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Publicada em 21 de Agosto de 2024 às 21:32

Com um século de resistência, fábrica de São Sebastião do Caí busca se reerguer

Retomada a pleno da fábrica da Oderich é fundamental para a reativação da economia da região

Retomada a pleno da fábrica da Oderich é fundamental para a reativação da economia da região

/Oderich/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Reerguer-se é algo que os 116 anos de história da Oderich, pioneira na produção de conservas em São Sebastião do Caí, e tendo o Rio Caí como um vizinho próximo, já ensinaram. Agora, porém, como conta o responsável pelo marketing da empresa, Thomas Oderich, foi a maior catástrofe já enfrentada, e pode obrigar, por exemplo, a um investimento talvez inédito no Estado, mas fundamental para não abandonar a região onde se originou a empresa.
Reerguer-se é algo que os 116 anos de história da Oderich, pioneira na produção de conservas em São Sebastião do Caí, e tendo o Rio Caí como um vizinho próximo, já ensinaram. Agora, porém, como conta o responsável pelo marketing da empresa, Thomas Oderich, foi a maior catástrofe já enfrentada, e pode obrigar, por exemplo, a um investimento talvez inédito no Estado, mas fundamental para não abandonar a região onde se originou a empresa.
É avaliada a possibilidade de se construir um imenso muro para cercar a sede. Seriam 40 mil metros quadrados de estrutura equipada com um sistema de comportas, a exemplo do que fizeram algumas empresas de Blumenau, em Santa Catarina, após cheias devastadoras naquela região. Internamente, ações como a elevação de maquinário, geradores, painéis elétricos e estruturas mais delicadas estão sendo feitas, com a ampliação do segundo piso da empresa. 
São Sebastião do Caí teve 80% da cidade tomada pela água. Conforme levantamento da Unisinos, a perda estimada na economia da cidade foi de 16,5%, entre maio e julho. Na fábrica da Oderich, na área central da cidade, a água atingiu quatro metros de altura no parque fabril. Agora, três meses depois, ainda não foi possível retomar a operação a pleno, nem aferir o prejuízo completo. Em novembro, durante outra cheia, a perda foi calculada em R$ 40 milhões.
Acreditava-se que a cheia do Rio Caí, ocorrida em 2007, não poderia ser superada. Naquela ocasião, também com a sede tomada pela água, a indústria adquiriu uma área no bairro Vila Rica, onde hoje está a estrutura administrativa e comercial, além do Centro de Distribuição Central. É em uma parte mais alta da cidade e, ainda assim, a água chegou a 1,5 metro de altura. O centro de distribuição, porém, fica mais elevado e não foi atingido. Segundo a direção da Oderich, uma ampliação já era prevista antes das cheias.
De acordo com Thomas Oderich, o esforço para a retomada da produção inclui a reativação de toda a cadeia produtiva. O principal fornecedor de vinagre, fundamental para as conservas, por exemplo, é do Vale do Taquari, e teve a produção interrompida. Outro fornecedor, de caixas de papelão, foi obrigado a fechar a fábrica em Canoas e se instalar em Santa Catarina. E há problemas também na confecção de embalagens metálicas e em sachês, pelas perdas de alguns produtos em estoque.
"Ainda estamos com ruptura no fornecimento de vários produtos ao mercado. Outros tínhamos em estoque, mas iremos retomar", assegura Thomas Oderich.
A recuperação de empresas como a Oderich é fundamental para a economia da região. Para que se tenha uma ideia da sua importância, por exemplo, para São Sebastião do Caí, as exportações de carnes e miudezas em conserva, produzidas lá, respondem por mais de 92% do comércio exterior do município. No primeiro semestre de 2024, São Sebastião do Caí foi o 42º maior exportador gaúcho, com US$ 29,7 milhões negociados - redução de 16,4% em relação ao mesmo período de 2023.
Em todo o Estado, até julho, as exportações tiveram redução de 7,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
 

Após a destruíção, é hora da retomada

A retomada do enoturismo na Vinícola Cristófoli já começou

A retomada do enoturismo na Vinícola Cristófoli já começou

Cristofoli/Divulgação/JC
Da vinícola para baixo, tudo desabou. Parte da propriedade, onde havia uma obra em andamento, foi levada pelo deslizamento. Muros desapareceram. E no horizonte, havia só a imagem da tragédia.
O relato é da Bruna Cristófoli, proprietária da Vinhos Cristófoli, que há 28 anos mantém seus vinhedos e a produção de vinhos reforçados por um restaurante, no distrito de Faria Lemos, um dos mais atingidos de Bento Gonçalves, na Serra, pela tragédia de maio. Dali, durante dias de isolamento, era possível perceber o tamanho do desastre.
Somente em Bento Gonçalves, foram 11 vítimas de deslizamentos. Em Caxias do Sul, a principal economia e o município mais populoso da região, foram outras nove pessoas mortas durante os eventos de maio. Ao todo, entre as regiões da Serra, Campos de Cima da Serra, Hortênsias e os vales do Caí e Paranhana, 49 pessoas morreram _ quase 30% do total de mortos no Estado _ e nove municípios tiveram situação de calamidade decretada. Um baque social e econômico.
No limite de um dos epicentros dos estragos, a vinícola, que produz 60 mil garrafas por ano, em 21 rótulos, não chegou a haver perdas nos vinhedos, mas o faturamento, entre maio e julho, diz Bruna, teve redução de pelo menos 80%. Metade do que fatura, a Cristófoli garante com o enoturismo, e esta fonte de recursos desabou no período. A estimativa do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur), a perda ultrapassou a R$ 500 milhões na região turística, mas já deu sinais de recuperação, com a ocupação da rede hoteleira em julho chegando a 55%.
"O problema com as chuvas em excesso e a insegurança que isso provoca já vinham sendo sentidos no turismo desde o ano passado. Estamos também avaliando a questão produtiva nesse cenário de mudanças climáticas, que exigem adaptações. Mas já iniciamos uma recuperação, ainda instável, mas é um alento. Mantemos nossos planos de incrementar em 20% o nosso faturamento este ano", diz a empresária.
Resiliência e retomada tornaram-se palavras necessárias nas regiões que concentram algumas das principais potências da economia gaúcha. Os setores metalmecânico, moveleiro e de confecções garantem a principal concentração industrial gaúcha e um PIB somado, entre os 78 municípios abrangidos neste recorte do Mapa Econômico do Rio Grande do Sul, de R$ 95,9 bilhões, que representa, conforme o levantamento de 2021, o mais recente a considerar os dados municipais, 16,5% do PIB gaúcho. Se forem considerados somente os nove municípios que tiveram estado de calamidade decretado, a situação afetou diretamente 50% da economia da região.

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