O potencial da Região Metropolitana de Porto Alegre para a inovação na economia deve ser multiplicado nos próximos anos a partir de Eldorado do Sul, um dos municípios mais afetados pelas cheias de maio. É lá que a Scala Data Centers anuncia, e já assinou um protocolo de intenções com o governo estadual, a criação da sua "cidade dos datacenters", ou da Inteligência Artificial, o Scala AI City. Somente na primeira etapa do projeto, são previstos R$ 3 bilhões para erguer o projeto com capacidade de processamento de 54 MW em dados de Inteligência Artificial e também, em menor parte, para dados em nuvem, como já acontece em outros datacenters locais.
"O grande desafio do Brasil hoje, para avançar na transição digital, especialmente em Inteligência Artificial, é infraestrutura. O nosso negócio é a infraestrutura em data centers, portanto, investimentos a longo prazo. Sem data centers, essa mudança não vai acontecer no País, e nós temos uma grande oportunidade. E o que teremos em Eldorado do Sul, não tem nada igual no mundo. É uma chance de criarmos a infraestrutura para que aquilo que se tem, por exemplo, no Vale do Silício, se estabeleça aqui, como referência para a América Latina e o mundo", aponta o vice-presidente de desenvolvimento da Scala Datacenters, Luciano Fialho.
Segundo Fialho, hoje, o treinamento, ou a evolução para algoritmos, dos processadores para Inteligência Artificial, que será a especialidade do novo empreendimento, acontece somente nos Estados Unidos. A próxima etapa será a de treinamento e aplicação deste desenvolvimento. E a perspectiva, aponta o dirigente, é a entrada, a partir de 2025, com força da Inteligência Artificial na América Latina. Daí o objetivo de criar uma "cidade de data centers".
A projeção dos empreendedores é, em até uma década, chegar a 5 GW de capacidade de processamento, que atenderia à atual demanda estimada para a América Latina nos próximos anos. E se houver avanços na legislação brasileira em relação ao processamento de dados estrangeiros no País, aí o avanço em relação à capacidade do Scala AI City aumenta ainda mais. São estimados em até R$ 500 bilhões aportados em caso de chegada ao máximo projetado.
Eldorado do Sul já abriga setores de desenvolvimento da Dell e de produção de equipamentos e softwares da Datacom. No entanto, o universo que se criará a partir da "cidade dos datacenters", aponta Luciano Fialho, terá um novo patamar, e poderá inclusive estimular ainda maior desenvolvimento de quem já opera na região.
"Será movimentada toda uma cadeia de fornecedores que certamente terão a tendência de serem atraídos para cá. Hoje, os geradores e coolers que usamos não são produzidos no Brasil. Uma empresa em São Paulo desenvolve os nossos módulos de datacenters. Com este projeto ganhando força, vamos atrair toda uma nova cadeia produtiva para esta região onde já temos muita mão de obra qualificada", explica Fialho.
Primeira fase do empreendimento vai gerar 3 mil vagas de emprego
Entre a fase de obras e de operação da primeira fase do empreendimento, serão 3 mil vagas de emprego. Uma área de 700 hectares já foi comprada pela Scala em Eldorado do Sul, resultando em uma arrecadação de R$ 700 mil ao município em ITBI. Na primeira fase, serão usados 70 hectares com as estruturas de datacenters. A área total, com o avanço do projeto ao seu máximo, poderá chegar a 1 mil hectares. Fica em uma região não atingida pelas cheias.
"Foi fundamental na nossa decisão de trazermos o projeto para Eldorado do Sul a disponibilidade de energia, a proximidade de uma Região Metropolitana, área disponível para essa construção horizontal, uma região bem servida por rodovias e a proximidade com um aeroporto internacional, além da mão de obra muito qualificada", detalha Luciano Fialho.
O ponto-chave para a definição do Scala AI City foi a área praticamente ao lado da Subestação Guaíba 3. Outro ponto essencial para um projeto deste tipo é a disponibilidade hídrica, usada para a refrigeração dos equipamentos. "Na primeira fase, teremos uma demanda de 54 MW, e a subestação já existente atende a uma demanda 1,7 GW, podendo chegar a 5 GW. Há uma quantidade enorme de energia que hoje não é consumida na região, uma situação única que constatamos a partir de um levantamento em todo o País. Para a refrigeração, nosso sistema praticamente não capta água. Tudo é feito por meio de reuso da água em um circuito fechado", aponta.
Mesmo com a disponibilidade de energia já existente suficiente para os data centers, o plano do governo estadual é impulsionar ainda mais a geração de energia limpa no Estado, para que o projeto seja energeticamente 100% sustentável.