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Publicada em 21 de Agosto de 2024 às 21:04

Produtores de frutas buscam se adaptar às mudanças no clima

Rio Grande do Sul tem a maior área cultivada de bergamotas do Brasil, com quase um quarto do total

Rio Grande do Sul tem a maior área cultivada de bergamotas do Brasil, com quase um quarto do total

GUSTAVO VIEGAS/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
O setor agrícola da Serra, dos Campos de Cima da Serra e dos Vales do Caí e Paranhana movimenta-se para criar ferramentas que amenizem os efeitos de eventos extremos do clima, especialmente sobre pomares. Com consultoria da Universidade de Caxias do Sul (UCS), por exemplo, produtores de Nova Pádua e Nova Roma do Sul começam a operar um sistema antigranizo sobre suas plantações.
O setor agrícola da Serra, dos Campos de Cima da Serra e dos Vales do Caí e Paranhana movimenta-se para criar ferramentas que amenizem os efeitos de eventos extremos do clima, especialmente sobre pomares. Com consultoria da Universidade de Caxias do Sul (UCS), por exemplo, produtores de Nova Pádua e Nova Roma do Sul começam a operar um sistema antigranizo sobre suas plantações.
A partir do monitoramento de nuvens com potencial para gerar granizo, um canhão é ativado para disparar contra elas fragmentos de prata, que reduzem os tamanhos dos granizos e, por consequência, evitam as perdas na lavoura.
"Esta é uma ferramenta contra um dos possíveis eventos climáticos que tendem a ser mais frequentes na região. Sempre tivemos uma preocupação nessa região com as baixas temperaturas e, em geral, o cultivo de citrus já está adaptado, a partir de enxertos, a uma maior tolerância ao frio. Toda a nossa fruticultura no RS sempre foi baseada nisso. Agora, com aquecimento e eventos extremos de calor e frio, os riscos de doenças na citricultura aumentam e podem comprometer a produção. É preciso que o produtor invista cada vez mais em conhecimento técnico e que retorne aos princípios agronômicos de conservação do solo, com plantio direto e manutenção de plantas de cobertura abaixo dos pomares", afirma o engenheiro agrônomo da UCS, Gabriel Pauletti.
Segundo ele, a implantação de sistemas de irrigação é uma solução necessária em áreas como as de cultivo de bergamotas, no Vale do Caí. Nesta região, conta o pesquisador, a média de chuvas, historicamente, não é insuficiente. O risco, porém, é o desequilíbrio, com alta concentração de chuva em pouco tempo a partir de um clima de baixa média de chuva.
"Chuvas concentradas aceleram o crescimento da fruta e acabam rachando a casca, por exemplo. A ideia do bom manejo é sempre garantir o equilíbrio e a produção em tempos diferentes, que escapem de algum desequilíbrio hídrico mais significativo. No cultivo de citrus, isso é possível, diferentemente de outras culturas", aponta o professor.
O Rio Grande do Sul tem a maior área cultivada de bergamotas do Brasil, com mais de 13 mil hectares, quase um quarto do total. A fruta é cultivada em 403 municípios gaúchos, com maior concentração no Vale do Caí. Em 2023, conforme a Emater, eram 4.581 produtores no RS.
A irrigação, por exemplo, já é um elemento comum no plantio de morangos, também no Vale do Caí. E mesmo com o plantio super controlado, e estufas, as mudanças climáticas também comprometem essa cultura. Os morangos precisam de noites frias para a floração. Se elas são reduzidas, o desenvolvimento das plantas fica comprometido.

A fruticultura na região

Produção de maçãs
 Vacaria
 Bom Jesus
 Caxias do Sul
 São Francisco de Paula
 Monte Alegre dos Campos
Produção de bergamotas
 Montenegro
 Pareci Novo
 São José do Sul
 Veranópolis
 São José do Hortêncio
Produção de pêssego de mesa
 Pinto Bandeira
 Farroupilha
 Caxias do Sul
 Antônio Prado
 Campestre da Serra
Produção de morangos
 Bom Princípio
 Feliz
 São Sebastião do Caí
 São José do Hortêncio
 Alto Feliz
Fonte: Agapomi

Turismo alivia perdas com a lavanda

No Vale do Paranhana, os eventos de maio foram catastróficos no plantio de lavanda, que se tornou a marca do município de Morro Reuter. A extração de óleo não será possível na plantação de 1,8 hectare do Celso Schuck, que em 2021 iniciou o plantio e criou a Lavandas do Morro.
"A lavanda precisa de sol e vento, mas teve muita chuva e de maneira irregular. A planta secou. O bom é que tínhamos um bom estoque dos anos anteriores, e isso mantém o movimento do turismo na propriedade. Em anos de boa safra, nossa produção gira em torno de 30 litros extraídos", explica o agricultor.
Nesta produção, a lucratividade não é dependente somente do que as plantas são capazes de gerar. Na Lavandas do Morro, 75% do faturamento fica por conta dos turistas que visitam a região.

Em busca de maçãs que encantem

É também atento aos olhos do mercado que o produtor de maçãs nos Campos de Cima da Serra tem investido. Conforme o presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), Gilberto Marques, a extensão da área de plantio tem se mantido. A prioridade tem sido na reconversão dos pomares.
"Os produtores têm investido no plantio de clones de frutas mais vermelhas, para atender à exigência do mercado, principalmente pensando na exportação. A maçã brasileira tem muito espaço lá fora, o mercado asiático é muito forte, mas ainda estamos em uma etapa de equilíbrio no mercado interno para garantirmos a venda externa", aponta.
A maçã é produzida em 47 municípios gaúchos localizados, quase na sua totalidade, nas regiões da Serra, Nordeste e Campos de Cima da Serra. De acordo com Marques, em média, o Estado exporta 150 mil caixas por safra. Ficam no mercado nacional 80% das maçãs produzidas no RS. Na última safra, porém, a qualidade da fruta reduziu as exportações.
"Ainda não temos números finais da safra, mas saíram maçãs miúdas como consequência das chuvas de setembro e outubro de 2023, que acabaram prejudicando o período de floração. A estimativa é de redução de até 27% na colheita em relação ao ano anterior. Nesta chuva de maio, o maior prejuízo foi com relação à maçã fuji, que estava na fase final da colheita. Temos relatos de perdas de até 70% dessa variedade no campo em algumas propriedades, além da perda de solo em algumas regiões, como em Caxias do Sul", diz o presidente da associação.
Em conjunto com produtores de Santa Catarina, estado que divide com o Rio Grande do Sul 97% da produção brasileira de maçãs, a Agapomi tem encampado estudos de variedades que possam ser mais resistentes a pragas provenientes do excesso de chuvas.
A consequência da safra pode ser conferida nos números de exportação de Vacaria, município que concentra 53% da produção gaúcha de maçãs. Neste ano, a fruta responde por 35% das vendas ao Exterior. No ano anterior, representava 78%. Com isso, quem ganha destaque nesta balança é a soja.
Está nos Campos de Cima da Serra a última fronteira desta produção. Em 2023, porém, o grão nem figurava entre os artigos exportados por Vacaria. Em 2024, 51% dos produtos vendidos para fora do País foram em soja.

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