Levantamento da Secretaria Estadual do Turismo (Setur), em parceria com o Sebrae, apontou que, em 2022, aproximadamente 10 milhões de turistas buscaram Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado, Canela, Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, Garibaldi e Cambará do Sul como destinos. Um fluxo que garante uma das mais consagradas oportunidades para a economia da Serra. Agora, imagine que em um mês este fluxo reduziu-se a praticamente zero.
Foi o que o setor experimentou durante as cheias de maio e, já no mês seguinte, começou a dar mostras de recuperação. "Tivemos cancelamentos em massa de estadias e eventos naquele mês. O movimento sumiu. Foram quatro eventos de médio e grande portes que organizaríamos naquele período e foram cancelados. A ocupação do hotel também caiu para zero. Mas já percebemos no mês seguinte a movimentação voltando a aquecer e, em julho, tivemos uma boa retomada, que mantém a nossa projeção de crescimento para este ano. Também já retomamos os agendamentos de eventos, por ora, regionais, em virtude do aeroporto de Porto Alegre, mas logo que forem retomados os voos, podemos dizer que o fluxo estará normalizado também neste setor", explica o CEO do Boulevard Convention, Leandro Carpes.
O empreendimento iniciou suas operações na entrada do Vale dos Vinhedos, que compreende a região produtora de vinhos entre Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul e, dentro da rota das uvas e vinhos, é um dos destinos de viagem preferidos deste recorte do Rio Grande do Sul, com o enoturismo. E é por este valor de mercado que um grupo de investidores aportou R$ 108 milhões para erguer o o Boulevard Convention. A ideia, apontando para uma nova tendência em toda a região, é de que o local seja um hub turístico para unir os segmentos de feiras e eventos com o de experiência, oferecido pelas vinícolas do Vale, por exemplo.
"Atendemos a uma demanda de alto potencial no mercado, que une os seminários e convenções ao enoturismo e essa busca de um público menos massivo por boas experiências gastronômicas e de convívio. Quando se organizam esses eventos em capitais, há uma certa adesão. Mas quando o mesmo evento é organizado em uma região turística, como é o Vale dos Vinhedos, a procura é, em média, 20% superior", detalha Carpes.
A aposta por Bento Gonçalves também não foi à toa. Como Leandro Carpes explica, o Vale dos Vinhedos tem se tornado uma região muito querida pelo Brasil. A taxa de turistas no local cresce de 10% a 12% ao ano, com tendência de melhora.
No Boulevard Convention, são 211 quartos, que já atraem para o turismo nos finais de semana, pelo Vale. Com os eventos, a lacuna da ocupação durante os dias de semana tem potencial para ser preenchida. As perspectivas, aponta o CEO do empreendimento, são muito positivas para 2025.
"É o destino mais desejado do Brasil, e quando lançamos o projeto, tivemos uma surpresa muito boa, porque dois terços dos investidores são de fora do Rio Grande do Sul. Foi essa atratividade e a credibilidade da região que fez a diferença", garante o executivo.
Uma oportunidade que os integrantes da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) tratam de aproveitar com muita criatividade. São quase 90 atrativos — um terço deles de vinícolas.
Entre os roteiros, aponta a associação, destacam-se inovações no enoturismo, desde o lançamento de vinhos e espumantes e experiências de gastronomia autoral até a participação na vindima, a colheita da uva, com a participação dos turistas na pisa das uvas, em jantares, piqueniques e passeios mais relacionados ao convívio com a natureza da região.
De acordo com a associação, somente no Vale dos Vinhedos, há uma média de 300 mil visitantes anuais. Uma experiência que deixa para vinícolas como a Miolo, por exemplo, 10% do seu faturamento vinculado ao enoturismo.
Feiras setoriais movimentam calendário de eventos da região
Fenavinho, em Bento Gonçalves, reúne produtores e visitantes
/Augusto Tomasi/Divulgação/JCConforme o levantamento da Setur, em 2022, foram 1,7 milhão de turistas ao longo do ano tiveram Bento Gonçalves e Garibaldi como destino único, sendo 60% deles do Rio Grande do Sul. O calendário de eventos local é repleto de feiras setoriais, como a Feira Internacional de Fornecedores da Indústria Moveleira (FIMMA), a Movelsul, a Fiema Brasil, que envolve a sustentabilidade na indústria, a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), a Wine South America, a Envase Brasil e a Expobento.
Em relação a este último evento, o levantamento fez uma análise do fluxo de turistas ao município, e apontou que, em 2022, 63 mil turistas estiveram em Bento Gonçalves especificamente para a feira.
Estrutura semelhante para o turismo de eventos há em Caxias do Sul, onde acontecem feiras como a Mercopar, Eletric Move e seminários setoriais em áreas que vão desde a mobilidade urbana até a gestão de resíduos e o avanço do grafeno. No mesmo levantamento da Setur, foi avaliado o fluxo de turistas durante a Festa da Uva de 2022, que atraiu para a cidade 211,6 mil turistas únicos. Ao longo daquele ano, Caxias do Sul recebeu 1,4 milhão de turistas.
Nos dois municípios de maior população e PIB da região, houve redução neste fluxo em relação a 2019, antes da pandemia. No entanto, e este é um indício importante da adesão aos eventos, houve aumento na permanência de visitantes entre quatro e 14 dias.
O calendário de eventos, feiras e seminários consolida-se cada vez mais em toda a região. Em Gramado, por exemplo, há o Festuris e o Festival de Cinema. Em Nova Petrópolis, a Tricofest, em Carlos Barbosa, a Festiqueijo e em Garibaldi, a Fenachamp. Para que se tenha uma ideia, somente durante o Natal Luz, em Gramado, em 2022, foram 529,2 mil turistas únicos, mas a movimentação chegou a 2,5 milhões de pessoas que circularam pela região, movimentando toda a cadeia de serviços local.
Investimentos em hotéis de luxo e contato com a natureza
Levantamento estadual aponta que, em 2022, Gramado, Canela e São Francisco de Paula foram os destinos turísticos de 4,9 milhões de pessoas. Com um diferencial: enquanto nas demais cidades da região há predomínio de turistas de cidades gaúchas como origem, na região das Hortênsias, os turistas da cidade de São Paulo só ficam atrás, em números, dos visitantes de Porto Alegre. Em Gramado, foram 100 mil paulistanos hospedados em 2022.
É em busca deste potencial que o grupo Kempinski inova no investimento que transforma o histórico Laje de Pedra, em Canela. De acordo com o sócio do Kempinski Laje de Pedra, José Paim de Andrade Júnior, o empreendimento, que terá a sua primeira fase de obras concluída em 2026, vai transformar o turismo na região. A ideia é seguir o princípio do hub turístico, mas unindo o turismo de lazer e luxo, com a gastronomia e os serviços de Canela e Gramado, com o turismo de natureza e esportes extremos, entre as regiões das Hortênsias e os Campos de Cima da Serra, com os Aparados, por exemplo.
"A região hoje tem um potencial subaproveitado. O turista de alta capacidade de renda, que investe em torno de US$ 500 por dia, está em busca justamente da natureza e da alta qualidade na enogastronomia que temos na região. São 35 cânions a partir da Serra, e Gramado e Canela têm 800 restaurantes de alta qualidade."
Em fase de obras na estrutura do hotel, depois de uma redução no ritmo durante os eventos de maio, em julho o fluxo foi normalizado. São R$ 100 milhões em investimentos. Atualmente, 30% dos serviços de todo o complexo já estão operando. Eles incluem um restaurante com capacidade para atender 400 pessoas por dia, um anfiteatro e outras atrações a céu aberto. O hotel, em obras até 2026, terá 360 apartamentos.
"Desenhamos o nosso projeto para o cliente heavy user, que sempre usa o apartamento. Então, mais da metade das vendas é destinada ao comprador que adquire o apartamento na sua totalidade, e há as modalidades destinadas aos clientes que vêm em alguns períodos do ano e outros que passam uma parte importante da vida aqui. Planejamos entre 65% e 70% do público regional, que vem de carro até Canela, mas é um atrativo diferenciado para o visitante de outros estados, com uma vizinhança espetacular, um local com vista espetacular", garante Paim.
A Kempinski está entre as melhores redes de hotéis da América Latina, e o modelo aplicado no Laje de Pedra é único na região. Este é também o único investimento do grupo no Rio Grande do Sul.
O potencial turístico deste recorte do Estado também desce aos vales. Ao todo, a Setur lista cinco regiões turísticas nesta faixa do Rio Grande do Sul. No Vale do Paranhana, são destacadas as atrações relacionadas às experiências com a natureza. E há o chamado Vale da Felicidade, que engloba os municípios do Vale do Caí. Conforme o órgão estadual, ao longo do ano, os municípios organizam até 300 eventos que vão desde festas culturais, de cantos e danças, até festejos relacionados a colheitas e gastronomia.
Os atrativos
Em 2022, 10 milhões de pessoas tiveram Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado, Canela, Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, Garibaldi e Cambará do Sul como destino turístico.
Regiões turísticas e suas atrações:
Campos de Cima da Serra (Aparados da Serra)
Hortênsias (Parque Estadual Caracol, museus, parques temáticos, gastronomia, eventos e seminários)
Uva e Vinho (enoturismo, eventos e seminários)
Vale da Felicidade (eventos no Vale do Caí durante todo o ano, que incluem colheitas, festas folclóricas e temáticas)
Vale do Paranhana (experiências junto à natureza, em contato com o Rio Paranhana)
Fonte: Setur