Em meio ao cinturão da soja na faixa central do Estado, e com um dos cinco maiores rebanhos de gado de corte entre as regiões retratadas neste capítulo do Mapa Econômico, o município de Cacequi é protagonista em boas práticas agropecuárias sustentáveis. Não à toa, conforme o levantamento do SEEG de 2022, o município captura o maior volume de gases do efeito estufa neste recorte do Estado. Boa parte da explicação está da porteira para dentro da Fazenda Itapevi.
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A partir da propriedade que há 121 anos é da família de Otávio Paiva, a perspectiva é de que no final de 2025 os frigoríficos recebam o primeiro lote de carne com "selo verde", de 100% orgânica. A fazenda, que já tem destaque no desenvolvimento genético do gado e na criação no sistema silvopastoril, será a primeira no Sul do Brasil a ter este selo, a partir do projeto-piloto implantado em parceria com a Embrapa e a UFSM.
Era uma oportunidade que a Marfrig, apontada como a indústria que processará o abate e comercialização da carne com selo verde, já desenvolve junto a produtores do Uruguai, por exemplo.
"Os animais que vamos usar para este projeto terão superioridade na produção de carne, com alta genética, capaz de fazer a diferença no mercado pela qualidade. Calculamos que, com o selo verde, seja possível um ganho de 5% a 10% a mais no valor da carne, e ainda com um acréscimo de outros 5% por ser premium. Hoje, trabalhamos com 800 animais, sendo 20% de elite, e os demais terminadores. Agora, teremos o ciclo completo da produção", explica o produtor. Para atender à demanda deste novo mercado, e também multiplicar as práticas sustentáveis, Paiva já conversa com propriedades vizinhas para que usem a sua genética na fase de incubação do gado. A meta é chegar a 2 mil cabeças com selo verde por ano.
O novo passo rumo a produção ainda mais limpa está no DNA da Itapevi. Começou, como recorda Paiva, quando o pai, em 1974, desenvolveu o plantio direto e introduziu o trigo na região. Há 20 anos, diante da estagnação e das perdas com as secas da soja, foi Otávio Paiva quem deu uma virada. Investiu na silvicultura, com o plantio de eucaliptos, mas não parou por aí. Em 18 meses, tinha o seu gado pastando no campo, mas dentro da área de floresta.
É a prática da neutralização direta dos gases gerados pela bovinocultura, apontada como uma das produções de maior potencial gerador de gases. No sistema silvopastoril, a floresta neutraliza boa parte dessas emissões e ainda gera ganhos ao solo, com o pasto natural coberto. "Quando as folhas morrem, caem no solo e isso resulta em ainda maior produção de nutrientes. Toda essa ciclagem é feita debaixo dos eucaliptos, como se fosse um galpão a céu aberto. Temos um solo com condições 50% superior ao nativo."
Hoje, a propriedade conta com 200 hectares de área silvopastoril, considerada ideal para o desenvolvimento de mil animais. A condição "verde" destes animais e da propriedade será acompanhada a cada 15 dias por técnicos da UFSM, inclusive com monitoramento do balanço de emissões nas áreas de pastagem, de floresta e de mata nativa da fazenda. A dieta dos animais, além da pastagem, com suplementação toda orgânica, também será controlada até render o selo. A ideia do produtor é avançar com esta cultura em toda a sua produção. A fazenda segue produzindo soja e arroz, com sistema de rodízio entre as duas culturas e as pastagens.
Dados sobre emissões
As Regiões Central, Jacuí Centro e Vales do Jaguari, Taquari e Rio Pardo respondem por 12,09% do PIB do RS, mas emitem 16,12% dos gases do efeito estufa do Estado.
Entre as regiões, o Vale do Jaguari, que teve crescimento de quase 60% no PIB entre 2020 e 2021, é o que mais emite, totalizando 5,4 milhões de toneladas em 2022.
O Vale do Rio Pardo, onde está o município mais industrializado da região, é o que mais captura gases, 20,4% do que emite.
Municípios que mais emitem GEE:
Santiago: 1,2 Mt
São Francisco de Assis: 1,1 Mt
Cachoeira do Sul: 1 Mt
Santa Maria 865,2 kt
Jaguari 848,2 kt
Municípios que mais capturam GEE:
Cacequi: 253 kt
Cachoeira do Sul: 193,1 kt
São Francisco de Assis: 160,2 kt
Rio Pardo: 133,1 kt
São Sepé: 108,6kt
(FONTE: SEEG,2022)