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Publicada em 21 de Agosto de 2024 às 21:02

Tragédia climática no Rio Grande do Sul expôs limites da infraestrutura

Serra Gaúcha espera avanços, como a duplicação rodoviária até Porto Alegre e aeroporto melhor para a região

Serra Gaúcha espera avanços, como a duplicação rodoviária até Porto Alegre e aeroporto melhor para a região

LATAM/DIVULGAÇÃO/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
A tragédia climática de maio escancarou a fragilidade na infraestrutura - por terra ou por ar - da região que concentra alguns dos setores econômicos mais importantes do Estado. Um problema que, mesmo antes dos estragos causados pelas cheias e deslizamentos, já era apontado como um ponto nevrálgico para o desenvolvimento futuro da região.
A tragédia climática de maio escancarou a fragilidade na infraestrutura - por terra ou por ar - da região que concentra alguns dos setores econômicos mais importantes do Estado. Um problema que, mesmo antes dos estragos causados pelas cheias e deslizamentos, já era apontado como um ponto nevrálgico para o desenvolvimento futuro da região.
"Temos um potencial turístico muito maior do que é explorado hoje, especialmente em relação às belezas naturais acima da Serra, mas são lugares quase inacessíveis. A qualidade das rodovias é muito ruim. E há ainda toda a dificuldade para o turista chegar a Gramado e a Canela. Temos o terceiro principal destino do turismo brasileiro, mas uma rede aérea muito deficitária. Com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, esse problema ficou ainda mais evidente. Não há oxigênio na infraestrutura para sustentar o nosso potencial turístico. Se houver investimentos em um aeroporto regional, como em Canela ou em melhorias em Caxias, vamos decolar", acredita o sócio do Kempinski Laje de Pedra, José Paim de Andrade Júnior.
Ele compara a situação do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Enquanto aqui, são 14 voos diários para São Paulo a partir dos aeroportos regionais ativos, no estado vizinho, entre quatro aeroportos regionais, operam 53 voos diários para a capital paulista. "Hoje, o turista que chega ao aeroporto de Caxias do Sul pensa que tudo aqui é desorganizado. Enquanto o turismo responde por 4% do PIB gaúcho, em Santa Catarina, responde por 12%", compara.
Uma mobilização de empresários locais trabalha para viabilizar voos nacionais no aeroporto de Canela. O governo estadual repassou a gestão deste aeroporto à União e, com a outorga à Infraero, a expectativa é ampliar a atual capacidade da pista.
A ideia agora é que haja um alargamento, possibilitando o recebimento de aeronaves com até 72 passageiros. Este processo deve ser concluído até 2025.
Em Caxias do Sul, o aeroporto Hugo Cantergiani se tornou uma das alternativas aéreas do Rio Grande do Sul desde as cheias. O resultado foi quase o dobro do volume de voos registrados entre janeiro e maio deste ano em relação ao mesmo período de 2023, com 3.001 operações. A média mensal saltou de 339 para 600 operações.
A estatística inclui os voos humanitários com doações e transporte de equipes de socorro. E expôs a limitação estrutural do aeroporto da principal cidade da Serra. Foram 23% dos voos programados que não conseguiram pousar devido às condições climáticas. A neblina é a principal causadora dos cancelamentos. Em junho, o governo do Estado anunciou investimentos de R$ 14 milhões para melhorias na estrutura do terminal de passageiros e da pista do aeroporto, que passará por recapeamento, além de uma avaliação da possibilidade de extensão. Outros R$ 1,3 milhão são previstos em investimentos municipais para a compra de dois indicadores de Percurso de Aproximação de Precisão (Papi), fundamentais para pousos em situação de neblina.
Paralelamente, o município espera a finalização pelo governo federal do projeto para a construção do aeroporto em Vila Oliva, no interior do município. A partir daí, caberá à prefeitura de Caxias do Sul encaminhar a licitação para a obra, com recursos federais, estimados em R$ 200,5 milhões, garantidos pela Secretaria da Aviação Civil. O projeto é tratado como a principal alternativa ao Salgado Filho.
A próxima etapa será o encaminhamento, pelo município, dos projetos arquitetônicos das edificações do futuro aeroporto.

Os caminhos para a Serra por terra e por ar

Aeroportos em Caxias do Sul e Canela: a região espera por investimentos em melhorias nos atuais aeroportos das duas cidades e, com investimento previsto de R$ 200,5 milhões, o projeto do Aeroporto em Vila Oliva, também em Caxias do Sul, aproxima-se de sair do papel.
Duplicações adiadas: com a destruição provocada pelas cheias de maio, ficou congelado o investimento superior a R$ 200 milhões previsto pela concessionária CSG para o início das duplicações entre as ERSs-122, 446 e 240, as RSCs-453 e 287 e parte da BR-470. Novos estudos de engenharia estão em andamento.
Obras do PAC: somente a obra de melhorias da BR-285, que liga São José dos Ausentes a Santa Catarina, com investimento de
R$ 105,9 milhões e já em execução entrou no primeiro pacote de obras do novo PAC do governo federal.
 

Concessionária trabalha na recuperação de rodovias

Os estragos de maio deixaram, especialmente, um rastro de problemas nas rodovias que ligam a Serra e os vales do Paranhana e do Caí às demais regiões do Estado. A estimativa da concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) é de que, desde o começo das chuvas, com os deslizamentos e perdas de pistas, foram detectados 120 pontos de atenção com necessidades de reparos na pista, demandando até R$ 120 milhões em investimentos entre as rodovias administradas pelas concessionária, as ERSs-122, 446 e 240, as RSCs-453 e 287 e parte da BR-470.
"Houve deslizamentos e rompimentos de pistas especialmente em trechos como entre São Vendelino, Farroupilha e Bento Gonçalves. Nestes pontos, foi preciso refazer as pistas, assim como em Capela de Santana. E houve ainda um ponto crítico em Antônio Prado. Nossas equipes foram para as pistas logo que possível, não apenas para o trabalho nos locais de rodagem de veículos, mas na recomposição de taludes e drenagens", diz o diretor presidente da CSG, Ricardo Peres.
Os planos iniciais da concessionária eram de dar a partida, com investimentos de R$ 220 milhões até o início de 2025, em obras de duplicação dos trechos sob a sua administração, mas eles estão sendo revisados.
"São rodovias que foram construídas a partir de parâmetros de chuvas e de estabilidade do solo adequados há 30, 50 anos. E estes parâmetros, como vimos neste evento extremo, precisam ser revistos. Precisamos conhecer até qual volume de chuva a rodovia resiste. Ou ainda, qual a nova situação das encostas. Se fossem estradas a serem construídas hoje, certamente seriam totalmente diferentes, então, nos resta adaptarmos os projetos e criarmos soluções de engenharia para maior resiliência a este novo normal", explica o diretor.
Para isso, foram suspensos os prazos para execução das duplicações previstas no contrato com o governo estadual. A CSG realiza estudos para apontar ao poder público, primeiro, soluções para cada trecho em contenções de encostas mais eficientes nos locais onde houve desmoronamento, e, possivelmente, aprofundar ainda mais os estudos de engenharia para adequar melhor as rodovias em relação a estruturas de drenagem, a partir dos volumes de cheias apresentados em maio.
Enquanto não há definições sobre futuros investimentos estruturais nas rodovias, a concessionária investe em tecnologia para melhorar a prevenção aos estragos vivenciados em maio. Em março, foram instalados seis pontos de cobrança de pedágio pelo sistema free flow. E juntamente com estes equipamentos, foram instaladas seis estações meteorológicas, inclusive com visibilímetro contra neblina. De acordo com Peres, serão instalados painéis ao longo das rodovias com alertas aos motoristas para trechos críticos e informações obtidas a partir das estações meteorológicas.
"São equipamentos que, inclusive, nos ajudam no planejamento de obras. As estações te dão uma possibilidade de banco de dados com informações sobre as condições do trecho e também de precisão para a programação de ações nas estradas", diz.
 

Obras na rodovia BR-116 ficam fora do PAC

Em relação aos projetos incluídos no novo PAC, a Serra acabou beneficiada somente com as obras de melhoria e pavimentação da BR-285, que liga São José dos Ausentes a Santa Catarina. Um caminho considerado fundamental para escoamento da produção rural e industrial da região em direção aos portos catarinenses, por exemplo. São investimentos federais de R$ 105,9 milhões, e a previsão de entrega das obras é em 2025. Ficou de fora uma das principais bandeiras do setor industrial de Caxias do Sul, que é o projeto de melhorias e ampliação da BR-116. Desde o ano passado está pronto o projeto para a construção de um viaduto entre a rodovia e a Perimetral Norte da cidade.
São previstos R$ 50 milhões nesta obra, e há mobilização para que a bancada gaúcha obtenha o recurso junto ao governo federal. E há a necessidade de duplicação do trecho da rodovia entre a Avenida São Leopoldo e o acesso ao bairro Planalto, travada após imbróglio entre Dnit e Sulgás para remoção ou não de tubulação subterrânea de gás.

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