Tragédia climática no Rio Grande do Sul expôs limites da infraestrutura

Serra Gaúcha espera avanços, como a duplicação rodoviária até Porto Alegre e aeroporto melhor para a região

Por Eduardo Torres

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A tragédia climática de maio escancarou a fragilidade na infraestrutura - por terra ou por ar - da região que concentra alguns dos setores econômicos mais importantes do Estado. Um problema que, mesmo antes dos estragos causados pelas cheias e deslizamentos, já era apontado como um ponto nevrálgico para o desenvolvimento futuro da região.

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Os caminhos para a Serra por terra e por ar

Aeroportos em Caxias do Sul e Canela: a região espera por investimentos em melhorias nos atuais aeroportos das duas cidades e, com investimento previsto de R$ 200,5 milhões, o projeto do Aeroporto em Vila Oliva, também em Caxias do Sul, aproxima-se de sair do papel.
Duplicações adiadas: com a destruição provocada pelas cheias de maio, ficou congelado o investimento superior a R$ 200 milhões previsto pela concessionária CSG para o início das duplicações entre as ERSs-122, 446 e 240, as RSCs-453 e 287 e parte da BR-470. Novos estudos de engenharia estão em andamento.
Obras do PAC: somente a obra de melhorias da BR-285, que liga São José dos Ausentes a Santa Catarina, com investimento de
R$ 105,9 milhões e já em execução entrou no primeiro pacote de obras do novo PAC do governo federal.
 

Concessionária trabalha na recuperação de rodovias

Os estragos de maio deixaram, especialmente, um rastro de problemas nas rodovias que ligam a Serra e os vales do Paranhana e do Caí às demais regiões do Estado. A estimativa da concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) é de que, desde o começo das chuvas, com os deslizamentos e perdas de pistas, foram detectados 120 pontos de atenção com necessidades de reparos na pista, demandando até R$ 120 milhões em investimentos entre as rodovias administradas pelas concessionária, as ERSs-122, 446 e 240, as RSCs-453 e 287 e parte da BR-470.
"Houve deslizamentos e rompimentos de pistas especialmente em trechos como entre São Vendelino, Farroupilha e Bento Gonçalves. Nestes pontos, foi preciso refazer as pistas, assim como em Capela de Santana. E houve ainda um ponto crítico em Antônio Prado. Nossas equipes foram para as pistas logo que possível, não apenas para o trabalho nos locais de rodagem de veículos, mas na recomposição de taludes e drenagens", diz o diretor presidente da CSG, Ricardo Peres.
Os planos iniciais da concessionária eram de dar a partida, com investimentos de R$ 220 milhões até o início de 2025, em obras de duplicação dos trechos sob a sua administração, mas eles estão sendo revisados.
"São rodovias que foram construídas a partir de parâmetros de chuvas e de estabilidade do solo adequados há 30, 50 anos. E estes parâmetros, como vimos neste evento extremo, precisam ser revistos. Precisamos conhecer até qual volume de chuva a rodovia resiste. Ou ainda, qual a nova situação das encostas. Se fossem estradas a serem construídas hoje, certamente seriam totalmente diferentes, então, nos resta adaptarmos os projetos e criarmos soluções de engenharia para maior resiliência a este novo normal", explica o diretor.
Para isso, foram suspensos os prazos para execução das duplicações previstas no contrato com o governo estadual. A CSG realiza estudos para apontar ao poder público, primeiro, soluções para cada trecho em contenções de encostas mais eficientes nos locais onde houve desmoronamento, e, possivelmente, aprofundar ainda mais os estudos de engenharia para adequar melhor as rodovias em relação a estruturas de drenagem, a partir dos volumes de cheias apresentados em maio.
Enquanto não há definições sobre futuros investimentos estruturais nas rodovias, a concessionária investe em tecnologia para melhorar a prevenção aos estragos vivenciados em maio. Em março, foram instalados seis pontos de cobrança de pedágio pelo sistema free flow. E juntamente com estes equipamentos, foram instaladas seis estações meteorológicas, inclusive com visibilímetro contra neblina. De acordo com Peres, serão instalados painéis ao longo das rodovias com alertas aos motoristas para trechos críticos e informações obtidas a partir das estações meteorológicas.
"São equipamentos que, inclusive, nos ajudam no planejamento de obras. As estações te dão uma possibilidade de banco de dados com informações sobre as condições do trecho e também de precisão para a programação de ações nas estradas", diz.
 

Obras na rodovia BR-116 ficam fora do PAC

Em relação aos projetos incluídos no novo PAC, a Serra acabou beneficiada somente com as obras de melhoria e pavimentação da BR-285, que liga São José dos Ausentes a Santa Catarina. Um caminho considerado fundamental para escoamento da produção rural e industrial da região em direção aos portos catarinenses, por exemplo. São investimentos federais de R$ 105,9 milhões, e a previsão de entrega das obras é em 2025. Ficou de fora uma das principais bandeiras do setor industrial de Caxias do Sul, que é o projeto de melhorias e ampliação da BR-116. Desde o ano passado está pronto o projeto para a construção de um viaduto entre a rodovia e a Perimetral Norte da cidade.
São previstos R$ 50 milhões nesta obra, e há mobilização para que a bancada gaúcha obtenha o recurso junto ao governo federal. E há a necessidade de duplicação do trecho da rodovia entre a Avenida São Leopoldo e o acesso ao bairro Planalto, travada após imbróglio entre Dnit e Sulgás para remoção ou não de tubulação subterrânea de gás.