Com um século de resistência, fábrica de São Sebastião do Caí busca se reerguer

Indústria de conservas se mantém no Vale do Caí mesmo após várias enchentes no último ano

Por Eduardo Torres

Retomada a pleno da fábrica da Oderich é fundamental para a reativação da economia da região
Reerguer-se é algo que os 116 anos de história da Oderich, pioneira na produção de conservas em São Sebastião do Caí, e tendo o Rio Caí como um vizinho próximo, já ensinaram. Agora, porém, como conta o responsável pelo marketing da empresa, Thomas Oderich, foi a maior catástrofe já enfrentada, e pode obrigar, por exemplo, a um investimento talvez inédito no Estado, mas fundamental para não abandonar a região onde se originou a empresa.

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Após a destruíção, é hora da retomada

Parreiral, Cristofoli, Bento, Vinícola
Da vinícola para baixo, tudo desabou. Parte da propriedade, onde havia uma obra em andamento, foi levada pelo deslizamento. Muros desapareceram. E no horizonte, havia só a imagem da tragédia.
O relato é da Bruna Cristófoli, proprietária da Vinhos Cristófoli, que há 28 anos mantém seus vinhedos e a produção de vinhos reforçados por um restaurante, no distrito de Faria Lemos, um dos mais atingidos de Bento Gonçalves, na Serra, pela tragédia de maio. Dali, durante dias de isolamento, era possível perceber o tamanho do desastre.
Somente em Bento Gonçalves, foram 11 vítimas de deslizamentos. Em Caxias do Sul, a principal economia e o município mais populoso da região, foram outras nove pessoas mortas durante os eventos de maio. Ao todo, entre as regiões da Serra, Campos de Cima da Serra, Hortênsias e os vales do Caí e Paranhana, 49 pessoas morreram _ quase 30% do total de mortos no Estado _ e nove municípios tiveram situação de calamidade decretada. Um baque social e econômico.
No limite de um dos epicentros dos estragos, a vinícola, que produz 60 mil garrafas por ano, em 21 rótulos, não chegou a haver perdas nos vinhedos, mas o faturamento, entre maio e julho, diz Bruna, teve redução de pelo menos 80%. Metade do que fatura, a Cristófoli garante com o enoturismo, e esta fonte de recursos desabou no período. A estimativa do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur), a perda ultrapassou a R$ 500 milhões na região turística, mas já deu sinais de recuperação, com a ocupação da rede hoteleira em julho chegando a 55%.
"O problema com as chuvas em excesso e a insegurança que isso provoca já vinham sendo sentidos no turismo desde o ano passado. Estamos também avaliando a questão produtiva nesse cenário de mudanças climáticas, que exigem adaptações. Mas já iniciamos uma recuperação, ainda instável, mas é um alento. Mantemos nossos planos de incrementar em 20% o nosso faturamento este ano", diz a empresária.
Resiliência e retomada tornaram-se palavras necessárias nas regiões que concentram algumas das principais potências da economia gaúcha. Os setores metalmecânico, moveleiro e de confecções garantem a principal concentração industrial gaúcha e um PIB somado, entre os 78 municípios abrangidos neste recorte do Mapa Econômico do Rio Grande do Sul, de R$ 95,9 bilhões, que representa, conforme o levantamento de 2021, o mais recente a considerar os dados municipais, 16,5% do PIB gaúcho. Se forem considerados somente os nove municípios que tiveram estado de calamidade decretado, a situação afetou diretamente 50% da economia da região.