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Publicada em 04 de Outubro de 2024 às 18:55

Eventos climáticos extremos desafiam produções de vinhos

Cultura da uva na Campanha reduziu em 40% a produtividade em 2024

Cultura da uva na Campanha reduziu em 40% a produtividade em 2024

Guatambu/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Mesmo com longos períodos de estiagem, nos últimos anos as culturas da uva e de azeitonas prosperaram, especialmente entre as regiões da Campanha e Fronteira Oeste. Mas os desafios com extremos de clima, que agora incluíram também vendavais, tempestades e cheias, criaram uma nova necessidade de investimentos para que os dois setores produtivos que despontaram como grandes oportunidades se adaptem o mais rápido possível.
Mesmo com longos períodos de estiagem, nos últimos anos as culturas da uva e de azeitonas prosperaram, especialmente entre as regiões da Campanha e Fronteira Oeste. Mas os desafios com extremos de clima, que agora incluíram também vendavais, tempestades e cheias, criaram uma nova necessidade de investimentos para que os dois setores produtivos que despontaram como grandes oportunidades se adaptem o mais rápido possível.
E a perspectiva é de que nos próximos anos, especialmente a partir de 2026, as culturas agrícolas das regiões da Fronteira Oeste e Campanha tenham aliados importantes na infraestrutura para a irrigação das lavouras. Entre investimentos estaduais e federais, são previstos mais de R$ 300 milhões para finalizar os projetos das barragens de Taquarembó, entre Dom Pedrito e Lavras do Sul, Jaguari, entre Lavras do Sul e São Gabriel, e Arvorezinha, em Bagé.
A estimativa é de que, somente entre Jaguari e Taquarembó, seja possível garantir 117 mil hectares irrigados – mais do que o dobro dos atuais 51 mil hectares entre Rosário do Sul, São Gabriel, Lavras do Sul e Dom Pedrito –, com 238 milhões de metros cúbicos em capacidade de água armazenada. Já o investimento da barragem de Arvorezinha ainda terá a importância de garantir o abastecimento de água à população da região.
É neste cenário que a Miolo mantém 450 mil hectares de cultivo de uva em Santana do Livramento, na Vinícola Almadén, e outros 200 na Vinícola Seival, na Campanha, em Candiota. Em ambas as lavouras, o investimento em irrigação já é uma realidade para garantir o equilíbrio na produção.
"É uma região mais plana, tem um terroir diferente e exige um manejo bem diferente do que temos, por exemplo, na Serra. Temos verificado, especialmente entre a Fronteira e a Campanha, o clima com tendência de muita seca. A cada dez anos, são seis ou sete mais secos, então, o investimento em irrigação é necessário e já operamos”, diz o diretor superintendente da Miolo Wine Group, Adriano Miolo.
Como resultado da produção entre as duas vinícolas, anualmente a Miolo processa 5,3 milhões de litros de vinhos. E em expansão. Neste ano, a empresa investe em novos plantios, que devem aumentar em 30 hectares a área de cultivo na Almadén, e em aumento na mecanização da colheita e do processamento também na Seival.

Produtores Campanha buscam uvas mais resistentes

Em 2024, por exemplo, depois de cinco excelentes safras em oito anos, os produtores de uvas da Campanha experimentaram uma redução que chegou a 40% da produtividade. No entanto, os relatos apontam alta qualidade nos futuros vinhos que resultarão das uvas mais resistentes.
De acordo com o presidente da Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha, Pedro Candelária, o padrão do vinho mantém-se, mesmo que para isso tenha sido preciso colher menos. A prioridade, ele salienta, está na qualidade do vinho já reconhecido desde 2020 com o selo de identificação geográfica da região. A associação reúne 19 vinícolas locais e 267 rótulos reconhecidos.
"Os grandes vinhos são feitos justamente a partir do estresse das plantas, especialmente à falta de chuva, mas o que percebemos é que a frequência mais acelerada de eventos extremos, a partir das mudanças climáticas que vieram para ficar, nos obrigarão cada vez mais a antecipar movimentos. Precisamos monitorar o nível de estresse das plantas e, para isso, sabermos qual o déficit de água que ela terá é essencial. Exigirá maiores investimentos dos produtores não apenas no manejo, mas em tecnologia para a lavoura", explica o coordenador do curso de Enologia da Unipampa, Marcos Gabbardo.
Segundo o especialista, que presta acompanhamento técnico aos produtores da Associação Vinhos da Campanha, a irrigação, e principalmente a ciência para a produção serão palavras-chave nos próximos anos aos vinhedos da região. Hoje, há até 1,7 mil hectares de vinhedos plantados na Campanha. E há ainda os campos experimentais da Unipampa, onde são produzidas 90 cultivares sendo testadas justamente em relação ao clima.
"A Campanha é muito ampla, são mais de quatro milhões de hectares na região, e com mudanças climáticas específicas. Em relação ao vinho, podemos dizer que, com o provável maior aquecimento, teremos nos próximos anos maior teor alcoólico na bebida, mas tudo dependerá da forma como se controlará esses eventos climáticos", diz Gabbardo.
E ele exemplifica: "O verão bem seco, somado ao frio de janeiro, reduziu a produtividade, mas aumentou a qualidade para vinhos brancos e tintos. Agora, no próximo ciclo, temos a previsão de La Niña. E temos ainda aspectos como o vento e o sol, que tornam as consequências dos eventos climáticos diferentes aqui em relação à Serra, por exemplo, enquanto o vento, que é único daqui, impede que a umidade da chuva em excesso produza fungos nas plantas, a maior incidência de sol pode provocar queimaduras na planta. Então, o bom trabalho com a irrigação, evitando também desfolhar as plantas, será importante para fazer com que a videira não produza em muita quantidade, mas com qualidade".
Gabbardo acompanha a produção vitivinícola na Campanha desde a sua retomada, e não tem dúvida de que o atual ciclo foi o mais desafiador para os produtores locais. Ainda assim, ele aposta em aumento de qualidade na produção futura: "Hoje o vinho brasileiro tem sido muito desafiado pelos argentinos, por exemplo. Aqui na região temos o produto mais parecido com essa qualidade."
Preocupada com isso, a Salton, por exemplo, desenvolveu um estudo próprio, em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mapeando o solo e as vulnerabilidades, com indicações técnicas sobre a fertilização e manejo para os seus produtores na região da Campanha Gaúcha. A região é considerada estratégica na meta da vinícola de chegar a R$ 1 bilhão de faturamento em 2030 _ quase o dobro dos atuais R$ 567 milhões - com seus vinhos e espumantes.
A produção do vinho da Campanha Gaúcha, que tem o selo de indicação geográfica desde 2020, conta com 19 vinícolas e 267 rótulos reconhecidos.
Dados da Secretaria Estadual da Agricultura apontam que, em 2023, Santana do Livramento e Candiota figuram entre os dez maiores produtores de vinhos finos do Estado. Somente entre os dois municípios, foram 5,2 milhões de litros engarrafados no ano passado.

A produção de uva e vinho

Maiores produtores de vinhos finos nas regiões
* Santana do Livramento (3º no RS)
* Candiota (6º no RS)
* Dom Pedrito
* Bagé
* Santa Margarida do Sul
Fonte: Secretaria da Agricultura 2023

Maiores produtores de uvas nas regiões
* Santana do Livramento
* Encruzilhada do Sul
* Quaraí
* Candiota
* Pinheiro Machado
Fonte: Secretaria da Agricultura 2024

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