Na Campanha, a ideia de explorar o turismo como aliado da produção de vinhos já nasceu com as propriedades. "Desde o início, pensamos que, além do vinho, queríamos potencializar o turismo. Hoje, o enoturismo responde por 25% do faturamento da propriedade. A harmonia com os elementos da natureza, a cultura campeira e a harmonização entre o vinho produzido aqui na Campanha e a carne também daqui são diferenciais. E fazemos questão de termos a nossa família recebendo os turistas", explica a proprietária da Vinícola Guatambu, Gabriela Pötter.
Uma vez por mês, a vinícola de Dom Pedrito promove o "dia épico", com até 110 pessoas que fazem um tour detalhado pela produção do vinho, com muita música e comida campeiras. Saem da Guatambu 24 rótulos de vinhos, que são produzidos e industrializados na propriedade inaugurada em 2013 – já eram produzidos vinhos antes mesmo da inauguração do prédio.
"Temos percebido que o cliente do vinho é muito bem informado, e valoriza o fato de termos ações sustentáveis, que são uma necessidade para nos adaptarmos às mudanças climáticas, mas também um diferencial no mercado. Valoriza ainda mais a nossa terra", comenta Gabriela.
Hoje administrada por três mulheres, a fazenda pertence à família há 65 anos, desde o avô de Gabriela. Tinha a pecuária como principal atividade e ainda hoje mantém a produção integrada entre as uvas, soja, arroz, milho e a pecuária. Há quatro anos, foram adotadas ações de agricultura regenerativa na propriedade, com o cultivo aliado à recuperação do ambiente natural do Pampa.
Em dois hectares, foi iniciado o cultivo do vinhedo orgânico. "A produção reduz, mas nós seguimos buscando cada vez mais o equilíbrio ambiental na produção", diz a empresária.
Pois o turismo nesta região do Estado também é um potencial aliado importante na sustentabilidade da produção de azeites. Hoje, ficam entre a Campanha e a Fronteira Oeste 80% da produção dos olivais gaúchos. Mas no Estado que tem 80 marcas de azeites, apenas 10 produtores têm o olivoturismo ativo em suas propriedades.
De acordo com o presidente da Ibraoliva, Ricardo Fernandes, em todo o Estado, estima-se em 500 mil pessoas por ano atraídas pelo turismo do azeite. Na Vila Segredo, por exemplo, que é a propriedade de Fernandes, em Caçapava do Sul, a lotação das hospedagens quase dobrou desde o ano passado, e ele pensa em investir para ampliar o número de quartos na sede do empreendimento.
Em Candiota, o modelo do turismo associado à olivicultura tende a dar um salto a partir de 2025. É para quando está prevista a inauguração do Terroir 31, o empreendimento que recebeu R$ 50 milhões em investimentos do empresário Luiz Eduardo Batalha, que produz o Azeite Batalha. Junto ao lagar (produção industrial de azeite), já estão na fase de obras de infraestrutura um hotel com 40 cabanas e um condomínio com 52 terrenos para residências dentro da Estância Batalha do Seival.
A experiência incluirá o lagar, praticamente na recepção do hotel e, nos pátios das futuras casas do condomínio, oliveiras, de onde sairão as olivas para que cada família possa produzir o seu futuro azeite usando a estrutura da empresa. E para turistas vindos de outros estados ou países, o empresário anuncia ainda que haverá um avião particular para agendamentos.
Também em Candiota, a família Buchabqui, que já produz azeite em Pinheiro Machado, anunciou no ano passado investimentos de R$ 20 milhões para erguer uma fábrica de azeites e, em uma segunda etapa, um restaurante e uma pousada em uma área de 18 hectares.
O município da Campanha terá o potencial para ser uma vitrine da integração turística entre as culturas do vinho e do azeite. Também em Candiota está a Bueno Wines, de propriedade de Galvão Bueno, que já têm o turismo como um elemento rentável na produção.
Guatambu usa defensivos biológicos e adota práticas sustentáveis
Entre as experiências sustentáveis colocadas em prática na Vinícola Guatambu, em Dom Pedrito, está uma biofábrica, onde são pesquisados e desenvolvidos micro-organismos para ajudarem na criação de defesas às plantas da propriedade. O uso de defensivos biológicos desenvolvidos naturalmente faz parte, segundo a proprietária, Gabriela Pötter, da meta de evitar ao máximo o uso de produtos químicos na produção.
O desenvolvimento de defensivos menos agressivos à natureza são uma tendência, que resulta no aumento da capacidade das plantas de reterem carbono e de produzirem mais em áreas modificadas menores. Já tem rendido frutos no Estado. Se a produção agrícola – que não inclui a pecuária – emitiu 22,8 milhões de toneladas de gases do efeito em 2022 no Rio Grande do Sul, conforme o relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, já naquele ano, foram retidas 15,3 milhões de toneladas entre a preservação e recuperação de solos.