A onda de novos investimentos em Guaíba não desacelerou, mesmo após as cheias de maio. Para os primeiros meses de 2025, é esperado pelo município a confirmação de que a Toyota investirá na ampliação do seu Centro de Distribuição (CD), que serve como porta de entrada para os veículos produzidos pela montadora na Argentina. Com o novo aporte, a intenção é de que dois novos modelos, pelo menos um deles híbrido, sejam finalizados no município antes de entrarem no mercado brasileiro. Atualmente, Hilux e SW4 já passam por este processo de acabamento industrial na cidade da Região Metropolitana, movimentando uma cadeia de fornecedores locais.
"A Toyota divide com a CMPC as maiores arrecadações do município. Estamos muito otimistas porque a confiança de todos os grandes investimentos que estavam previstos para Guaíba foi mantida. A economia local está aquecida e seguimos investindo para garantir segurança a essa evolução que estamos vivendo", diz o prefeito Marcelo Maranata.
A expectativa é que Guaíba, com o sétimo maior PIB entre as regiões retratadas neste recorte do Estado, mas fora dos 10 maiores PIBs gaúchos em 2021, chegue rapidamente à quinta maior economia do Estado. E as perspectivas positivas apontam para diversos setores econômicos. Da celulose à aviação, passando pela logística e o setor de saúde.
E nesta linha de montagem do novo perfil de Guaíba, entra a alta tecnologia desenvolvida pela TK Elevator. Como parte do seu plano de investimentos de R$ 50 milhões em dois anos, a empresa traz para a cidade da Região Metropolitana o seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Global. "A produção em Guaíba é estratégica para a empresa. Não se trata de uma filial gaúcha ou brasileira. Aqui está centralizada a nossa produção de elevadores da América Latina e, a partir de Guaíba, atendemos a toda a demanda de 13 países", diz o CEO da empresa, Paulo Manfroi.
Enquanto na parte produtiva a empresa aposta na modernização dos equipamentos e da fábrica, um prédio de quatro andares é erguido para abrigar este novo centro, com obras que iniciaram neste semestre. Serão 250 pessoas neste local com a missão de desenvolver produtos para toda a multinacional alemã. Hoje, já são 180 engenheiros atuando em Guaíba. "É uma cadeia produtiva extremamente positiva para o município. Hoje, os sistemistas da TK já produzem aqui chips e cabeamentos, por exemplo. A inovação está cada vez mais presente aqui", valoriza o prefeito.
A expansão projetada por Guaíba inclui a criação, em uma área de 200 hectares junto ao bairro Logradouro, da chamada "cidade industrial", para novos empreendimentos, e que incluirá a construção de uma nova subestação de energia. O investimento na estruturação desta área vem de um financiamento recém aprovado pelo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), que pode chegar a US$ 70 milhões, e tem como principal projeto a transformação da orla de Guaíba. "Fomos classificados por este fundo como uma das localidades prioritárias a serem recuperadas após a cheia. E o turismo é parte fundamental deste nosso projeto de cidade para o futuro", comenta Maranata.
O projeto inclui, além da revitalização de estruturas como a escadaria histórica do município, um píer, hotéis e um novo centro comercial. A partir das cheias, que atingiram fortemente regiões mais populosas da cidade, como a Cohab Santa Rita, o município já investe R$ 30 milhões em ações de desassoreamento de arroios, drenagem de canais e barreiras de contenção. Em ações que, como define Maranata, garantirão não somente a segurança aos moradores, mas também aos investidores.
Município se destaca com 90% das exportações a partir de fábrica da CMPC
Entre os 12 municípios das Regiões Metropolitana, Vale do Sinos e Litoral Norte que figuram entre os 50 principais exportadores do Rio Grande do Sul, Guaíba foi o que registrou maior percentual de crescimento nos negócios fora do Brasil nos primeiros 10 meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2023, de 13,8%. Entre janeiro e outubro deste ano, Guaíba foi o quinto município com maior volume de vendas ao exterior, tendo negociado US$ 953,1 milhões neste período – 90,9% em celulose e materiais de papel.
Nesta balança comercial, setores produtivos como o do couro e de alimentos, no Vale do Sinos, também tiveram leve alta. Por outro lado, importantes produtos na balança comercial da Região Metropolitana, como os polímeros, a partir do Polo Petroquímico de Triunfo, veículos e ferramentas sofreram quedas no período.
No caso de Guaíba, os números são resultado direto da operação da CMPC, a empresa responsável pela maior parte da arrecadação do município, e que exporta 96% da sua produção. Neste ano, a multinacional anunciou o maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul para uma nova operação, em Barra do Ribeiro. Mas a fábrica de Guaíba segue sendo valorizada.
"A unidade de Guaíba é de classe mundial, altamente competitiva. E para o nosso setor, o Rio Grande do Sul tem o melhor ambiente do Brasil. Os plantios florestais crescem rápido e com mais densidade pelas condições climáticas. Foi um dos principais motivos que fizeram a empresa escolher o Estado para o novo investimento, cada vez com maior preocupação com a sustentabilidade. Hoje, aproveitamos 56% das nossas áreas destinadas ao plantio e 44% é mantido para preservação de ambientes naturais. Hoje, em toda a operação, somos carbono negativo", explica o diretor.
A produção tende a aumentar em 20%, e já houve redução significativa no volume de água utilizado para a produção de celulose, também recorde em julho, e uma drástica redução, em torno de 15 mil toneladas, no uso de carvão nas operações. A estimativa é de que somente entre julho e setembro, a operação em Guaíba deixou de lançar 420 mil toneladas de gases do efeito estufa na atmosfera.
"O BioCMPC praticamente descarbonizou a nossa linha de produção, com o corte do carvão mineral. E com a operação em Barra do Ribeiro, seremos um polo de produção de 5 milhões de toneladas de celulose por ano com esses padrões. Não temos conhecimento de algo parecido no mundo", diz Lacerda.
Um polo que tende a multiplicar também os ganhos para a economia local. Hoje, com uma planta industrial, a CMPC contabiliza 2,3 mil empresas fornecedoras em Guaíba. E para facilitar o avanço além dos muros da multinacional, está entre os investimentos incluídos no Projeto Natureza da CMPC, que injetará R$ 24 bilhões na economia gaúcha, mas com recursos do município, do Estado e de emendas parlamentares, a pavimentação da estrada interna que liga Guaíba a Barra do Ribeiro. Por fora, pela rodovia, este trecho seria de 60 quilômetros. Com a melhoria das condições da estrada local, a distância cai para 18 quilômetros.
Indústrias papeleiras da região também investem
O ciclo positivo puxado pela CMPC tem trazido consigo também o avanço das indústrias de papel da região. A própria CMPC produz papéis, mas também fornece a matéria-prima para empresas como a Santher, no próprio município de Guaíba, que deve iniciar um ciclo de investimentos para ampliar a sua produção na cidade.
Já em Gravataí, a Astória, fortemente atingida pelas cheias, inicia um investimento de R$ 63 milhões na sua planta industrial. Além de expandir o parque e renovar a estrutura de máquinas para modernizar a produção, a empresa destinará parte do recurso um novo sistema inovador, que terá fontes de biomassa, além da automatização, na caldeira de geração de vapor, com o objetivo de aumentar a eficiência produtiva com mais sustentabilidade.
A produção de papéis responde por menos de 1% das exportações de Gravataí, no entanto, nos primeiros nove meses deste ano, a Astória registrou alta de 22% nas vendas ao exterior em comparação com o mesmo período do ano passado.
O ranking dos municípios deste recorte do Mapa nas exportações
* Porto Alegre (4º do RS): 75,9% soja, arroz, milho e trigo (-21,1% em relação a 2023 - comparação janeiro a outubro)
* Guaíba (5º do RS): 90,9% celulose e papéis (+13,8% em relação a 2023)
* Triunfo (6º do RS): 96% polímeros, éteres, hidrocarbonetos (-0,6% em relação a 2023)
* Gravataí (11º do RS): 50,6% automóveis e partes de veículos (-10,5% em relação a 2023)
* São Leopoldo (12º do RS): 51% ferramentas, aparelhos mecânicos (-9,6% em relação a 2023)
* Canoas (15º do RS): 36% transformadores elétricos, 25,9% tratores, 22,9% óleo e coque de petróleo (-1,2% em relação a 2023)
* Novo Hamburgo (19º do RS): 58,7% calçados e partes de calçados (-0,9% em relação a 2023)
* Sapiranga (19ª do RS): 91,8% calçados (-9,9% em relação a 2023)
* Dois Irmãos (37º do RS): 82,6% calçados e partes de calçados (-9,9% em relação a 2023)
* Estância Velha (39º do RS): 56,2% couros (+2,7% em relação a 2023)
* Esteio (43º do RS): 34,5% preparações alimentícias, 28,3% peptonas, sais e hidróxidos de amônia, 13,2% vassouras e escovas (+6,8% em relação a 2023)
* Nova Hartz (50º do RS): 91% calçados (-14,1% em relação a 2023)
Fonte: Ministério do Comércio Exterior
Cadeia produtiva papeleira
* 96% da produção de celulose da CMPC em Guaíba é destinada à exportação
* No mercado gaúcho, são pelo menos 3 grandes papeleiras abastecidas (CMPC, Santher e Astória)
Silvicultura
* Região Metropolitana 36,5 mil hectares (94% eucaliptos)
* Litoral Norte 38,8 mil hectares (60,3% pinus, 39,7% eucaliptos)
Fonte: Ageflor