O setor agrícola da Serra, dos Campos de Cima da Serra e dos Vales do Caí e Paranhana movimenta-se para criar ferramentas que amenizem os efeitos de eventos extremos do clima, especialmente sobre pomares. Com consultoria da Universidade de Caxias do Sul (UCS), por exemplo, produtores de Nova Pádua e Nova Roma do Sul começam a operar um sistema antigranizo sobre suas plantações.
A partir do monitoramento de nuvens com potencial para gerar granizo, um canhão é ativado para disparar contra elas fragmentos de prata, que reduzem os tamanhos dos granizos e, por consequência, evitam as perdas na lavoura.
"Esta é uma ferramenta contra um dos possíveis eventos climáticos que tendem a ser mais frequentes na região. Sempre tivemos uma preocupação nessa região com as baixas temperaturas e, em geral, o cultivo de citrus já está adaptado, a partir de enxertos, a uma maior tolerância ao frio. Toda a nossa fruticultura no RS sempre foi baseada nisso. Agora, com aquecimento e eventos extremos de calor e frio, os riscos de doenças na citricultura aumentam e podem comprometer a produção. É preciso que o produtor invista cada vez mais em conhecimento técnico e que retorne aos princípios agronômicos de conservação do solo, com plantio direto e manutenção de plantas de cobertura abaixo dos pomares", afirma o engenheiro agrônomo da UCS, Gabriel Pauletti.
Segundo ele, a implantação de sistemas de irrigação é uma solução necessária em áreas como as de cultivo de bergamotas, no Vale do Caí. Nesta região, conta o pesquisador, a média de chuvas, historicamente, não é insuficiente. O risco, porém, é o desequilíbrio, com alta concentração de chuva em pouco tempo a partir de um clima de baixa média de chuva.
"Chuvas concentradas aceleram o crescimento da fruta e acabam rachando a casca, por exemplo. A ideia do bom manejo é sempre garantir o equilíbrio e a produção em tempos diferentes, que escapem de algum desequilíbrio hídrico mais significativo. No cultivo de citrus, isso é possível, diferentemente de outras culturas", aponta o professor.
O Rio Grande do Sul tem a maior área cultivada de bergamotas do Brasil, com mais de 13 mil hectares, quase um quarto do total. A fruta é cultivada em 403 municípios gaúchos, com maior concentração no Vale do Caí. Em 2023, conforme a Emater, eram 4.581 produtores no RS.
A irrigação, por exemplo, já é um elemento comum no plantio de morangos, também no Vale do Caí. E mesmo com o plantio super controlado, e estufas, as mudanças climáticas também comprometem essa cultura. Os morangos precisam de noites frias para a floração. Se elas são reduzidas, o desenvolvimento das plantas fica comprometido.
A fruticultura na região
Produção de maçãs
Vacaria
Bom Jesus
Caxias do Sul
São Francisco de Paula
Monte Alegre dos Campos
Produção de bergamotas
Montenegro
Pareci Novo
São José do Sul
Veranópolis
São José do Hortêncio
Produção de pêssego de mesa
Pinto Bandeira
Farroupilha
Caxias do Sul
Antônio Prado
Campestre da Serra
Produção de morangos
Bom Princípio
Feliz
São Sebastião do Caí
São José do Hortêncio
Alto Feliz
Fonte: Agapomi
Turismo alivia perdas com a lavanda
No Vale do Paranhana, os eventos de maio foram catastróficos no plantio de lavanda, que se tornou a marca do município de Morro Reuter. A extração de óleo não será possível na plantação de 1,8 hectare do Celso Schuck, que em 2021 iniciou o plantio e criou a Lavandas do Morro.
"A lavanda precisa de sol e vento, mas teve muita chuva e de maneira irregular. A planta secou. O bom é que tínhamos um bom estoque dos anos anteriores, e isso mantém o movimento do turismo na propriedade. Em anos de boa safra, nossa produção gira em torno de 30 litros extraídos", explica o agricultor.
Nesta produção, a lucratividade não é dependente somente do que as plantas são capazes de gerar. Na Lavandas do Morro, 75% do faturamento fica por conta dos turistas que visitam a região.
Em busca de maçãs que encantem
É também atento aos olhos do mercado que o produtor de maçãs nos Campos de Cima da Serra tem investido. Conforme o presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), Gilberto Marques, a extensão da área de plantio tem se mantido. A prioridade tem sido na reconversão dos pomares.
"Os produtores têm investido no plantio de clones de frutas mais vermelhas, para atender à exigência do mercado, principalmente pensando na exportação. A maçã brasileira tem muito espaço lá fora, o mercado asiático é muito forte, mas ainda estamos em uma etapa de equilíbrio no mercado interno para garantirmos a venda externa", aponta.
A maçã é produzida em 47 municípios gaúchos localizados, quase na sua totalidade, nas regiões da Serra, Nordeste e Campos de Cima da Serra. De acordo com Marques, em média, o Estado exporta 150 mil caixas por safra. Ficam no mercado nacional 80% das maçãs produzidas no RS. Na última safra, porém, a qualidade da fruta reduziu as exportações.
"Ainda não temos números finais da safra, mas saíram maçãs miúdas como consequência das chuvas de setembro e outubro de 2023, que acabaram prejudicando o período de floração. A estimativa é de redução de até 27% na colheita em relação ao ano anterior. Nesta chuva de maio, o maior prejuízo foi com relação à maçã fuji, que estava na fase final da colheita. Temos relatos de perdas de até 70% dessa variedade no campo em algumas propriedades, além da perda de solo em algumas regiões, como em Caxias do Sul", diz o presidente da associação.
Em conjunto com produtores de Santa Catarina, estado que divide com o Rio Grande do Sul 97% da produção brasileira de maçãs, a Agapomi tem encampado estudos de variedades que possam ser mais resistentes a pragas provenientes do excesso de chuvas.
A consequência da safra pode ser conferida nos números de exportação de Vacaria, município que concentra 53% da produção gaúcha de maçãs. Neste ano, a fruta responde por 35% das vendas ao Exterior. No ano anterior, representava 78%. Com isso, quem ganha destaque nesta balança é a soja.
Está nos Campos de Cima da Serra a última fronteira desta produção. Em 2023, porém, o grão nem figurava entre os artigos exportados por Vacaria. Em 2024, 51% dos produtos vendidos para fora do País foram em soja.