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Publicada em 26 de Setembro de 2024 às 20:41

Arroz mais sustentável atrai investimentos da indústria à Região Sul do RS

Rio Grande do Sul produz 70% do arroz que é consumido no Brasil

Rio Grande do Sul produz 70% do arroz que é consumido no Brasil

Cleiton Ramão/IRGA/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Mesmo com a tragédia ambiental que afetou o Estado em maio, a safra de arroz chegou ao resultado esperado. Foram colhidos 7,16 milhões de toneladas do cereal – redução de apenas 1% em relação ao ano anterior –, sendo mais de 75% da produção entre as regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste. As perdas, estimadas em 5,2% das áreas semeadas, concentraram-se na faixa central do Estado.
Mesmo com a tragédia ambiental que afetou o Estado em maio, a safra de arroz chegou ao resultado esperado. Foram colhidos 7,16 milhões de toneladas do cereal – redução de apenas 1% em relação ao ano anterior –, sendo mais de 75% da produção entre as regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste. As perdas, estimadas em 5,2% das áreas semeadas, concentraram-se na faixa central do Estado.
No entanto, a certeza de que mudanças climáticas, somadas à marca que o cultivo histórico do grão deixa ao meio ambiente – a cultura do arroz no Estado representa 17% das emissões do setor agropecuário gaúcho – têm estimulado cada vez mais o setor de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). E os resultados são promissores. Entre 2021 e 2022, por exemplo, a partir da aplicação de sementes e métodos de manejo do Irga, houve redução de 200 mil toneladas de gases emitidos pela produção orizícola gaúcha.
"Nossas pesquisas têm se concentrado na adaptação no manejo, e no desenvolvimento de cultivares mais adequados ao estresse hídrico. As cultivares que temos desenvolvido, seguem agora princípios como a tolerância a doenças, alta produtividade e qualidade dos grãos e, nas novas linhas de pesquisa, as linhagens promissoras serão caracterizadas também conforme o seu padrão de emissão, com alta eficiência no uso de água e baixa demanda de defensivos químicos", explica a diretora técnica do Irga, Flávia Tomita.
Segundo ela, nas últimas safras, mesmo com a redução da área semeada, o aumento da tecnologia e o avanço da genética, com ênfase na sustentabilidade, têm garantido mais produtividade, inclusive atingindo números recordes. Resultados que têm atraído cada vez mais investimentos das empresas de beneficiamento e de toda a cadeia do arroz.
"A sustentabilidade na prática, com a busca da produção cada vez mais limpa, garante ao arroz gaúcho um padrão cada vez mais procurado nos mercados nacional e internacional”, aponta. Saem do Rio Grande do Sul 70% do arroz consumido no Brasil. E nem as cheias de maio impediram esse abastecimento.
É o que acontece em Itaqui. O município teve a terceira maior área semeada na safra 2022/23, com 54,07 mil hectares, e na deste ano, conforme o governo municipal, houve ampliação desta área em torno de 5%.
O volume atraiu um investimento milionário da Camil, apontada pelo Irga como a principal beneficiadora do arroz gaúcho no último ano. A empresa investe pelo menos R$ 450 milhões – valor aprovado para receber benefícios do Fundopem – naquela que se anuncia como a maior indústria beneficiadora de arroz na América Latina.
A nova fábrica vai operar junto ao trevo de acesso à cidade, na BR-472. A Camil não revela maiores detalhes ou o cronograma do investimento no município da Fronteira Oeste, em um projeto que era anterior à pandemia, dentro de um pacote de dez grandes projetos da empresa no Brasil. Após a pandemia, somente dois daqueles projetos seguiram de pé.
São mais de 200 contratações só no período de obras, e já renderam a Itaqui, por exemplo, duas novas empresas de terraplanagem e uma de concreto contratadas e instaladas, pelo menos temporariamente, na localidade.
No mesmo município, estão instaladas também a Josapar – segunda maior beneficiadora de arroz do Estado em 2023 – e a Raroz. Esta, encerrou recentemente um investimento de modernização da sua fábrica. O município tem ainda uma instalação da Camera que, no entanto, não industrializa a soja no local, mas recebe os grãos produzidos na região.
A Camil já atua em Itaqui, mas tem suas instalações dentro do perímetro urbano. A mudança possibilitará quadruplicar a sua produção, chegando à capacidade de 1,2 milhão de fardos de arroz por ano e 950 toneladas de óleo de arroz.
Dados da administração local dão conta de que tudo o que é plantado entre Itaqui e Maçambará é absorvido pelas indústrias locais. A chegada da soja ao município, há três anos, por exemplo, não reduziu a área de plantio de arroz por ali. Entre 2020 e 2021, o PIB de Itaqui aumentou quase 40%.
A melhoria na qualidade do arroz gaúcho, com maior resistência às mudanças climáticas, também atrai investimentos para Pelotas, que tem a maior concentração de beneficiadoras de arroz do País. A Arrozeira Pelotas – terceira maior beneficiadora em 2023 –, por exemplo, investe R$ 12 milhões para ampliar em 15% a sua capacidade de produção. Somadas, Arrozeira Pelotas, Josapar e Nelson Wendt, que representam as três maiores beneficiadoras de arroz da cidade, concentram a capacidade de beneficiar 15 milhões de sacas de arroz por ano.
Ao todo, Pelotas tem 130 empresas beneficiadoras de arroz instaladas, além de outras 130 de soja.

Maiores beneficiadoras de arroz

* Camil (Itaqui, Camaquã, Capão do Leão, Dom Pedrito, Rio Grande)
* Josapar (Pelotas, Itaqui)
* Pirahy Alimentos (São Borja)
* Arrozeira Pelotas (Pelotas)
* Urbano Agroindustrial (São Gabriel)
* Pilecco Nobre Alimentos (Alegrete)
Fonte: Irga 2023

Plantio de arroz

* Uruguaiana - 69,9 mil hectares
* Santa Vitória do Palmar - 62,8 mil hectares (56 mil com rotação de soja)
* Itaqui 54,07 mil hectares (7,6 mil com rotação de soja)
* Alegrete 48,1 mil hectares (6,2 mil com rotação de soja)
Dom Pedrito 33,6 mil hectares (30,5 mil com rotação de soja)
Fonte: Irga 2022/23

Produtividade de arroz

* Rio Grande: 10 mil kg/hec
* Jaguarão: 9,8 mil kg/hec
* Santa Vitória: 9,5 mil kg/hec
* Dom Pedrito: 9,4 mil kg/hec
* Rosário do Sul: 9,3 mil kg/hec
Fonte: Irga 2022/23
 

Cascas de arroz viram energia e ganham potencial econômico

Um diferencial do novo projeto da Camil em Itaqui está na nova destinação para as cascas de arroz, que até bem pouco tempo representavam um problema ambiental na região. A empresa investe na criação de uma usina termelétrica que vai gerar energia a partir deste resíduo da lavoura. A usina terá capacidade de 12 MW, podendo gerar energia para todas operações da indústria e vender ao sistema. Na atual planta industrial, a Camil já produz a energia a partir das cascas, mas com capacidade somente para o abastecimento próprio.
Novos usos à biomassa gerada pelos resíduos do arroz são uma tendência. Em decomposição no solo, representam uma preocupante fonte de geração de gases do efeito estufa. Em Itaqui, por exemplo, a cultura do arroz respondia, em 2022, por 482 mil toneladas de gases do efeito estufa lançados na atmosfera - mais de 30% do total de emissões do município. A Raroz, por exemplo, já tem planejado também um novo investimento para erguer a sua usina.
Itaqui espera ainda há dois anos que o projeto da Oryzasil, para produzir sílica verde a partir das cascas de arroz, se torne realidade. A estimativa é de que, em se concretizando, o projeto atrairia até R$ 300 milhões em investimentos para a região.
Em Uruguaiana, que na safra de 2022/23 teve a maior área semeada de arroz, com 69,9 mil hectares, e onde as emissões da produção de arroz representam 27%, a Nova Engevix Construções confirmou em junho que levará adiante o investimento de R$ 70 milhões para erguer uma usina térmica movida a cascas de arroz. A capacidade projetada é de 5 MW, suficiente para abastecer uma cidade com 30 mil habitantes.
O licenciamento para instalação do novo empreendimento foi aprovado ainda no final do ano passado. A projeção é de que a futura usina consuma, em um primeiro momento, 57 mil toneladas anuais do material que até então era considerado resíduo. A perspectiva dos empreendedores é ainda destinar as cinzas deste processo ao tratamento do solo na região.

Sobra do arroz do Rio Grande do Sul vira óleo valorizado no exterior

Camaquã, município do Centro-Sul do Estado, é considerada a capital do arroz parboilizado. Hoje, é também a referência no mundo para o aproveitamento sustentável completo do grão, com lucratividade e valor agregado no mercado externo. O principal, ou mais rentável, produto exportado pelo município hoje não é o grão, mas o óleo bruto do arroz. Nos primeiros sete meses do ano, o município movimentou US$ 15 milhões com este produto em exportações, 8,5% a mais do que no mesmo período do ano passado. A maior parte destinada ao Japão.
O óleo é obtido a partir do farelo do arroz, que sobra nas beneficiadoras e representa 10% do grão. Sem a sequência da cadeia produtiva com a geração do óleo, o farelo iria direto para as indústrias de ração animal, com menos valor agregado e menor aproveitamento do potencial do cereal. Após a extração do óleo deste farelo, o produto segue, sem deixar resíduos nem gordura, para a produção de rações de bovinos, suínos e pets.
Todo o óleo de arroz produzido em Camaquã sai da planta industrial da HT Nutri, em uma produção iniciada há 37 anos e que hoje representa a maior fábrica produtora deste óleo no Ocidente, com produção de até duas mil toneladas de óleo bruto por mês, a partir de 12 mil toneladas de farelo – após o processo, 10 mil toneladas seguem para indústrias de ração, boa parte na própria região. A empresa também processa óleo de soja, mas este, voltado ao mercado interno, com o fornecimento à produção de biodiesel. Mas essa história em Camaquã começou muito antes do início dessa produção de óleos, e se confunde com a evolução da indústria arrozeira na região.
HT é a abreviatura do nome de Helmut Tessmann. A partir da década de 1960, todo o desenvolvimento da Vila São Carlos se deu a partir do engenho de arroz implantado por ele. Hoje, aquela indústria é operada pela Cooperativa Extremo Sul, uma das maiores arrozeiras do País. Posteriormente, Tessmann ergueu outra fábrica, bem próxima. E ela hoje abriga a maior planta industrial da Camil no Rio Grande do Sul.
A HT Nutri, em uma área industrial de 40 mil metros quadrados e com 400 funcionários, hoje liderada pela segunda geração da família, opera entre essas duas empresas, e recebe boa parte da sua matéria prima diretamente delas. A HT deixou de beneficiar o arroz em grão em 2002, e hoje destina toda a sua produção de óleo de arroz para exportação.
Considerado um dos óleos comestíveis mais saudáveis, o produto do arroz tem maior estabilidade oxidativa, portanto, pode ser usado por mais tempo em frituras, por exemplo, do que o óleo de soja. Pouco disseminado no Brasil, é muito consumido em países como o Japão e os Estados Unidos.

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