos no ano passado, mesmo com as chuvas, mesmo com as enchentes, novos investimentos”, salienta a gerente de Relações Públicas e Governamentais na General Motors e Conselheira do Comitê ESG GM América do Sul, Daniela Kraemer. Em 2024, a companhia divulgou investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão no aprimoramento da unidade de Gravataí e a meta de produzir um novo modelo a partir de 2026. Ela acrescenta que em 2025 serão completados 100 anos da GM Chevrolet no Brasil e 25 anos da fábrica no Rio Grande do Sul.
Já o presidente da Stihl Brasil, Cláudio Guenther, afirma que este ano está sendo uma grande surpresa para a companhia, que tem uma previsão de crescimento de 25% do seu faturamento, que normalmente gira em torno de R$ 3 bilhões. A empresa produz no Estado máquinas como motosserras, roçadeiras, pulverizadores e sopradores, entre outras. “Estamos crescendo muito”, comemora Guenther. Ele lembra que em 2008 o faturamento era na casa de R$ 500 milhões.
No entanto, o dirigente admite algum receio com a política da taxa de juros que pode baixar o poder aquisitivo da população e desestimular a compra de produtos. Outra dificuldade é a falta de mão de obra. Ele enfatiza que a companhia está em um período de contratação já tendo empregado neste ano cerca de 250 pessoas. Guenther adianta ainda que há planos para a unidade da empresa em São Leopoldo de trocar o uso do gás natural fóssil por biometano (feito de matéria orgânica), assim como aumentar em torno de 30% a produção de motores da planta até 2030.
Segmento de energia projeta construção de novas usinas no Estado
Na área de energia, o diretor do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Guilherme Sari, considera que 2025 será um período de muita visibilidade para o setor. “Entre este ano e 2027, esperamos muitas construções (de usinas) no Estado”, antecipa o dirigente. Ele aponta projetos eólicos e de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) como os empreendimentos que devem se destacar.
Uma associação que tem projetos a serem desenvolvidos, futuramente, na área hídrica e eólica é a cooperativa de infraestrutura Certel. “A Certel está com planos de geração de energia elétrica na eclusa de Bom Retiro (no rio Taquari), para mais de 100 mil pessoas, e também uma planta eólica, próxima de Teutônia, para gerar energia para em torno de 140 mil pessoas”, detalha o presidente da Certel, Erineo José Hennemann.
O investimento na hidrelétrica é estimado em cerca de R$ 350 milhões e na eólica R$ 400 milhões. A primeira usina é projetada para 35 MW de capacidade e a segunda em torno de 40 MW. Segundo ele, o País está demonstrando que a energia limpa e renovável é importante.
Na área de distribuição, o diretor-executivo da RGE, Ricardo Dalan de Vargas, comenta que o setor começou o ano com desafios intensos ainda no tema climático, como as ondas de calor em fevereiro, colocando o sistema elétrico no limite, e demonstrando que os investimentos já realizados em robustez da rede foram fundamentais para suportar essa adversidade. “O setor precisa entender que a qualidade do serviço prestado é algo que cada vez mais terá alto nível de exigência de nossos clientes”, salienta o dirigente.
No campo logístico, o vice-presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) e presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Fetransul), Francisco Cardoso, aponta como uma preocupação nessa área a questão de como ficará a nova concessão do Polo Rodoviário de Pelotas. O contrato atual, da Ecosul (hoje rebatizada como Ecovias Sul), encerra em março de 2026.
Outro ponto salientado por Cardoso é a revisão do projeto de concessão de rodovias para o Bloco 2 na região do Vale do Taquari e Norte do Estado. “Para se ter uma tarifa de pedágio mais competitiva”, argumenta o dirigente. O chamado Bloco 2 abrange 32 municípios gaúchos, tem um total de 414,91 quilômetros de extensão e é composto por sete estradas (ERS-128, ERS-129, ERS-130, ERS-135, ERS-324, RSC-453 e BR-470).
Já sobre a conjuntura econômica, o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), Celestino Loro, enfatiza que o receio das indústrias da Serra gaúcha está concentrado no segundo semestre. "É um ano que está com uma taxa de juros muito elevada e para uma região que é extremamente dependente da fabricação de bens de capital isso é muito sensível", aponta o dirigente.