Pode parecer contraditório, mas é justamente em meio à região onde há expansão da soja que ganha força a produção apícola, inclusive com a formação do Arranjo Produtivo Local da Apicultura do Vale do Jaguari, com a intenção de criar um selo de procedência para o mel produzido na região. É bem verdade que foi antes da grande escalada da lavoura da soja, na década de 1960, que Adi José Pozzatto resolveu apostar na criação de colméias no interior de Santiago para que as abelhas produzissem o mel. Surgia ali o Apiário Padre Assis, que hoje conta com cinco mil colméias e reforça a produção com outros 35 parceiros cadastrados.
Pode parecer contraditório, mas é justamente em meio à região onde há expansão da soja que ganha força a produção apícola, inclusive com a formação do Arranjo Produtivo Local da Apicultura do Vale do Jaguari, com a intenção de criar um selo de procedência para o mel produzido na região. É bem verdade que foi antes da grande escalada da lavoura da soja, na década de 1960, que Adi José Pozzatto resolveu apostar na criação de colméias no interior de Santiago para que as abelhas produzissem o mel. Surgia ali o Apiário Padre Assis, que hoje conta com cinco mil colméias e reforça a produção com outros 35 parceiros cadastrados.
Ao todo,
a estimativa é de que existam 35 mil colméias produtivas no Vale do Jaguari. Dali, sai 10% da
produção de mel do Rio Grande do Sul. A partir de um trabalho organizado pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões (URI), é esperado que, no prazo de um ano, seja possível oficializar o
certificado do Mel do Vale do Jaguari. Seria um novo alento para o setor que, como recorda Pozzatto, vive de idas e vindas na relação com o agro da região.
"O resultado das nossas produções varia muito. Podemos considerar que, em média, em um ano normal, se produza 60 quilos de mel anuais por colmeia, mas na primavera passada, ficamos em torno da metade disso. Na verdade, produzimos muito mais em anos anteriores, mas, por causa da lavoura, dos agrotóxicos usados principalmente na produção da soja, os resultados diminuíram muito. Tivemos uma relação bem complicada por um tempo, mas hoje, eu diria que estamos evoluindo", conta o produtor.
A maior conscientização dos agricultores em relação ao uso de agrotóxicos é um fator, mas principalmente o avanço da cultura da canola nas propriedades da região. A canola, conta Adil Pozzatto, precisa da polinização das abelhas. Era o que faltava para um convívio mais harmônico, com ganhos dos dois lados. Hoje, entre os apicultores integrados do Apiário Padre Assis, por exemplo, 10 desenvolvem as colmeias dentro da lavoura de canola.
"Passou a se usar a apicultura migratória, com as colméias indo para onde está a florada, inclusive em áreas de soja. A maior parte, porém, em torno de 70%, fica nas áreas de eucaliptos das reflorestadoras da região", comenta Pozzatto.
Entre 2015 e 2020, coincidentemente, o período em que o Vale do Jaguari passou a representar boa fatia da produção de soja gaúcha, a perda de abelhas em virtude dos agrotóxicos foi imensa. O prejuízo para os apicultores é maior ainda. Para que se tenha uma ideia, até 2011 a região ganhava espaço no mercado externo com o mel orgânico, mas a perda de áreas de mata e o excesso das lavouras alterou a qualidade do produto, que passou a ser barrado na Europa.
A partir de 2020, houve a retomada, e também uma nova valorização do mel do Vale do Jaguari, com a compreensão de que o produto originário da polinização de forrageiras tem mais valor para a indústria do que como mel de mesa. Conforme dos dados do Ministério do Comércio Exterior, entre janeiro e agosto deste ano, o município de Jaguari exportou US$ 484 mil em mel natural para os Estados Unidos, um crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. É o único produto da economia do município negociado no exterior.
Em Santiago, o Apiário Padre Assis também destina uma parte da sua produção à exportação, mas por meio de uma empresa associada, de Santa Catarina. A aposta da empresa do precursor da produção de mel na região agora está na inovação a partir de produtos resultantes da diluição do mel, como forma de agregar valor ao produto.
Já são produzidos pelo apiário cerveja, vinagre, própolis e produtos à base de própolis, além do licor de mel. Ainda neste ano, deve ser lançado o hidromel. Em breve, antecipa o empresário, devem estar no mercado o whisky e o conhaque a partir do mel.
"Ainda estamos em uma região estratégica, mas o apicultor precisa ter consciência de que, com as mudanças climáticas que estamos vivendo, a nossa produção é um setor sensível. As floradas vão ficar mais curtas, então, o manejo para desenvolver o enxame de forma a produzir em um período curto será essencial. Temos alguns produtores que, inclusive, já desenvolveram um calendário de floradas mais curto e bem definido. É o que fará a diferença nessa nova realidade ambiental", ensina.
A produção de mel no Vale do Jaguari:
- Rio Grande do Sul conta com cerca de 438 mil caixas de colméias declaradas à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), com 19,6 mil produtores. O Vale do Jaguari responde por 10% da produção gaúcha;
- Em 2022, o Rio Grande do Sul exportou produtos apícolas para 30 países, gerando US$ 10,1 milhões.
A apicultura na região:
Municípios que concentram a produção de mel:
Santiago
Jaguari
Cacequi
Capão do Cipó
Mata
São Franciso de Assis
São Vicente do Sul
FONTES:SEAPI, 2022, URI