Mesmo com a tragédia ambiental que afetou o Estado em maio, a safra de arroz chegou ao resultado esperado. Foram colhidos 7,16 milhões de toneladas do cereal - redução de apenas 1% em relação ao ano anterior -, sendo mais de 75% entre as regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste. As perdas, estimadas em 5,2% das áreas semeadas, concentraram-se na faixa central do Estado.
No entanto, a certeza de que mudanças climáticas, somadas à marca que o cultivo do grão deixa ao meio ambiente - representa 17% das emissões do setor agropecuário gaúcho - têm estimulado cada vez mais o setor de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). E os resultados são promissores. Entre 2021 e 2022, por exemplo, a partir da aplicação de sementes e métodos de manejo do Irga, houve redução de 200 mil toneladas de gases emitidos pela produção orizícola gaúcha.
"Nossas pesquisas têm se concentrado na adaptação no manejo e no desenvolvimento de cultivares mais adequados ao estresse hídrico. As cultivares que desenvolvemos seguem agora princípios como tolerância a doenças, alta produtividade e qualidade dos grãos e, nas novas linhas de pesquisa, as linhagens promissoras serão caracterizadas também conforme o seu padrão de emissão, com alta eficiência no uso de água e baixa demanda de defensivos químicos", explica a diretora técnica do Irga, Flávia Tomita.
Segundo ela, nas últimas safras, mesmo com a redução da área semeada, o aumento da tecnologia e o avanço da genética, com ênfase na sustentabilidade, têm garantido mais produtividade, inclusive atingindo números recordes. Resultados que têm atraído mais investimentos das empresas de beneficiamento e de toda a cadeia do arroz.
"A sustentabilidade na prática, com a busca da produção cada vez mais limpa, garante ao arroz gaúcho um padrão cada vez mais procurado nos mercados nacional e internacional", aponta. Saem do RS 70% do arroz consumido no Brasil.
É o que acontece em Itaqui. O município teve a terceira maior área semeada na safra 2022/23, com 54,07 mil hectares, e na deste ano, conforme o governo municipal, houve ampliação em torno de 5%. O volume atraiu um investimento milionário da Camil, apontada pelo Irga como a principal beneficiadora do arroz gaúcho no último ano. A empresa investe pelo menos R$ 450 milhões - valor aprovado para receber benefícios do Fundopem - naquela que se anuncia como a maior indústria beneficiadora de arroz na América Latina.
A nova fábrica vai operar junto ao trevo de acesso a Itaqui na BR-472. São mais de 200 contratações só no período de obras. A Camil, porém, não revela detalhes ou o cronograma do investimento.
No mesmo município, estão instaladas também a Josapar - segunda maior beneficiadora de arroz do Estado em 2023 - e a Raroz. Esta, encerrou recentemente um investimento de modernização da sua fábrica. O município tem ainda uma instalação da Camera que, no entanto, não industrializa a soja no local, mas recebe os grãos produzidos na região.
A Camil já atua em Itaqui, mas tem suas instalações dentro do perímetro urbano. A mudança possibilitará quadruplicar a produção, chegando a 1,2 milhão de fardos de arroz por ano e 950 toneladas de óleo de arroz.
Dados da administração dão conta de que tudo o que é plantado entre Itaqui e Maçambará é absorvido pelas indústrias locais. A chegada da soja, há três anos, por exemplo, não reduziu a área de plantio de arroz por ali. Entre 2020 e 2021, o PIB de Itaqui aumentou quase 40%.
A melhoria na qualidade do arroz gaúcho, com maior resistência às mudanças climáticas, também atrai investimentos a Pelotas, que tem a maior concentração de beneficiadoras do País - são 130 no total.
A Arrozeira Pelotas - terceira maior em 2023 -, por exemplo, investe R$ 12 milhões para ampliar em 15% a sua capacidade de produção. Somadas, Arrozeira Pelotas, Josapar e Nelson Wendt, que representam as três maiores beneficiadoras, têm capacidade de beneficiar 15 milhões de sacas por ano.