Mapa Econômico do RS
- Publicada em 27 de Outubro de 2023 às 15:13Multinacionais exportam tecnologia criada na Serra
Linha de produção de ônibus em unidade instalada em Caxias do Sul
MARCOPOLO/DIVULGAÇÃO/JC
Eduardo Torres
Com uma receita líquida de R$ 5,4 bilhões em 2022 e a liderança nacional no mercado de ônibus e micro-ônibus, a Marcopolo emprega hoje 7 mil pessoas entre duas fábricas em Caxias do Sul – além da recém inaugurada unidade de componentes, em Farroupilha. Ao todo, são 13 mil funcionários, entre as 11 unidades, que incluem o Espírito Santo e em seis países – China, Argentina, Colômbia, México, Austrália e África do Sul. Foi da fábrica no distrito de Ana Rech, em Caxias do Sul, que saiu o Attivi Integral, lançado em meados do ano passado.
“A inovação é uma das nossas principais fontes de novos negócios. As áreas de desenvolvimento da Engenharia, assim como da Marcopolo Next, que é uma das frentes de negócios do grupo, com a responsabilidade de acelerar processos, são grandes responsáveis pelo fortalecimento da empresa no cenário internacional. Hoje, temos em torno de 700 ônibus elétricos e hídricos circulando no mundo, mas com chassis de parceiros, desenvolvidos em conjunto. Nosso desafio era criarmos a tecnologia 100% nacional, que agora é realidade”, explica o CEO da empresa, André Armaganijan.
Segundo ele, a produção das primeiras unidades do Attivi seguirá nas fábricas de Caxias do Sul, mas há possibilidade de expandir para outras fábricas do grupo, conforme a demanda e a logística. Hoje, todas as unidades da Marcopolo estão aptas à produção dos seus modelos de veículos rodoviários, urbanos e micros. Em Caxias do Sul, ainda opera, além dos ônibus elétricos, a fabricação de veículos sobre trilhos, com a marca Marcopolo Rail.
“Estamos no mercado há 74 anos, e mesmo posicionada entre as melhores do mundo, temos muito orgulho em dizer que somos da Serra Gaúcha, pelo destaque que as indústrias desta região têm. É a partir daqui que a Marcopolo é uma referência no transporte de passageiros. Temos hoje diversos caxienses que iniciaram a carreira nas unidades da cidade e levam essa experiência para outras operações, não para ‘exportarmos’ o que temos em Caxias do Sul, mas para reforçar o que fazemos aqui, de aproximar as pessoas e promover o desenvolvimento regional, com a valorização dos trabalhadores locais”, aponta Armaganijan.
O caminho da empresa iniciou em 1949, quando Paulo Bellini e os irmãos Nicola empreenderam, criando a Nicola e Cia, uma das primeiras empresas do Brasil dedicadas à fabricação de carrocerias para ônibus, inicialmente, em madeira. Com 15 funcionários, foram três meses para a entrega da primeira. Três anos depois, fabricaram a primeira estrutura metálica.
Assim como, agora, o pioneirismo nos veículos elétricos aponta para a Serra, naquela época a demonstração da capacidade dos empreendedores da região saírem na frente também foi marcante. O país vivia um momento de incentivos governamentais à industrialização acelerada e à infraestrutura, especialmente de estradas. A solução vinha da Serra, e se expandiu.
Em 1961, a empresa, que ainda não se chamava Marcopolo, fez a sua primeira exportação para o Uruguai. Dez anos depois, já com o nome que faz referência ao navegador que expandiu os horizontes pelo mundo, a Marcopolo foi a primeira indústria automobilística brasileira a vender tecnologia para o exterior, para a Venezuela. Hoje, a Marcopolo exporta para mais de 100 países.
Randoncorp aposta em carreta elétrica
Randoncorp aposta em criação de tecnologia de vanguarda, diz o CEO Sérgio Carvalho
TÂNIA MEINERZ/JC
Foi também para terras uruguaias que, em 1972, a Randon fez a sua primeira exportação. Hoje denominada Randoncorp, abrangendo mais de 50 operações em 120 países, a empresa iniciou suas atividades em 1940, com a oficina dos irmãos Raul e Hercílio Randon, em Caxias do Sul.
Também no rastro da oportunidade que um país ligado por rodovias criava, eles desenvolveram no começo da década de 1950 o primeiro freio a ar do Brasil. O resultado foi a atração de transportadores do país inteiro até a Serra para instalarem em seus caminhões o tal sistema de freios. Mas com estes clientes, veio o desafio maior aos empreendedores: desenvolver uma solução para o transporte de cargas no Brasil.
Ainda no final da década de 1950, surgiu na Randon o primeiro semirreboque. A empresa é atualmente a maior fabricante de reboques e semirreboques da América Latina, e está entre as 10 maiores do mundo.
“Mudamos muito ao longo dos últimos anos. Hoje, os semirreboques, por exemplo, respondem por apenas 35% da receita. Temos dedicado muito investimento, com o objetivo de avançarmos ainda mais como uma das principais empresas do mundo, na criação de tecnologia de vanguarda a partir do Sul do Brasil. A carreta elétrica é um exemplo, mas também temos trabalhado com o desenvolvimento de materiais inteligentes, nanopartículas. É algo inédito inclusive em outros continentes. Assim como na origem da empresa, a Randoncorp dedica-se à busca de soluções para o transporte de cargas moderno”, explica o CEO da empresa, Sérgio Carvalho.
De acordo com Carvalho, toda a base das ações da Randoncorp está na Serra. E permanecerá. “A jovialidade de uma empresa com mais de 70 anos está diretamente ligada à expertise que temos na Serra. Nossos produtos seguem sendo desenvolvidos na região”, aponta o executivo.
Nos próximos cinco anos, por exemplo, a empresa investirá R$ 60 milhões na nova unidade de produção para tecnologias de eletromobilidade, da Suspensys – o braço responsável pelos sistemas de eixos e suspensões da Randoncorp –, a Suspensys E-Mobility, inaugurada em abril em Caxias do Sul. Este é o coração da produção das novas carretas elétricas, com uma estrutura fabril inédita na América Latina. Foram três anos de desenvolvimento desta carreta que, segundo Carvalho, poderá gerar economia de 25% de diesel nas rotas de transportadores, com mais velocidade e tração extra.
Somente em Caxias do Sul, o grupo conta com 11 fábricas nas mais diversas atividades, desde a fabricação de semirreboques até o desenvolvimento de nanopartículas para os componentes de peças na área de transporte. A empresa fechou 2022 com a maior receita líquida consolidada na sua história, chegando a R$ 11,2 bilhões – 23% a mais do que em 2021.
Também no rastro da oportunidade que um país ligado por rodovias criava, eles desenvolveram no começo da década de 1950 o primeiro freio a ar do Brasil. O resultado foi a atração de transportadores do país inteiro até a Serra para instalarem em seus caminhões o tal sistema de freios. Mas com estes clientes, veio o desafio maior aos empreendedores: desenvolver uma solução para o transporte de cargas no Brasil.
Ainda no final da década de 1950, surgiu na Randon o primeiro semirreboque. A empresa é atualmente a maior fabricante de reboques e semirreboques da América Latina, e está entre as 10 maiores do mundo.
“Mudamos muito ao longo dos últimos anos. Hoje, os semirreboques, por exemplo, respondem por apenas 35% da receita. Temos dedicado muito investimento, com o objetivo de avançarmos ainda mais como uma das principais empresas do mundo, na criação de tecnologia de vanguarda a partir do Sul do Brasil. A carreta elétrica é um exemplo, mas também temos trabalhado com o desenvolvimento de materiais inteligentes, nanopartículas. É algo inédito inclusive em outros continentes. Assim como na origem da empresa, a Randoncorp dedica-se à busca de soluções para o transporte de cargas moderno”, explica o CEO da empresa, Sérgio Carvalho.
De acordo com Carvalho, toda a base das ações da Randoncorp está na Serra. E permanecerá. “A jovialidade de uma empresa com mais de 70 anos está diretamente ligada à expertise que temos na Serra. Nossos produtos seguem sendo desenvolvidos na região”, aponta o executivo.
Nos próximos cinco anos, por exemplo, a empresa investirá R$ 60 milhões na nova unidade de produção para tecnologias de eletromobilidade, da Suspensys – o braço responsável pelos sistemas de eixos e suspensões da Randoncorp –, a Suspensys E-Mobility, inaugurada em abril em Caxias do Sul. Este é o coração da produção das novas carretas elétricas, com uma estrutura fabril inédita na América Latina. Foram três anos de desenvolvimento desta carreta que, segundo Carvalho, poderá gerar economia de 25% de diesel nas rotas de transportadores, com mais velocidade e tração extra.
Somente em Caxias do Sul, o grupo conta com 11 fábricas nas mais diversas atividades, desde a fabricação de semirreboques até o desenvolvimento de nanopartículas para os componentes de peças na área de transporte. A empresa fechou 2022 com a maior receita líquida consolidada na sua história, chegando a R$ 11,2 bilhões – 23% a mais do que em 2021.
Municípios exportadores da Serra, Campos de Cima da Serra, Hortênsias, Vales do Paranhana e do Caí
* Caxias do Sul (9º no RS entre janeiro e setembro de 2023): 46% das exportações em reboques, semi reboques, carrocerias, acessórios para automóveis, ônibus e micro-ônibus.
* Montenegro (13º no RS entre jan-set): 46,4% das exportações em tratores e partes de veículos, 11% em produtos bélicos.
* Carlos Barbosa (15º no RS entre jan-set): 95% das exportações em artefatos domésticos e outros produtos em metal.
* Nova Prata (26º no RS entre jan-set): 78% das exportações em produtos de borracha.
* Bento Gonçalves (29º no RS entre jan-set): 53% das exportações em móveis, assentos e pré-moldados; 19% em sumo de uva, vinhos e produtos de padaria.
* Igrejinha (31º no RS entre jan-set): 75% das exportações em calçados com solas de borracha ou plástico.
* Farroupilha (33º no RS entre jan-set): 45% das exportações em artefatos de uso doméstico em metal.
* Garibaldi (40º no RS entre jan-set): 47% das exportações em vinhos, vinagres, farinhas e preparações para alimentação animal.
* São Sebastião do Caí (42º no RS entre jan-set): 93% das exportações em carnes, conservas e miudezas.
* Veranópolis (45º no RS entre jan-set): 74% das exportações em produtos da soja.
* Flores da Cunha (50º no RS entre jan-set): 25% das exportações em vinhos, sucos, vinagres, aguardente, 25% em mobiliários e 22,3% em componentes de veículos.
* Vacaria (57º no RS entre jan-set): 86% das exportações em maçãs, peras e marmelos.
* Parobé (68º no RS entre jan-set): 88% das exportações em calçados com solas de borracha ou plástico.
Fonte: Ministério do Comércio Exterior
* Montenegro (13º no RS entre jan-set): 46,4% das exportações em tratores e partes de veículos, 11% em produtos bélicos.
* Carlos Barbosa (15º no RS entre jan-set): 95% das exportações em artefatos domésticos e outros produtos em metal.
* Nova Prata (26º no RS entre jan-set): 78% das exportações em produtos de borracha.
* Bento Gonçalves (29º no RS entre jan-set): 53% das exportações em móveis, assentos e pré-moldados; 19% em sumo de uva, vinhos e produtos de padaria.
* Igrejinha (31º no RS entre jan-set): 75% das exportações em calçados com solas de borracha ou plástico.
* Farroupilha (33º no RS entre jan-set): 45% das exportações em artefatos de uso doméstico em metal.
* Garibaldi (40º no RS entre jan-set): 47% das exportações em vinhos, vinagres, farinhas e preparações para alimentação animal.
* São Sebastião do Caí (42º no RS entre jan-set): 93% das exportações em carnes, conservas e miudezas.
* Veranópolis (45º no RS entre jan-set): 74% das exportações em produtos da soja.
* Flores da Cunha (50º no RS entre jan-set): 25% das exportações em vinhos, sucos, vinagres, aguardente, 25% em mobiliários e 22,3% em componentes de veículos.
* Vacaria (57º no RS entre jan-set): 86% das exportações em maçãs, peras e marmelos.
* Parobé (68º no RS entre jan-set): 88% das exportações em calçados com solas de borracha ou plástico.
Fonte: Ministério do Comércio Exterior
Ambiente colaborativo fortalece o desenvolvimento
Grandes empresas demanda qualificação dos menores, explica Élvio Gianni, secretário municipal do Desenvolvimento Econômico e Inovação de Caxias do Sul
TÂNIA MEINERZ/JC
Entre as aquisições da Randoncorp está, por exemplo, a Fras-Le, empresa criada em também na década de 1950, por Francisco Stédile – fundador da Agrale –, a partir da necessidade que se criava no mercado por pastilhas de freio e peças de reposição. Hoje, a Fras-Le tem a inovação, a partir de materiais mais leves, como seu carro-chefe. Entre as aquisições mais recentes, o grupo tem somado empresas que surgiram como startups ou prestadoras de serviços que apresentaram soluções ao setor, como a Automm, dedicada ao desenvolvimento de automação na Randoncorp. Este é um exemplo, segundo o secretário municipal Élvio Gianni, de como a colaboração fortalece a todos. Entre os 86 mil CNPJs ativos em Caxias do Sul, 90% são de micro a médias empresas.
“Um ambiente em que, por exemplo, os nossos 200 maiores CNPJs demandam a qualificação dos menores para que sejam seus fornecedores e desenvolvam soluções, garante longevidade e um ambiente positivo para todos. É isso que o município tem procurado incentivar, com a qualificação de mão de obra, mas principalmente, com a qualificação de empreendedores”, aponta Gianni.
Conforme o Índice de Cidades Empreendedoras de 2023, Caxias do Sul foi considerada a primeira cidade inovadora do Rio Grande do Sul, e a sexta no País. Entre os avanços na legislação municipal, há um programa de fomento a startups, que abrigou o projeto piloto “Cidade Empreendedora”, do Sebrae. Com um investimento de R$ 250 mil a cada ciclo, a cidade já formou três turmas no programa que agora é replicado em outras cidades.
O programa contabiliza 80 startups certificadas em Caxias do Sul, com pelo menos 30 projetos rodando atualmente. “A verdade é que, quem está se internacionalizando percebe que aqui nós temos o ambiente mais favorável para o desenvolvimento de produtos e soluções, por isso, mantém as raízes. E quem estava saindo daqui, agora está voltando”, diz o secretário.
Do ponto de vista legal, também houve avanços, com a aprovação da Lei da Inovação, que garantiu a redução de impostos municipais para empresas com base tecnológica. Há um abatimento de 50% nos tributos para este tipo de atividade. O resultado, aponta Gianni, foi um aumento de 60% na arrecadação.
A mudança de perfil industrial também renovou as demandas estruturais do município mais industrializado do Estado. Há projeto para a criação de um novo distrito industrial na região de Vila Oliva, junto ao futuro aeroporto de Caxias do Sul. A condição para a instalação de novos empreendimentos neste local será a inovação.
“Hoje temos uma dificuldade em encontrarmos novas áreas para a indústria na região, mas neste caso, já há o espaço e as ideias para algo diferenciado. Teremos, por exemplo, os sandbox, destinados aos testes e ações disruptivas desta nova indústria”, explica o secretário.
“Um ambiente em que, por exemplo, os nossos 200 maiores CNPJs demandam a qualificação dos menores para que sejam seus fornecedores e desenvolvam soluções, garante longevidade e um ambiente positivo para todos. É isso que o município tem procurado incentivar, com a qualificação de mão de obra, mas principalmente, com a qualificação de empreendedores”, aponta Gianni.
Conforme o Índice de Cidades Empreendedoras de 2023, Caxias do Sul foi considerada a primeira cidade inovadora do Rio Grande do Sul, e a sexta no País. Entre os avanços na legislação municipal, há um programa de fomento a startups, que abrigou o projeto piloto “Cidade Empreendedora”, do Sebrae. Com um investimento de R$ 250 mil a cada ciclo, a cidade já formou três turmas no programa que agora é replicado em outras cidades.
O programa contabiliza 80 startups certificadas em Caxias do Sul, com pelo menos 30 projetos rodando atualmente. “A verdade é que, quem está se internacionalizando percebe que aqui nós temos o ambiente mais favorável para o desenvolvimento de produtos e soluções, por isso, mantém as raízes. E quem estava saindo daqui, agora está voltando”, diz o secretário.
Do ponto de vista legal, também houve avanços, com a aprovação da Lei da Inovação, que garantiu a redução de impostos municipais para empresas com base tecnológica. Há um abatimento de 50% nos tributos para este tipo de atividade. O resultado, aponta Gianni, foi um aumento de 60% na arrecadação.
A mudança de perfil industrial também renovou as demandas estruturais do município mais industrializado do Estado. Há projeto para a criação de um novo distrito industrial na região de Vila Oliva, junto ao futuro aeroporto de Caxias do Sul. A condição para a instalação de novos empreendimentos neste local será a inovação.
“Hoje temos uma dificuldade em encontrarmos novas áreas para a indústria na região, mas neste caso, já há o espaço e as ideias para algo diferenciado. Teremos, por exemplo, os sandbox, destinados aos testes e ações disruptivas desta nova indústria”, explica o secretário.