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Publicada em 20 de Setembro de 2024 às 17:50

Desmanche de plataformas em Rio Grande segue em compasso de espera

Plataforma P-32 chegou o Estaleiro Rio Grande no fim de 2023, mas depende de limpeza para ser transformada em sucata

Plataforma P-32 chegou o Estaleiro Rio Grande no fim de 2023, mas depende de limpeza para ser transformada em sucata

Matheus Vieira/Ecovix/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Desde que a plataforma P-32, da Petrobras, chegou ao Estaleiro Rio Grande no final do ano passado, o local que já foi o símbolo da pujança naval gaúcha com a construção de embarcações, está em compasso de espera. Chegou a ser iniciado ali, em uma parceria entre a Ecovix, que opera o estaleiro, e a Gerdau, o desmonte da primeira plataforma para fornecimento de sucata que será matéria-prima, reciclada, na produção de aço nas unidades da siderúrgica em Charqueadas e Sapucaia do Sul.
Desde que a plataforma P-32, da Petrobras, chegou ao Estaleiro Rio Grande no final do ano passado, o local que já foi o símbolo da pujança naval gaúcha com a construção de embarcações, está em compasso de espera. Chegou a ser iniciado ali, em uma parceria entre a Ecovix, que opera o estaleiro, e a Gerdau, o desmonte da primeira plataforma para fornecimento de sucata que será matéria-prima, reciclada, na produção de aço nas unidades da siderúrgica em Charqueadas e Sapucaia do Sul.
O plano inclui ainda o contrato para desmontar mais uma plataforma, a P-33. No entanto, um impasse entre Petrobras e Gerdau – após a constatação de um grande volume de óleo e produtos combustíveis em compartimentos da plataforma – ainda não permitiu que a operação de desmonte tivesse maiores avanços.
As duas operações totalizaram em torno de R$ 6 milhões em investimentos da Gerdau na compra, e mais R$ 48 milhões na contratação da Ecovix para o desmonte, com o fornecimento de material necessário para garantir dois meses de produção da unidade da indústria siderúrgica em Charqueadas, na região Centro-Sul, de maneira mais limpa, a partir da reciclagem, como é a prática da empresa no Estado, e sem envolver o processo de mineração de aço.
"Pelo fato de produzirmos aço a partir de sucata reciclada, garantimos uma operação que hoje é 10 vezes mais limpa do que a média mundial no setor, e temos uma meta de reduzirmos ainda em 10% nossas emissões nos próximos 10 anos. Reduzir a pegada de carbono, especialmente da produção de Charqueadas, é fundamental, porque o produto final são aços especiais, cada vez mais leves e limpos, fornecidos para a indústria automobilística empregar nos carros híbridos. O papel da operação de Charqueadas nessa evolução da indústria é estratégico. Foi também pensando nisso que inovamos na busca de solução para as plataformas, que se tornariam sucatas sem destino, e poluidoras", aponta o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck.
A multinacional é responsável direta por Charqueadas ter o quarto maior VAB Industrial entre as regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira, de R$ 778,2 milhões, e responsável por 100% das exportações do município entre janeiro e juho deste ano. No último ano, a empresa encerrou um investimento de R$ 250 milhões na modernização dos processos de produção do aço que abastece a indústria automobilística nacional.

CEO da Gerdau vê aprendizado em processo de desmanche em Rio Grande

CEO da Gerdau, Gustavo Werneck destaca que uso de sucata reciclada permite produção de aço mais limpa

CEO da Gerdau, Gustavo Werneck destaca que uso de sucata reciclada permite produção de aço mais limpa

TÂNIA MEINERZ/JC
A parceria com a Ecovix abre nova oportunidade para a Gerdau, inédita, em Rio Grande. "Não é simplesmente uma estrutura a ser desmanchada, são navios que, além do metal, têm fluidos, óleos e produtos que precisam ser descartados ou aproveitados de maneira adequada, sem gerar dano ambiental. Tem sido um aprendizado para criarmos processos absolutamente seguros, mas é algo ainda novo", diz Werneck. Segundo o CEO da Gerdau, Rio Grande, por ter um estaleiro já preparado para receber uma estrutura deste porte, é um dos locais mais adequados do País para essa operação.
De acordo com o diretor da Ecovix, Ricardo Ávila, do ponto de vista econômico, a operação de desmonte não será o carro-chefe do estaleiro, mas, sendo executada, deixará o aprendizado desta nova tarefa como legado a futuras atividades na construção naval em Rio Grande.
"A desmontagem, por si, já é um projeto sustentável. É verde por natureza, com metas bem definidas, inclusive, de ESG a serem cumpridas por nós. Mas a nossa operação tem ganhado muito em relação a cortes mais eficazes, com economia de energia e desenvolvimento de ferramentas mais eficazes, e também no transporte dessa carga, que permitem o reuso de 100% do material desmontado. Esse projeto, sem dúvida, marca uma forma de nos adaptarmos a essa realidade de redução da pegada de carbono em cada atividade. Reforça mais ainda o papel de vanguarda das empresas da região", aponta Ávila.

Trabalho é esperança para o polo naval

A estimativa é de que o trabalho na desmontagem da plataforma, em seu momento de pico, deverá empregar até 250 pessoas no estaleiro. Volume que ainda não remonta uma década atrás, no auge do setor, mas mantém o polo naval ativo, e em uma expectativa reforçada neste segundo semestre. É que a Petrobras confirmou o lançamento de licitações para construção de navios de transporte em estaleiros do País, como um sopro de retomada ao polo naval.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Ecovix confirma que está habilitada e em fase de preparação de proposta ao edital para construção de quatro navios para transporte de produtos claros para a Transpetro. A presença da P-32 ainda no dique, conforme a assessoria, não deve prejudicar o projeto.
"Estamos prontos e ativos. Se surgisse hoje, por exemplo, a demanda por instalações de montagem ou armazenamento relacionado às eólicas offshore, poderíamos iniciar as operações na próxima semana. O mais difícil, que é implementar um estaleiro, em Rio Grande e São José do Norte já foi feito. Precisamos é dos novos negócios", diz Ricardo Ávila, que também lidera o Arranjo Produtivo Local (APL) Marítimo.
O APL mobiliza hoje 30 empresas, e é um dos elos fundamentais para estabelecer a Economia Azul em Rio Grande. O movimento é responsável direto, por exemplo, pelo aumento da capacidade de giro de grandes navios pelo Tecon no Porto de Rio Grande, com o desenvolvimento de um simulador de manobras.

A siderurgia limpa e a relação com o polo naval

* Entre Rio Grande e São José do Norte há dois estaleiros estruturados para construções e desmontes de embarcações, além da possibilidade de apoio à infraestrutura de parques eólicos.
* A operação da Gerdau em Charqueadas abastece o mercado nacional e internacional com aços especiais para a indústria automobilística, especialmente nos veículos híbridos.
* A empresa responde por 100% das exportações de Charqueadas.
* A produção da Gerdau no Estado é 10 vezes mais limpa do que a média mundial do setor. Toda produção de aços da empresa no Rio Grande do Sul é feita a partir da sucata.

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