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Publicada em 05 de Novembro de 2024 às 17:05

Exportação garante nova perspectiva para noz-pecã no Centro do RS

Maiores áreas de cultivo em solo gaúcho estão em municípios das Regiões Central, Vales e Jacuí Centro

Maiores áreas de cultivo em solo gaúcho estão em municípios das Regiões Central, Vales e Jacuí Centro

IBPecan/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
O que poderia ser um cenário de terra arrasada, com a constatação de perdas que chegam a 80% da safra em virtude dos efeitos das cheias de maio, no futuro próximo soa como oportunidade para os produtores de noz-pecã, que têm entre os municípios das Regiões Central, Jacuí Centro e Vales do Taquari e Rio Pardo as suas maiores áreas de cultivo de nogueiras.
O que poderia ser um cenário de terra arrasada, com a constatação de perdas que chegam a 80% da safra em virtude dos efeitos das cheias de maio, no futuro próximo soa como oportunidade para os produtores de noz-pecã, que têm entre os municípios das Regiões Central, Jacuí Centro e Vales do Taquari e Rio Pardo as suas maiores áreas de cultivo de nogueiras.
Isso porque, enquanto o setor ainda fazia a contabilidade dos prejuízos, logo no início da fase de colheita, era selado o acordo comercial para que o Brasil passe a exportar noz-pecã com casca para o mercado chinês. Uma negociação que vinha sendo costurada desde 2019, e tem no Rio Grande do Sul os maiores interessados.
O País é o quarto maior produtor mundial do fruto, e o Estado responde por 70% da cultura. No mundo, da média de 320 mil toneladas de pecã produzidas anualmente, a China importa 14%.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan), esta garantia de mercado será uma segurança para os produtores investirem na retomada das áreas e estruturas destruídas nas cheias. As exportações não são exatamente uma novidade para o setor, mas a abertura desta nova janela abre espaço também para o desenvolvimento, principalmente, qualitativo na produção gaúcha.
"É uma cultura que vem em crescimento nos últimos anos, mas também vem enfrentando um cenário climático desafiador. Temos colocado em pauta a importância de investimento, pelo produtor, em sistemas de irrigação eficientes e no manejo correto e ambientalmente responsável da nogueira, são exigências do mercado internacional. Os obstáculos mais recentes, porém, serão favoráveis a nos levar a um maior desenvolvimento genético da planta, algo que ainda não acontece muito no Brasil. Temos adaptado com variedades americanas e avançado no manejo", comenta o diretor da Divinut, Edson Ortiz.
A empresa já exporta para a Europa, Oriente Médio, África e Estados Unidos | Divinut/Divulgação/JC
A empresa já exporta para a Europa, Oriente Médio, África e Estados Unidos Divinut/Divulgação/JC
A empresa de Cachoeira do Sul tem uma das principais indústrias descascadoras e exportadoras gaúcha. No município, que recebeu o título de capital sul-americana da noz-pecã por concentrar a maior produção do Estado – 1,3 mil pomares –, Ortiz mantém o maior viveiro de mudas de nogueiras do mundo, com 400 mil mudas em preparo em uma área de um hectare.
"Nós vendemos as mudas, prestamos acompanhamento técnico durante a produção e compramos de mais de 4,5 mil produtores em todo o Sul do País. Quando retorna à indústria, nós fazemos o descasque e também é moída para produção de farinhas. Somos os únicos no Estado que exportamos a noz-pecã descascada, e aqui, aproveitamos 100% do fruto, com a geração de óleo e da casca, com terceirizados, para cosméticos. E também, com o restante da casca, geramos energia na nossa própria produção, além dos resíduos, que se tornam substrato compostado para as mudas, e também viram biomassa", explica o empresário.
No ano passado, a Divinut encerrou um investimento de R$ 10 milhões para multiplicar a sua capacidade, chegando a 30 toneladas por dia, com o uso de 12 máquinas descascadoras, quatro embaladoras e seis docas de expedição. Durante 20 anos, a indústria havia operado com apenas um descascador. A empresa já exporta para a Europa, Oriente Médio, África e Estados Unidos, em um movimento iniciado em 2018, a partir de parcerias com outras empresas. Em 2021, a partir da primeira remessa para Israel, a Divinut virou um ator neste mercado.

Pecanicultura já injetou R$ 1 bilhão na economia

Um avanço que é coletivo. O IBPecan mantém uma parceria de cooperação técnica com a Embrapa, com o chamado Pecan 2030, para desenvolver pesquisa e desenvolvimento, além de definir diretrizes para a produção da noz-pecã. A parceria avança para a terceira safra de acompanhamento, no projeto que encerrará em 2030.
A safra deste ano já tinha uma previsão de redução em torno de 40% em relação às 6,2 mil toneladas colhidas no Rio Grande do Sul em 2023, em virtude do excesso de chuvas no ano passado no período da florada das nogueiras. Em maio, justamente quando iniciava a colheita, veio a enxurrada que, conforme relatório do instituto, gerou perdas estruturais em até 15% da cadeia produtiva, atingindo diretamente 540 dos 1,5 mil pecanicultores gaúchos em 7 mil hectares.
E houve ainda a perda da noz-pecã que já estava no chão, e foi arrastada, ou nas nogueiras, algumas levadas pela enxurrada e outras com a colheita inviabilizada. Ao final, a estimativa do IBPecan é de que a safra deste ano não ultrapasse 2 mil toneladas.
Em seu plano de recuperação, o IBPecan apresentou a necessidade de R$ 260 milhões em socorro ao setor. Um pomar de nogueiras leva oito anos para se tornar produtivo, e o IBPecan calcula que construir um hectare de pecã custe mais de R$ 85 mil, sendo que, com irrigação, a conta aumenta até R$ 130 mil.
Nos últimos anos, a instituição contabiliza em pelo menos R$ 1 bilhão já investidos pelo setor no Estado, entre a produção e a infraestrutura.
Por ser uma cultura limpa, e que garante sequestro de carbono, a pecanicultura conta com incentivo federal em financiamentos, com carências que chegam a 12 anos. Para culturas como o tabaco, por exemplo, não há este incentivo.

Municípios produtores de noz-pecã nas Regiões Central e dos Vales

* Cachoeira do Sul
* Anta Gorda
* Santa Maria
* Rio Pardo
* Santa Cruz do Sul
Fonte: IBPecan

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