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Publicada em 20 de Setembro de 2024 às 13:16

Ambientes vegetais costeiros são decisivos para reter carbono em Rio Grande

Áreas alagadas, que recebem água doce e salgada em um estuário, são consideradas uma das principais moedas de Rio Grande para um futuro mercado de carbono

Áreas alagadas, que recebem água doce e salgada em um estuário, são consideradas uma das principais moedas de Rio Grande para um futuro mercado de carbono

Prefeitura de Rio Grande/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Conforme relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, Rio Grande captura em torno de 200 mil toneladas de gases do efeito estufa – 15% do total de emissões do município. O potencial para reter carbono – e gerar ganhos econômicos – está no "carbono azul".
Conforme relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, Rio Grande captura em torno de 200 mil toneladas de gases do efeito estufa – 15% do total de emissões do município. O potencial para reter carbono – e gerar ganhos econômicos – está no "carbono azul".
Trata-se do potencial de retenção de carbono em ambientes vegetais costeiros e alagados, como é o caso das marismas – áreas alagadas, que recebem tanto a água doce quanto a salgada em um estuário, a exemplo da Lagoa dos Patos – consideradas uma das principais moedas de Rio Grande para um futuro mercado de carbono. Entre Rio Grande e São José do Norte, por exemplo, estão 90% das marismas do Rio Grande do sul, e, segundo a professora do Instituto de Oceanografia da Furg, Margareth Copertino, este ecossistema é fundamental para a meta estabelecida por Rio Grande.
"As marismas têm capacidade para reter, entre a vegetação e o solo, em média, 300 toneladas de carbono por hectare. É quase 10 vezes mais do que os estoques médios estimados para solos da Amazônia, Mata Atlântica e Pampas. Os estoques de carbono nas marismas locais excederiam 2 milhões de toneladas”, avalia a especialista.
Levantamentos realizados pela Furg ainda no começo dos anos 2000, mostraram que a região ainda conservava 70 quilômetros quadrados deste tipo de ambiente. O monitoramento mais recente, feito em parceria também com o Inpe-Santa Maria e a Ufrgs, apontou que as marismas locais capturam, em média, 323 toneladas de carbono por ano.
Entre os objetivos do projeto desenvolvido pelo Instituto de Oceanografia da Furg – aprovado em edital do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Rio Grande para, a partir dos seus resultados, nortear toda a política de redução de emissões do município –, está justamente a recuperação destes ambientes. Regiões como a Ilha da Pólvora, em Rio Grande, foram apontadas como eficientes sumidouros de carbono, ou seja, que capturam mais do que liberam os gases diretamente relacionados ao agravamento dos efeitos das mudanças climáticas na atmosfera.
"No estado atual do conhecimento sobre o tema, a captura de carbono pelas marismas corresponde a não mais que 3% das emissões de Rio Grande, mas a mitigação por carbono azul e mecanismos de mercado de carbono não são soluções mágicas. Por isso, é fundamental priorizar a redução drástica das emissões e a transição para uma economia de baixo carbono", explica Margareth.
Potencializar a preservação e recuperação destes terrenos, com alto poder de captura de gases, é considerado pela administração do município um movimento diretamente proporcional a qualquer aumento das atividades econômicas em Rio Grande como forma de atingir a emissão neutra em tempo recorde.
Mas a importância de recuperação das marismas pode ser bem mais palpável do que os índices de emissões de gases do efeito estufa. Nas cheias de maio, por exemplo, este tipo de vegetação, se conservado, poderia ter representado um importante obstáculo ao avanço da água.
"As barreiras naturais, como é o caso das marismas, são vivas e dinâmicas e, ao longo prazo, podem ser mais eficazes que construções estáticas. Em áreas costeiras, medidas eficazes combinam soluções baseadas na natureza com a construção de infraestruturas resilientes", explica Margareth Copertino.
Boa parte das áreas alagadas em Rio Grande nas cheias de maio foram áreas de marismas aterradas no passado. "A remoção da proteção natural costeira aumentou a exposição e, portanto, o risco de alagamentos", completa.
Rio Grande concretiza neste ano a contratação de um financiamento de R$ 400 milhões junto à Agência Francesa de Desenvolvimento, em aportes para quatro áreas: infraestrutura, ambiental, inovação e o ecoparque nos molhes como um atrativo turístico. Entre as condições para o financiamento está justamente o compromisso de redução de emissões do município, com a concretização da cadeia econômica azul. Estão previstas licitações de todo o transporte público movido a hidrogênio ou elétrico e a compra de energia 100% renovável para prédios públicos e iluminação pública.

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