Centro do Rio Grande do Sul é referência em inteligência climática

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mantém, junto à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um centro equipado

Por Eduardo Torres

Questão climática ganhou mais relevância após enchentes; Santa Maria e Pelotas formam meteorologistas
A fábrica de produtos de limpeza Fontana até criou um plano de prevenção a cheias do Rio Taquari, em Encantado, no Vale do Taquari. Mas, sem informações técnicas suficientes que antecipassem os perigos com maior exatidão, após três enxurradas, em setembro e novembro do ano passado, e em maio deste ano, a empresa acumula um prejuízo de R$ 50 milhões estruturais e outros de até R$ 100 milhões projetados em perda de mercado neste período.

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Estrutura de alerta a eventos meteorológicos em Lajeado

Em outubro, o governo estadual confirmou que se movimenta para estruturar um centro regional, mas com características de Defesa Civil, alerta e resposta a eventos climáticos extremos, em Lajeado. A ideia, que faz parte do Plano Rio Grande, é alugar ou erguer uma estrutura que contemple salas de situação, com telas para monitoramento e radares meteorológicos, que auxiliem na prevenção e atendimento de fenômenos, como a enchente de maio. O plano também é dar condições para a operação de um gabinete de crise e para recepção de prefeitos, autoridades e equipes que precisem se deslocar para acompanhar eventos meteorológicos.
Conforme o governo, o Centro Regional de Gestão de Risco e Desastres deve ser inaugurado ainda em 2025. Em Lajeado, já há um Centro de Informações Hidrometeorológicas (CIH), mantido pela Univates, que monitora as condições meteorológicas no Vale do Taquari e o comportamento hidrológico do rio Taquari e de seus afluentes.

Fator decisivo nos negócios

É a interferência do clima, por exemplo, que faz com que indústrias produtoras de chocolate como a Neugebauer estejam mobilizadas para encontrar alternativas, como o plantio de cacau no Brasil. Uma crise climática na África provocou o aumento nos preços da matéria-prima, e a consequência já está no preço dos chocolates. "A previsibilidade dos efeitos climáticos hoje é estratégica. Com a quebra histórica da safra de cacau na África, a produção do chocolate sofre os impactos. Precisamos buscar alternativas a longo prazo, com o incentivo à produção de cacau brasileiro. Há dois anos foi a seca", comenta o diretor de operações da Neugebauer, Rogério Martins.
Fenômeno semelhante enfrentou a Florestal, e a produção de balas e pirulitos. Uma seca no rio Mississipi fez os fretes de milho norte-americano subirem, assim como o valor da glucose, base dos doces. "A informação sobre os eventos e os efeitos do clima se torna um ativo muito importante no momento de fazer a estratégia de negócios", aponta o CEO da empresa, Maurício Weiand.
No caso da faixa central do RS, o domínio desses dados é valioso. "Estamos em um cinturão de baixas pressões, que potencializam tempestades", detalha Vágner Anabor, da UFSM.
 

Clima e a economia das regiões

  • 23 municípios (25% do total) entre as regiões Central, Jacuí Centro e Vales do Jaguari, Taquari e Rio Pardo tiveram situação de calamidade decretada em maio.
  • Entre 2023 e 2024, foram 108 pessoas mortas nas enxurradas nesta faixa do Estado. Entre os municípios de Roca Sales, Cruzeiro do Sul e Muçum, foram 59 vítimas.
  • Se forem consideradas as economias em calamidade, 57,3% do PIB local foi afetado diretamente, no caso do Vale do Taquari, 76,2%.
  • Levantamento do governo estadual, com as cheias de 2023, apontou perdas de R$ 420 milhões na economia do Vale do Taquari.
  • Projeção da Unisinos estimou redução de 13% no ritmo da economia do Vale do Taquari entre maio e agosto deste ano.