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Publicada em 26 de Julho de 2024 às 16:15

Produção de proteína animal abre caminho para economia circular no Norte do RS

Biodigestores da Granja Kist dão destino correto a dejetos de animais e produzem biogás

Biodigestores da Granja Kist dão destino correto a dejetos de animais e produzem biogás

Granja Kist/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
A produção de proteína animal no eixo norte do Rio Grande do Sul tem papel fundamental na balança comercial e, por consequência, na economia dos municípios onde estão concentradas as criações, especialmente de suínos, e os frigoríficos, cada vez mais qualificados ao mercado externo. As exportações de carne e miúdos suínos mantêm municípios como Santa Rosa e Santo Ângelo entre os 25 maiores exportadores do Rio Grande do Sul. Nos dois locais estão instaladas unidades da Alibem, que movimentaram no primeiro semestre deste ano quase US$ 100 milhões em vendas ao exterior.
A produção de proteína animal no eixo norte do Rio Grande do Sul tem papel fundamental na balança comercial e, por consequência, na economia dos municípios onde estão concentradas as criações, especialmente de suínos, e os frigoríficos, cada vez mais qualificados ao mercado externo. As exportações de carne e miúdos suínos mantêm municípios como Santa Rosa e Santo Ângelo entre os 25 maiores exportadores do Rio Grande do Sul. Nos dois locais estão instaladas unidades da Alibem, que movimentaram no primeiro semestre deste ano quase US$ 100 milhões em vendas ao exterior.
O bom cartaz da produção gaúcha fora do País depende, cada vez mais, da comprovação de práticas sustentáveis e circulares em toda a cadeia produtiva. E neste aspecto, há uma grande oportunidade para os produtores gaúchos. Em Santa Rosa, a Granja Kist e Froelich virou modelo para toda a região pelo trabalho que realiza desde 2019, com a implantação de biodigestores que, além de darem um destino correto aos dejetos dos animais, garantem a produção de biogás, que abastece a propriedade com energia elétrica.
Hoje, a cada mês a propriedade recebe uma conta de luz de R$ 80. Não fosse a energia produzida pelos gases gerados no biodigestor, o custo só com a luz ficaria em torno de R$ 20 mil.
Em 2021, a planta de biogás foi a vencedora do Projeto GEF Biogás Brasil, liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e implementado pela Unesco, o que garantiu ainda mais recursos para avançar nas melhorias sustentáveis na propriedade.
"Ao lado do meu marido, iniciamos a granja há 13 anos, mas já era uma atividade que as famílias faziam há mais de 30 anos aqui na região. Quando compramos a granja, fomos obrigados a pagar uma multa gigantesca à Fepam, porque até então, os proprietários despejavam o esterco no solo diretamente. Depois de regularizarmos a propriedade para operar, o biodigestor se tornou uma opção em 2018, e no ano seguinte, começou a funcionar”, conta a proprietária da granja, Danieli Rambo.
A granja funciona como uma unidade de preparação de leitões. São 14 mil animais, sendo 2 mil fêmeas. É a primeira etapa da produção de suínos, que depois vão para outras propriedades para o engorde. Ao todo, são 26 funcionários no manejo da produção.
Diariamente, a granja produz 80 mil litros de dejetos, que primeiro passam por um processo de pré-fermentação, em uma lagoa. Após isso, o material passa pelo aquecimento e, com a injeção de oxigênio, dentro do biodigestor, é gerado o gás, transformado em energia elétrica.
Antes da implementação do sistema, a decomposição dos dejetos era natural, e o gás gerado por este processo, era lançado diretamente na atmosfera. Desde 2021, não há sequer sobra de gás na granja da Danieli. Com o investimento da Unesco, foi instalado um queimador, que evita a geração de gases. A lagoa, forrada com lonas, também não libera gases ao meio ambiente. Eles movimentam o motor do próprio biodigestor.
"No momento da venda dos leitões, preenchemos todo um check-list de boas práticas, que nos credenciam a participar da cadeia produtiva, mas ainda não há um selo ou um pagamento pela captura de carbono que estamos fazendo. O ganho, por enquanto, está mesmo na autossustentabilidade da propriedade", explica Danieli.

Trabalho iniciado em granja inspira pesquisa da universidade

O trabalho da Granja Kist e Froelich serviu de exemplo para a pesquisa iniciada em 2020 pela Unijuí, que tem como objetivo multiplicar o uso de dejetos da produção animal na região para a produção de biogás, biofertilizantes e, futuramente, a produção de biometano que poderá abastecer a indústria.
"Há um grande potencial. A energia produzida somente entre propriedades de cinco municípios produtores de suínos no Noroeste daria para abastecer 82 mil residências. Mas individualmente, a geração de energia por biodigestores não seria tão significativa e representa, em muitos casos, um custo elevado para o produtor. Então, começamos a fomentar a ideia como um projeto coletivo, que centralizaria o tratamento desses dejetos em um único lugar", explica a professora Fernanda Pereira, que coordena o projeto de uso de tecnologias para a conversão de resíduos em potencial energético.
Uma missão empresarial da região visitou uma cooperativa paranaense que implementou a ideia a partir de pequenos produtores. Lá, já há a geração de biogás e biofertilizantes. Após a visita, representantes de Boa Vista do Buricá e Nova Candelária já manifestaram interesse em encampar o projeto.
Agora, explica a pesquisadora, eles entrarão na parte logística do projeto, para planificar os investimentos necessários e o passo a passo da implantação. "Eles poderão optar pelo envio do gás gerado por biodigestores individuais encanado desde as propriedades, ou carregar os dejetos para uma central que produzirá o biogás", exemplifica.
A perspectiva, de acordo com Fernanda Pereira, é de que levando adiante a produção sustentável a partir dos dejetos de suínos seja possível até mesmo que os produtores possam expandir seus negócios. Em virtude da necessidade de tratamento de dejetos, muitos acabam limitando o número de animais e o espaço da produção.
Na região da Produção, em Vila Maria, a matéria-prima principal da empresa Fuga é o gado. Mas, neste estágio da produção, não mais para o abastecimento do mercado com carne ou couro, a especialidade da Fuga em sua sede, em Marau. Mas naquilo que restou, ou seria considerado resíduo da produção. É a chamada reciclagem animal.
Em números concretos, a empresa ilustra: 50% do peso do boi vai para a mesa, os outros 50% seriam descartados, não fosse a reciclagem. E ela é total em Vila Maria. A unidade é uma das oito da empresa espalhadas pelo Brasil, dedicadas aos subprodutos resultantes da reciclagem. Dentro da fábrica, os elementos deste resíduo são separados, e a gordura extraída é refinada, transformada em sebo. Torna-se matéria-prima, por exemplo, do biodiesel produzido pela própria Fuga a 11 quilômetros dali, em Camargo. Já as partes sólidas são transformadas em farinha de carne, osso e de sangue. Utilizados na produção de ração animal.
Mas o trabalho não termina aí. Em Vila Maria, a economia circular, que contribui para a redução de emissão de gases do efeito estufa, ainda movimenta biodigestores com a produção de biogás, a partir dos resíduos daqueles primeiros processos. O gás movimenta as caldeiras da fábrica, gerando economia em lenha.
O que sobra do biodigestor é transformado em biofertilizante nas áreas de reflorestamento da empresa, na própria região. Neste ano, a Fuga investe R$ 150 milhões entre as suas unidades de Rendering.

Municípios produtores de suínos

- Rodeio Bonito
- Aratiba
- Palmitinho
- Rondinha
- Santo Cristo
Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura

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