{{channel}}
Tradição e tecnologia valorizam o gado criado no Pampa gaúcho
Alegrete é o município com o maior número de cabeças de gado em todo o Rio Grande do Sul
Por Eduardo Torres
Não há quem nunca tenha ouvido falar sobre a tradição da pecuária e a qualidade do gado que é criado no Pampa Gaúcho. Não por acaso, 70% da produção de gado de corte do Estado é concentrada entre o Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste. Então, por que não vender ao mundo esta genética única?
Continue sua leitura, escolha seu plano agora!
Já é assinante? Faça login
Não há quem nunca tenha ouvido falar sobre a tradição da pecuária e a qualidade do gado que é criado no Pampa Gaúcho. Não por acaso, 70% da produção de gado de corte do Estado é concentrada entre o Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste. Então, por que não vender ao mundo esta genética única?
Foi o que a Clarissa Lopes, CEO do Grupo Pitangueira, em Itaqui, na Fronteira Oeste, percebeu e tratou de tornar o carro-chefe de um dos grupos rurais mais bem sucedidos da região. Hoje, a genética, seja com a comercialização de sêmen ou de reprodutores, responde por pelo menos 20% do faturamento do grupo e é uma opção crescente aos pecuaristas do Pampa.
"A agropecuária hoje é uma empresa. Precisa ser sustentável, e o gado do Pampa é diferenciado. É criado sem confinamento e com uma qualidade de pasto única. Temos hoje 12 mil cabeças registradas, todas rastreadas, e o consumidor, seja da carne ou da genética, sabe exatamente todo o histórico de cada animal. É uma exigência cada vez maior do mercado internacional, mas são aspectos que deveriam ser mais reconhecidos nas gôndolas", comenta a empresária.
Segundo ela, 75% da produção de gado da propriedade é destinada ao corte, mas o cuidado com a genética acontece em todo o rebanho. Uma vaca, por exemplo, é acompanhada com exames de ultrassom, acompanhamento do padrão de gordura, conversão alimentar e até mesmo a detecção de probabilidade de doenças enquanto está prenhe, como a predisposição a carrapatos. Todos os dados são compilados em conjunto com a Embrapa e a Ufrgs, que avaliam em laboratório cada item da genética dos animais.
"Hoje, conhecemos mais da vida da nossa vaca do que da nossa. Com essa combinação de fatores, estamos garantindo muita tecnologia embarcada no touro. Este valor agregado dá equilíbrio ao grupo, por exemplo, para plantarmos o arroz na hora certa", explica ela.
Há 80 anos a família produz em Itaqui. Há 35 anos, a partir da criação da raça Nelore, fizeram os primeiros cruzamentos com fêmeas Hereford e passaram a vender os reprodutores. Hoje, o Grupo Pitangueira é o maior vendedor de Braford do Brasil.
E se os animais garantem o lucro da porteira para fora, no lado de dentro, a rotação de solo para a produção mais sustentável de arroz é feita com a pastagem.
"Com dois anos de pastagens, o terreno está limpo para o arroz. Com isso reduzimos a área de plantio em mais de 80%, mas com maior produtividade e menor impacto ambiental", comenta Clarissa.
A pecuária no RS
* Em 2023, o Rio Grande do Sul abateu 1,7 milhão de bovinos, e 70% da produção entre o Sul, Campanha e Fronteira Oeste
* Somente 0,2% dos animais abatidos hoje recebem o selo de procedência de Carne do Pampa
* A região tem 10 frigoríficos filiados ao Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do RS
* Somente 0,2% dos animais abatidos hoje recebem o selo de procedência de Carne do Pampa
* A região tem 10 frigoríficos filiados ao Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do RS
Maiores rebanhos
* Alegrete 572.008 cabeças
* Santana do Livramento 531.504 cabeças
* Uruguaiana 363.453 cabeças
* Dom Pedrito 333.050 cabeças
* Rosário do Sul 304.349 cabeças
* Santana do Livramento 531.504 cabeças
* Uruguaiana 363.453 cabeças
* Dom Pedrito 333.050 cabeças
* Rosário do Sul 304.349 cabeças
Fonte: IBGE 2022
Com campo tratado, a produção é mais limpa
É com muito desenvolvimento de pesquisa aliada ao campo que o setor pecuário tem atuado para reverter a má fama que os dados dos relatórios de emissões de gases do efeito estufa reforçam. Conforme o levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, mais de 24 milhões de toneladas de gases foram lançadas ao meio ambiente a partir da fermentação entérica e do manejo de dejetos animais no Rio Grande do Sul em 2022. Em Alegrete, por exemplo, onde há o maior rebanho bovino gaúcho, foram 1,07 milhão de tonelada, no entanto, quase 700 mil toneladas foram retidas com a recuperação de vegetação nativa na mesma localidade.
O crescimento das ações para a captura de carbono até que a produção pecuária torne-se neutra e lucrativa aos produtores é resultado direto das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa no bioma Pampa.
"O Pampa é naturalmente campestre, uma condição extremamente favorável ao gado. Há uma diversidade enorme de forrageiras nativas que hoje são cultivadas e servem de alimento para o gado, que não é confinado, portanto, requer menos uso de energia e age como recuperador de solo, como sequestrador de carbono. Se tivéssemos essa mesma pastagem, sem os ruminantes, não teríamos o mesmo potencial de sequestro de carbono", assegura o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Danilo Sant'Anna.
"O Pampa é naturalmente campestre, uma condição extremamente favorável ao gado. Há uma diversidade enorme de forrageiras nativas que hoje são cultivadas e servem de alimento para o gado, que não é confinado, portanto, requer menos uso de energia e age como recuperador de solo, como sequestrador de carbono. Se tivéssemos essa mesma pastagem, sem os ruminantes, não teríamos o mesmo potencial de sequestro de carbono", assegura o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Danilo Sant'Anna.
A instituição tem desenvolvido, por exemplo, a intensificação do manejo de forrageiras nativas e também a inserção de forrageiras exóticas como forma de manutenção da cobertura do solo, com altura de pasto. Chega-se, por exemplo, a ter até 30 espécies por metro quadrado, algo que só é possível no Pampa. Estão em fase de desenvolvimento pesquisas para melhoramento de sementes de forrageiras nativas, mais resilientes, que garantirão ainda maior capacidade de reter gases do efeito estufa, pela altura e característica do pasto.
"Quanto mais diverso esse ambiente de campo, melhor para a natureza. O gado criado no Pampa não desmata, valoriza o solo para outras culturas como o arroz e é o melhor exemplo de conservação sob uso", afirma o especialista.
Para reforçar o trabalho de redução da pegada de carbono do setor, a Embrapa Pecuária Sul lançou na Expointer deste ano o sistema CarbonGado. É um aplicativo disponibilizado aos produtores da região com uma calculadora inovadora para a estimativa e mitigação da emissão de gases do efeito estufa do rebanho bovino de corte em todas as suas etapas. O sistema foi desenvolvido a partir de um algoritmo elaborado em parceria entre a Embrapa e a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), que estabelece a conexão entre os indicadores das fazendas e as emissões de gases.
De acordo com o pesquisador responsável pelo projeto, Vinícius Lampert, entre as vantagens da calculadora está a possibilidade de identificar in loco os indicadores zootécnicos com maior potencial para mitigar as emissões e promover uma pecuária mais sustentável.
Entram no cálculo fatores como a taxa de desmame, idade do abate, idade do acasalamento, mortalidade, peso, categoria de animais nas diferentes épocas do ano, suplementação usada, tipos e qualidade da pastagem usada na propriedade e uso ou não de adubação nitrogenada. São identificadas a produtividade da propriedade, e a partir daí, a emissão equivalente ao peso do bovino produzido.
Padrão ainda pouco reconhecido
Sant'Anna está à frente, desde o início, em 2006, do processo de reconhecimento, com um selo de indicação de procedência da Carne do Pampa. Entre as condições para que a carne receba o certificado é de que o gado tenha sido criado no bioma e a industrialização da carne tenha acontecido no Rio Grande do Sul. Hoje, quase 20 anos depois de obtido o reconhecimento, o frigorífico Santa Fé Alimentos é o único que centraliza essa produção.
De acordo com a Associação dos Produtores do Pampa Meridional do RS (Apropampa), o programa ainda é considerado pequeno. São processadas entre 200 e 300 carcaças por mês.
"Nossos maiores obstáculos são a divulgação da qualidade que temos aqui. O bovino é um animal nobre, que transforma o pasto em proteína de alta qualidade alimentar. Extrai muito pouco do solo, ajuda a preservar o bioma Pampa e é extremamente resiliente às mudanças repentinas do clima", comenta o presidente da Apropampa, Custódio Magalhães.
"Nossos maiores obstáculos são a divulgação da qualidade que temos aqui. O bovino é um animal nobre, que transforma o pasto em proteína de alta qualidade alimentar. Extrai muito pouco do solo, ajuda a preservar o bioma Pampa e é extremamente resiliente às mudanças repentinas do clima", comenta o presidente da Apropampa, Custódio Magalhães.
Danilo Sant'Anna corrobora o dirigente: "O consumidor está ávido por essa informação. Hoje, mais de 50% da carne consumida no Estado vem do Norte e Centro Oeste, mas o consumidor sabe que aqui temos tantos diferenciais e carne de alta qualidade, justamente por causa do pasto e da forma de manejo? Nosso foco é valorizar a produção pecuária e a indústria gaúcha. Quando o consumidor ligar o produto com a região, será atraído até mesmo ao turismo e a outros aspectos que o levem ao Pampa".