Entre julho e agosto, pelo menos 200 visitantes chegaram ao complexo do Cristo Protetor, em Encantado, no Vale do Taquari, a partir de vouchers distribuídos por estabelecimentos comerciais da região cada vez que os clientes consumiam um valor específico. A vista era um presente e também uma forma de multiplicar a ideia de que, sim, o Vale do Taquari está de novo de braços abertos para receber o turismo. Para ganhar o prêmio, o consumidor precisava postar fotos nas suas redes sociais, como um convite a essa retomada.
"O impacto sobre o setor do turismo em maio foi muito maior do que nas cheias do ano passado, por uma série de destruições da malha logística. O caminho entre Lajeado e Arroio do Meio, que é a ligação entre a parte alta e a baixa do Vale, ficou inviável. A ferrovia foi fechada, cancelando toda a temporada de visitações do Trem dos Vales. Muitos empreendimentos rurais, que tinham parte da renda relacionada ao turismo, deixaram de atuar. Por isso, a nossa aposta nessa retomada mais rápida é o Cristo Protetor, por todo o potencial que tem de garantir o consumo na região", explica o presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), Charles Rossner.
O maior desafio, completa o presidente, é demonstrar para potenciais visitantes que o Vale do Taquari não foi destruído e está ativo novamente. A associação tem realizado encontros com agentes de turismo de outras regiões como forma de esclarecer sobre a atual situação. E tem rendido resultados.
Desde a reabertura para visitação, em junho, a média de visitantes mensais está em torno de 2 mil pessoas. No período pré-enchentes, entre janeiro e abril, essa média chegava a 7,5 mil. A contar da abertura, em maio de 2021, aproximadamente 280 mil turistas de mais de 60 países conheceram o monumento. Para os próximos meses, aposta a associação que gerencia o local, há a expectativa de chegar a 10 mil turistas mensais, volume que era observado antes das cheias de setembro de 2023.
A finalização do complexo está prevista para dezembro. O local terá 12 mil metros quadrados, contando com capela de vidro, sanitários, praça de alimentação e salas comerciais, além da visita panorâmica ao coração do Cristo Protetor. A partir dessa melhoria, a estimativa é chegar a até 20 mil visitantes mensais.
"O turismo ainda é um potencial a ser explorado. Representa entre 4% e 5% do PIB da região, mas, no momento de retomada, tem a vantagem de injetar dinheiro novo rapidamente e diretamente na economia. Em 2022, por exemplo, antes dos dois anos com cheias, tivemos 150 mil visitantes, com um ticket médio de R$ 230 por dia. Temos muito o que evoluir, porque, mesmo retomando aqueles números, queremos avançar em acomodações e logística para mudar este perfil de 90% dos turistas que vêm para passar somente um dia", aponta Rossner.
No Vale do Rio Pardo, a aposta está na retomada do turismo relacionado à gastronomia e à cultura. É o que aponta a Associação de Turismo da Região do Vale do Rio Pardo (Aturvarp), com uma preocupação especial em relação aos prejuízos logísticos a partir das cheias de maio. Com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, por exemplo, aumentou a pressão de lideranças locais por uma melhor estruturação do Aeroporto Luiz Back da Silva, de Santa Cruz do Sul. A prefeitura local confirmou, por exemplo, a abertura de licitação para o balizamento noturno - instalação de dispositivos que permitem a operação do espaço 24 horas -, e há uma perspectiva de ampliação dos serviços aéreos.
A partir da criação da campanha "Vale do Rio Pardo, viva essa experiência", em parceria entre a associação, o Sebrae-RS e o Sicredi Vale do Rio Pardo, ainda no final de 2023, e retomada agora, a Aturvarp tem liderado a busca de pelo menos R$ 500 mil para a criação de roteiros de viagem regionais.
Chuva potencializa turismo científico na Região Central
Cappa - Paleontólogo Rodrigo Temp Müller - fóssil Parvosuchus - Mapa Econômico Região Central
Janaína Brand Dillmann/Divulgação/JCCuriosamente, as cheias potencializaram e geraram novas frentes de pesquisa em relação ao turismo científico, movido pelo valor paleontológico na Região Central do Estado. Em junho, um mês depois dos eventos climáticos, a comunidade científica internacional reconheceu a descoberta do fóssil Parvosuchus aurelioi - como foi batizado o réptil anterior aos dinossauros -, uma espécie até então inédita no Brasil. O fóssil, inclusive com o crânio em ótimo estado, foi achado em Paraíso do Sul.
O resultado de mais uma descoberta relacionada ao trabalho do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa), da UFSM, naturalmente atraiu um número maior de pesquisadores ao Geoparque da Quarta Colônia, mas este interesse foi ampliado ainda mais com o efeito da enxurrada no solo.
"Os fósseis surgem naturalmente pela erosão. A chuva, geralmente, é nossa parceira. Depois de cada evento de chuva, vamos lá coletar. Agora, provavelmente perdemos muita coisa, mas, por outro lado, muitas revelações apareceram com esse alto volume de chuva, e isso tem motivado ainda mais as pesquisas e a relevância do nosso Centro, que é modelo de paleontologia no Brasil. Temos colaborações com pesquisadores do mundo todo", aponta o paleontólogo Rodrigo Müller, que desde 2016 atua no Cappa e é o autor do estudo sobre a espécie recentemente confirmada.
Já são 26 novas espécies encontradas em revelações de fósseis na região do Geoparque. A partir da aceleração da erosão do solo com as cheias na área, Müller confirma que diversos materiais foram revelados. As principais descobertas aconteceram entre Agudo e São João do Polêsine.
Foi neste último município que, em julho, foi possível encontrar o esqueleto quase completo de um dinossauro com aproximadamente 233 milhões de anos, do Período Triássico. A estimativa é de que o animal teria chegado a 2,5 metros de comprimento.
Rotas Turísticas
- Geoparque da Quarta Colônia: A rota, na Região Central do Estado, combina o turismo científico e acadêmico ao cultural e rural, com a região de imigração italiana, na Quarta Colônia.
- Santiago do Brasil: A partir de Santiago, no Vale do Jaguari, o turista é convidado a uma experiência de contemplação, na rota de 147 quilômetros em direção às Missões, passando por um museu a céu aberto, com as árvores petrificadas de Mata.
- Vale do Rio Pardo: O Vale do Rio Pardo oferece uma série de alternativas turísticas, do chimarrão ao chopp, passando pelas tradições rurais alemãs aos festejos como a Oktoberfest.
- Cristo Protetor: Em Encantado, no Vale do Taquari, o santuário é local de peregrinação para turistas do Brasil e do Exterior.
- Trem dos Vales: O Trem dos Vales foi uma atração turística duramente atingida pelas cheias, e teve a temporada 2024 cancelada. Entre 2019 e 2023, mobilizou, no percurso superior a 40 quilômetros, que apresenta a paisagem do Vale do Taquari, entre Guaporé e Muçum, mais de 115 mil passageiros.