Imagine um banco de sangue no qual todos os dados das amostras formam uma espécie de mapa para diagnosticar problemas e apontar soluções que gerem rentabilidade e produtividade. Na empresa AgroPrecision, em Cruz Alta, o banco de dados coletado nos últimos anos, a partir de 125 mil amostras de solo, já chega a 400 mil hectares das lavouras gaúchas.
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“Com uma repetição cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul, torna-se muito mais importante este serviço de precisão na agricultura. Fazemos mapeamentos, coletas e análise da fertilidade permanente do solo. Isso porque as recomendações que serviam, por exemplo, há 10, 15 anos, já são diferentes hoje nas mesmas localidades. Em uma situação como a que vivemos neste ano, mesmo em áreas não inundadas, o volume de chuva acabou levando boa parte dos nutrientes do solo, e isso exigirá um reequilíbrio detalhado. Em situações de estiagem, a preocupação é em entendermos quanto a planta carrega de nutrientes ou deixa no solo”, explica o engenheiro agrônomo Rodrigo Rossato.
Ele lembra, por exemplo, que hoje as cultivares de soja têm ciclos de amadurecimento mais curto e os solos podem ser mais férteis. O desafio é garantir a eficiência plena na produção.
Nascido em Fortaleza dos Valos e formado pela UFSM, há 19 anos ele criou a AgroPrecision em Cruz Alta, no Alto Jacuí. Uma escolha estratégica. Cruz Alta tem o quarto maior PIB e o segundo maior VAB Agrícola do Norte do Estado. No berço do plantio da soja no Rio Grande do Sul, com produtores vacinados pela sequência de secas e de chuva em excesso, os investimentos – e por consequência a oportunidade para empresas como a de Rossato – no período pré-safra, com itens como o solo, as sementes e a fertilização, tornam-se obrigatórios. Um verdadeiro tema de casa.
A evolução tecnológica permite que hoje os especialistas na precisão tenham avançado, em menos de uma década, de uma média de cinco amostras, com 110 fatores de análise, em uma área de 100 hectares, para, nesta mesma área, obterem hoje 50 amostras, com 1.100 fatores de avaliação da fertilidade daquele terreno.
“Quanto mais informação, mais assertiva vai ser a lavoura. Tanto do ponto de vista da produtividade quanto da rentabilidade para o produtor. Por exemplo, 30% do desembolso em uma safra é com fertilizantes corretivos. Portanto, é muito caro. A nossa tarefa é gerar informações de qualidade para o produtor investir corretamente e com eficiência”, detalha o engenheiro agrônomo.
No período de escassez, os municípios do Norte e Noroeste perderam espaço no ranking de maiores áreas ou maior produtividade nas suas lavouras de soja. Agora, menos afetados pelos danos das cheias de maio, a colheita do grão que é o carro-chefe do agro gaúcho foi também menos afetada. O universo total da soja colhida no Rio Grande do Sul gira em torno de 20 milhões de toneladas nesta safra 2023/24.
“Os resultados estão se mostrando melhores do que os da grande safra de 2021 nessa parte do Estado. O Rio Grande do Sul, já está comprovado, é o Estado que mais sofre com as catástrofes climáticas. Foram justamente os esforços para empreender alta tecnologia e conhecimento no manejo correto do solo que jogaram a produtividade desta região, neste contexto, para cima. É uma conjunção entre resiliência e consciência na agricultura”, explica o diretor executivo da Fecoagro, Sérgio Feltraco.
“Os resultados estão se mostrando melhores do que os da grande safra de 2021 nessa parte do Estado. O Rio Grande do Sul, já está comprovado, é o Estado que mais sofre com as catástrofes climáticas. Foram justamente os esforços para empreender alta tecnologia e conhecimento no manejo correto do solo que jogaram a produtividade desta região, neste contexto, para cima. É uma conjunção entre resiliência e consciência na agricultura”, explica o diretor executivo da Fecoagro, Sérgio Feltraco.
Na avaliação do dirigente, o produtor não vai deixar de plantar soja mais ao sul do Estado, nas regiões do bioma Pampa, que na última década tiveram as lavouras multiplicadas, mas a tendência é de que o enfoque lá repita o que o produtor já aprendeu, pelos desafios climáticos, na parte Norte do Estado. Desde os esforços com o conhecimento da fertilidade do solo, à rotação de culturas e cobertura do solo.
Cobertura de solo e manejo correto fazem a diferença
Como as chuvas de maio atingiram as lavouras no período de colheita das culturas de verão, a estimativa dos especialistas é de muitas perdas em solos que não estavam cobertos.
“O investimento para as próximas safras será maior, e o nosso potencial produtivo tende a reduzir no próximo verão entre 5 a 10 sacos por hectare. O produtor terá que adicionar aos custos essa correção, e a resposta pode não vir a curto prazo”, diz Feltraco.
A preservação do solo é uma tendência crescente entre o Norte e Noroeste gaúcho. Não fosse o trabalho de plantio direto e cobertura de solo, como ressalta o responsável pelo setor de grãos e solos da cooperativa Cotripal, o engenheiro agrônomo Dênio Oerlecke, as perdas com a erosão provocada pelo alto volume de chuva seriam imensas.
Na cooperativa, que tem sede em Panambi, as perdas em maio não passaram de 5%. “Temos recomendado às vezes até que a cobertura do solo com rotação de culturas aconteça sobre a semeadura. Quando a soja começa a ficar amarela, no final do ciclo, em algumas propriedades já temos experiências de aviões passando e semeando sobre a mesma terra o milheto ou nabo forrageiro. Elas já vão nascendo quando a soja é colhida. Garante um ciclo permanente de nutrientes e protege o solo, por exemplo, contra os efeitos de chuvas volumosas”, aponta Rossato.
Na cooperativa Cotrisal, com sede em Sarandi, na região do Rio da Várzea, por exemplo, as perdas com as chuvas de maio foram estimadas em apenas 1%. Na cooperativa, há uma área experimental em Sarandi e outras 16 lavouras compartilhadas justamente para aplicar as técnicas de manejo sustentável.
“São ações como o manejo em contorno, em nível, e a cobertura do solo, por exemplo, após a colheita da soja e antes do plantio de inverno, como o trigo. Isso garante proteção ao solo e maior fertilização, mesmo com extremos como as estiagens, que têm nos preocupado nos últimos anos”, explica o gerente técnico da cooperativa, Márcio Witter.
Segundo ele, a safra deste ano pode ser considerada exemplar entre os 44 municípios e 700 mil hectares cultivados pelos 11,5 mil associados da Cotrisal. Em média, a cooperativa chegou a 3,6 toneladas por hectares de soja. Segundo melhor resultado em dez anos.
Como resultado desta melhora, a Cotrisal investe neste ano R$ 74,3 milhões entre obras e equipamentos em quatro estruturas de armazenagem de grãos, em São José do Inhacorá, Liberato Salzano, Gramado dos Loureiros e Sarandi.
Safras de verão
Municípios com maiores áreas plantadas:
Soja (2022)
_ Palmeira das Missões: 110 mil hectares
_ Cruz Alta: 92,2 mil hectares
_ São Luiz Gonzaga: 78,8 mil hectares
_ Jóia: 78 mil hectares
_ Santa Bárbara do Sul: 76,9 mil hectares
Milho (2022)
_ Palmeira das Missões: 14,5 mil hectares
_ São Luiz Gonzaga 12 mil hectares
_ São Miguel das Missões 7 mil hectares
_ Lagoa Vermelha 7 mil hectares
_ Doutor Maurício Cardoso 6,5 mil hectares
Fonte: IBGE
Soja (2022)
_ Palmeira das Missões: 110 mil hectares
_ Cruz Alta: 92,2 mil hectares
_ São Luiz Gonzaga: 78,8 mil hectares
_ Jóia: 78 mil hectares
_ Santa Bárbara do Sul: 76,9 mil hectares
Milho (2022)
_ Palmeira das Missões: 14,5 mil hectares
_ São Luiz Gonzaga 12 mil hectares
_ São Miguel das Missões 7 mil hectares
_ Lagoa Vermelha 7 mil hectares
_ Doutor Maurício Cardoso 6,5 mil hectares
Fonte: IBGE