O peso da indústria do calçado e do couro para o Vale do Sinos é preponderante. Entre Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapiranga, Dois Irmãos, Estância Velha e Nova Hartz, que figuram entre os 50 maiores municípios exportadores gaúchos, entre janeiro e outubro deste ano foram comercializados US$ 396,11 milhões entre calçados e couros.
Novo Hamburgo é a capital dos calçados, mas o maior volume negociado - US$ 120,7 milhões - saiu de Sapiranga. É onde a Calçados Beira Rio opera com duas filiais e é a empresa com maior valor agregado do município - 15% da economia local. São 1,3 mil funcionários empregados entre a produção de calçados e o centro de distribuição da empresa - em breve deve ultrapassar 1,4 mil funcionários.
De acordo com o diretor industrial da empresa, João Heinrich, as unidades de Sapiranga respondem por 27% da produção da Calçados Beira Rio. Dali, saem produtos de sete marcas. E a produção está em fase de expansão. São investidos R$ 52,7 milhões entre a reestruturação no setor de cortes, preparando para ampliação da capacidade produtiva no futuro, a construção de novo prédio dedicado à logística, com 13,3 mil metros quadrados e de novas estruturas para os funcionários.
Concomitantemente, o centro de distribuição passa por ampliação. A intenção, segundo Heinrich, é aumentar a eficiência logística no envio de mercadorias das 11 fábricas espalhadas pelo Rio Grande do Sul.
Sapiranga está entre os municípios do Vale do Sinos que, no ano passado, produziram 91,7 milhões de pares de calçados - 65% da produção gaúcha e o terceiro principal polo produtor de calçados do Brasil (12% da produção nacional). Estão no Vale do Sinos a maior concentração de empresas do setor e o maior volume de pessoas empregadas na produção.
Mesmo que o mercado calçadista enfrente dificuldades nas exportações, com a concorrência asiática e a abertura do mercado nacional, no Vale do Sinos a exportação tem papel importante. A região foi a que mais faturou com vendas ao exterior no ano passado.
A explicação para a penetração maior do produto gaúcho, de acordo com o gerente de marketing e estratégia da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Cristian Schlindwein, está não somente na qualidade da produção e no desenvolvimento da inteligência do mercado do calçado na região onde fica, por exemplo, o Instituto Brasileiro do Couro e do Calçado. A indústria gaúcha avança rapidamente para atender com maior qualidade às exigências de sustentabilidade dos principais mercados.
Ações ambientais garantem mercados ao calçado gaúcho
"Há mais de 10 anos, lançamos a ideia de um programa de sustentabilidade, detectamos este movimento internacional e que acabaria limitando as possibilidades de empresas que ficassem fora. Era preciso um aculturamento e o reconhecimento a quem já adotava essas práticas. Hoje, todo o caminho do material que resultará em um calçado tem sua origem acompanhada para ser certificada. Estamos falando de couro, metal, produtos químicos. A rastreabilidade caminha para ser completa. É uma análise da empresa em todos os seus processos, e não só do produto que ela oferece", explica o gerente de marketing e estratégia da Abicalçados, Cristian Schlindwein.
Quem segue o caminho da certificação de origem sustentável, e avançando, é a Via Marte, de Nova Hartz, que hoje tem o selo Prata. A empresa tem apostado na produção de tênis casuais. E é justamente nessa linha que desenvolve o seu principal projeto de economia circular e sustentabilidade. São pelo menos 15 mil pares por dia - metade de toda a produção da empresa - equipados com palmilhas e amortecedores com origem no reaproveitamento de aparas de tecidos da própria produção da Via Marte.
"Tratamos de incluir os nossos fornecedores nessa busca por mais sustentabilidade na nossa produção e nos nossos produtos, e temos obtido muito ganho no mercado. Esse produto tornou-se uma referência de qualidade para o Brasil inteiro, inclusive como um poderoso argumento de vendas", garante o gerente de sustentabilidade da Via Marte, Elizeu Fontes.
A inovação nos tênis casuais começou com a parceria com a empresa Ambiente Verde, que recolhia as sobras dos cortes e desenvolveu as palmilhas com o material sintético, reduzindo drasticamente os resíduos gerados pela produção. O próximo passo incluiu mais uma parceira, além da própria Ambiente Verde, a Tacosola, que criou um modelo de amortecimento para os calçados também a partir de materiais que eram descartados.
"Há 20 anos não destinamos nada a aterros. Os tênis casuais começaram a ser produzidos há oito anos, e se tornaram um diferencial que integrou perfeitamente essa política de redução de resíduos. O que não é reutilizado é encaminhado para coprocessamento. Nova Hartz, por exemplo, não tem tratamento de esgoto, mas na Via Marte nós fazemos o tratamento da água", explica o gerente industrial e de materiais da empresa, José Aléssio da Silva.
Criada em 1977, hoje a Via Marte tem 2,5 mil funcionários entre duas unidades industriais em Nova Hartz e ainda uma unidade de costura em Igrejinha. São 15% da produção destinados à exportação.
Estância Velha é referência na produção de couro
Se Novo Hamburgo é a capital do calçado, Estância Velha é a referência na produção de couros no Vale do Sinos. O setor também participa do programa de certificação de origem, e é ainda mais controlado internacionalmente para adotar boas práticas de produção. A produção coureira é diretamente responsável por Estância Velha figurar como o 37º município gaúcho que mais exportou nos 10 primeiros meses do ano. Exportou US$ 37 milhões em couros neste ano - 56,2% do total das vendas locais ao Exterior.
O Instituto de Tecnologia em Couro e Meio Ambiente, do Senai, que funciona no município, é um exemplo de como o desenvolvimento do conhecimento cria oportunidades para a economia regional. O local é hoje uma referência internacional na produção coureira. "É uma escola única no Brasil e na América Latina, com essa especialização. A cada ciclo, recebemos alunos que vêm do Brasil inteiro, dos vizinhos da América do Sul e até da China e dos Estados Unidos", conta a professora do curso Técnico de Curtimento, Tatiana Link.
São 200 alunos em formação com técnicas de curtimento, a maior parte, já atuando no setor, mas em busca de qualificação. E aí, a cadeia produtiva onde este conhecimento é multiplicado é gigante, com diversos produtos feitos a partir do couro.
O setor coureiro-calçadista no Vale do Sinos
- Em 2023, o Vale do Sinos foi a 3ª região do País que mais produziu calçados, foram 91,7 milhões de pares (12,6% da produção nacional)
- A região emprega 32,7 mil pessoas no setor e é a que mais gera empregos no País (15% do total do Brasil)
- A região concentra o maior número de empresas do setor calçadista entre todas as regiões produtoras do País, são 831 empresas (20,9% das empresas do Brasil)
- Somente entre Novo Hamburgo, Sapiranga, São Leopoldo, Dois Irmãos, Estância Velha e Nova Hartz, o Vale do Sinos exportou quase US$ 400 milhões entre calçados e couros entre janeiro e outubro. O setor prevê queda acima de 15% nas exportações em 2024, mas com recuperação em 2025.
- 70% das empresas certificadas pelo Programa Origem Sustentável, da Abicalçados, são gaúchas
FONTE: Abicalçados.
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