Uma cadeia produtiva em evolução, desde o campo até a indústria, voltada quase exclusivamente à exportação. Esta é a realidade do setor fumageiro, que garante a Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, lugares entre os dez municípios com maiores valores exportados no Rio Grande do Sul entre janeiro e setembro deste ano. Mesmo com os eventos climáticos de maio, que não afetaram o período de safra, mas anteciparam a maior parte das vendas do tabaco, somente entre os dois municípios, foram comercializados mais de US$ 1,5 bilhão entre tabaco cru e seus derivados. O setor respondeu, nestes nove primeiros meses do ano, por 8,4% das exportações gaúchas - em torno de 90% deste volume escoado a partir de Rio Grande.
"Tivemos em 2023 um aumento no volume de exportações em relação a 2022, e a estimativa que temos é de que deveremos fechar 2024 com um volume menor de exportação, no entanto, com um avanço nos valores das negociações com o exterior, porque o nosso produto brasileiro, especialmente gaúcho, tem alto padrão de qualidade, muito procurada fora do Brasil, apesar das dificuldades climáticas dos últimos anos", explica, Iro Schünke, que presidiu o Sindicato Interestadual da Indústria de Tabaco (Sinditabaco) por anos, até concluir seu último mandato em outubro.
Entre Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires estão concentradas pelo menos oito indústrias do setor. A maior parte delas faz o processamento das folhas, após a colheita e a secagem nas propriedades, e vende para outros países, onde o material gera produtos como cigarros e charutos. Na região há, no entanto, duas cigarreiras ativas - Philip Morris e JTI -, que destinam em torno de 5% do produto para o mercado nacional.
"O tabaco é processado nas nossas indústrias, com a safra gaúcha, e mesmo com redução no volume colhido nos últimos anos, temos estrutura para suprir a demanda mundial pelo produto brasileiro. E no mercado nacional, temos um obstáculo muito grave, que é o contrabando. Hoje, 41% do cigarro comercializado no Brasil ingressa no País de forma ilegal", diz o dirigente.
Somente entre as indústrias do setor, o Sinditabaco estima em torno de 25 mil trabalhadores. Conforme a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), na última safra, 64,7 mil famílias produziram fumo em todo o Estado, representando, entre toda a cadeia, em torno de 500 mil pessoas diretamente envolvidas na produção. Destes, pouco mais de 28 mil famílias produtoras são das regiões do Vale do Rio Pardo, Central e Vale do Taquari. As regiões, respondem por 43% da área plantada e da quantidade produzida. O faturamento dos produtores chegou a R$ 2 bilhões somente entre essas regiões no último ciclo.
"O fumo é mais resistente do que outras culturas, especialmente em relação à seca. Com o excesso de chuvas, que foi o que enfrentamos na última safra, no segundo semestre do ano passado, a folha perde peso e gera, inclusive, uma pequena alteração na composição química. Essa alternância de eventos extremos dos últimos anos já tem nos desafiado para mantermos o padrão do nosso produto", aponta o presidente da Afubra, Marcílio Drescher.
Em dezembro, por exemplo, o setor estimou em 20% de quebra, em média, pelas folhas menores e mais leves. No entanto, a qualidade compensou. Foram colhidas no Rio Grande do Sul 256,9 mil toneladas na última safra, sendo 111,7 mil neste recorte do Estado, e que são comercializadas agora.
"O produtor tem elevado o nível da produção, mas quando é muita chuva, não tem muito o que fazer. A solução tem sido o manejo e a melhoria tecnológica da lavoura e no processo de secagem. Toda exportação tem uma análise de qualidade muito cuidadosa", diz Drescher.
Com a boa remuneração ao setor, principalmente no comparativo com outras culturas, a estimativa é de que nos próximos anos possa haver aumento de áreas plantadas na região.
Mesmo sendo uma cultura resistente, a fumicultura também contabilizou perdas com as cheias de maio. Um levantamento feito pelas duas entidades avaliou em R$ 95 milhões os prejuízos a cerca de 2 mil produtores em 75 municípios. O mesmo levantamento apontou que 96% destes produtores pretendem continuar com a cultura.
A maior fatia desse prejuízo foi contabilizada em Venâncio Aires, com quebra estimada de R$ 18,3 milhões. Em Candelária, foram outros R$ 16,5 milhões em prejuízos. Em termos de volume estimado para a safra que é plantada neste segundo semestre, a perspectiva é de perda, relacionada a estes eventos, de somente 848 toneladas - 0,33% da última safra. Foram 1,4 mil hectares perdidos e 216 estufas e galpões.
Neutralização de gases na produção industrial do tabaco
Mapa Econômico JTI - Fábrica
JTI/Divulgação/JCO Vale do Rio Pardo, região que responde por 30% da produção, e praticamente toda a industrialização do tabaco no Rio Grande do Sul é, entre as regiões retratadas neste Mapa Econômico, a que mais atua regionalmente na captura dos gases causadores do efeito estufa. Conforme o relatório do Sistema de Estimativas de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, os municípios do Vale do Rio Pardo neutralizaram, em 2022, 20,4% dos gases que emitem. Uma média bem superior aos 14,1% de captura ou neutralização em nível estadual. Na produção fumageira, também estimulada pelo mercado internacional em que está inserida, este processo estende-se entre toda a cadeia produtiva.
"O impacto produtivo do tabaco é positivo, porque ele absorve o carbono e é cultivado em pequenas áreas. Isso permite, por exemplo, a manutenção de campos nativos e estimula o plantio de novas florestas, pela silvicultura, que alimentam o processo de secagem das folhas. É muito menos impactante que lavouras extensivas, por exemplo. E mesmo com todo o preconceito e a publicidade negativa, este é um dos setores que menos usam agroquímicos atualmente. São pelo menos 14 culturas que usam mais defensivos do que o fumo. Temos investido em produtos mais orgânicos e na saúde do produtor", garante Marcílio Drescher. Boa parte do estímulo para essa mudança vem da indústria. O complexo fumageiro está dentro de um ambiente, em Santa Cruz do Sul, onde a ideia da indústria limpa, nos mais variados setores produtivos, tem ganhado cada vez mais espaço.
A Japan Tobacco International (JTI), que processa o tabaco para garantir 24% da demanda global e produz cigarros a partir de Santa Cruz do Sul, destina neste ano
R$ 115 milhões ao Estado entre investimentos na sua fábrica e na cadeia de produtores associados. "Nossa fábrica pode ser considerada quase neutra em emissões, em relação aos escopos 1 e 2, que estão no nosso controle. Agora, direcionamos nossas atenções e investimentos em processos que reduzam o impacto do produtor para certificarmos toda a nossa produção", diz o líder de operações e tabaco e folha da JTI, Roberto Macedo.
R$ 115 milhões ao Estado entre investimentos na sua fábrica e na cadeia de produtores associados. "Nossa fábrica pode ser considerada quase neutra em emissões, em relação aos escopos 1 e 2, que estão no nosso controle. Agora, direcionamos nossas atenções e investimentos em processos que reduzam o impacto do produtor para certificarmos toda a nossa produção", diz o líder de operações e tabaco e folha da JTI, Roberto Macedo.
O ranking das exportações
Santa Cruz do Sul (3º do RS de jan-set): 95% tabaco e derivados
Venâncio Aires (7º do RS de jan-set): 96,6% tabaco e derivados
Santa Maria (12º do RS de jan-set): 96% soja,trigo e arroz
Cruzeiro do Sul (21º do RS de jan-set): 100% gordura animal e farinhas de carne
Cachoeira do Sul (24º do RS de jan-set): 82,3% tortas e outros resíduos de soja, óleo de soja, soja triturada
Lajeado (25º do RS de jan-set): 43% partes de calçados, 35% produtos de confeitaria, doces e chocolates, 17% carne suína
Encantado (39º do RS de jan-set): 67% mate, 19% carne suína e miúdos
(FONTE: MINISTÉRIO DO COMÉRCIO EXTERIOR)
A produção de fumo
Venâncio Aires: 8,2 mil hectares plantados (3º RS)
Candelária: 5,4 mil hectares plantados (6º RS)
Vale do Sol: 5,2 mil hectares plantados (7º RS)
Arroio do Tigre: 4,7 mil hectares plantados (8º RS)
Santa Cruz do Sul: 4,6 mil hectares plantados (9º RS)
(FONTE: IBGE, 2022)
Indústria Fumageira
8 indústrias em Santa Cruz do Sul
5 indústrias em Venâncio Aires
(FONTE: Sinditabaco)