Pouco mais de 240 quilômetros, por estradas, separam Rio Grande de Bagé. Em ambos os municípios estão os únicos distritos industriais em áreas públicas estaduais entre a região Sul, Campanha e Fronteira Oeste. E eles representam bem as diferenças regionais agravadas nesta área do Estado.
Se o distrito junto ao porto é o mais bem-sucedido entre essas estruturas públicas, com 54 empresas instaladas, em Bagé, somente uma empresa, a Lactalis, está em operação, representando a menor ocupação no Estado.
Dificuldades logísticas e de infraestrutura explicam a baixa procura pelo município da Campanha, e são alguns dos desafios que, aponta o diretor de Planejamento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Otomar Vivian, têm boas perspectivas de serem superados com aposta na diversidade e sustentabilidade da economia entre o Sul, a Campanha e a Fronteira Oeste.
"Temos trabalhado no fomento ao que é a vocação da região, mas estimulando a diversidade no agro, por exemplo. A região continua muito ligada à terra, mas é diversa, tem a entrada da soja, a vitivinicultura, os olivais e o manejo da própria pecuária e do arroz com muito maior excelência. Nosso papel é garantir o fomento para atração cada vez maior de empreendimentos para a região, com a compreensão de que há um espaço gigante para isso, e a perspectiva futura é muito positiva, como resultado do que temos feito nos últimos anos", diz Otomar.
Nos últimos 10 anos, o BRDE aportou R$ 1,7 bilhão para essa região, o que representa 17% dos R$ 9,9 bilhões aportados em todo o Estado no mesmo período. Em torno de R$ 800 milhões foram destinados a projetos na área de energia, fundamental para a infraestrutura, e outros R$ 650 milhões para projetos na área do agro.
De acordo com o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, esta área do Estado está no centro das políticas públicas de incentivos a investimentos para redução de desigualdades regionais no Estado. Nas duas regiões, o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) registrado nos municípios está entre os mais baixos do Rio Grande do Sul.
"É necessário um trabalho de construção de ambientes favoráveis para investimentos. Tanto com a presença do Estado para melhorias de infraestrutura, quanto com a potencialização de aptidões locais que incentivem aquele empreendedor local e atraiam quem tem interesse em investir. Acredito que avançaremos muito neste sentido nos próximos anos, a partir de uma parceria que temos mantido com o Sebrae, justamente para potencializar as vocações regionais", aponta o secretário.
Há dois anos, a política de incentivos a partir do Fundopem reforçou, entre os critérios para concessão, setores estratégicos para a economia local, a transferência de tecnologia, os arranjos produtivos e até o Idese do Corede onde o empreendimento pretende expandir ou se instalar (com maior pontuação às regiões menos desenvolvidas).
Existe, por exemplo, prioridade para investimentos no Sul e Fronteira. No entanto, entre 2019 e 2022, somente seis projetos entre as regiões funcionais da Campanha, Fronteira Oeste e Sul foram aprovados pelo Fundopem, representando R$ 57,2 milhões de um total de R$ 3,5 bilhões no Estado neste período. Neste ano, entre os 34 projetos aprovados no primeiro trimestre para receberem incentivos fiscais do Estado, totalizando quase R$ 1,2 bilhão, nenhum será executado na região.
O levantamento feito pelo JC no Anuário de Investimentos de 2022 demonstra uma distribuição regional um pouco melhor. Entre os R$ 51,8 bilhões em investimentos mapeados por cidades gaúchas, R$ 9,6 bilhões destinam-se a municípios entre o Sul, Campanha e Fronteira Oeste.
De acordo com o secretário, está no horizonte da pasta a criação de escritórios regionais de desenvolvimento para garantir maior articulação em investimentos potenciais em todas as áreas do Estado. "Queremos estar cada vez mais próximos das realidades. O papel do Estado é ser este articulador que garanta facilitação ao empreendedor e celeridade nos seus processos", aponta Polo.
Por outro lado, o secretário afirma que a pasta do Desenvolvimento Econômico terá papel mais ativo na atração de potenciais investimentos para instalação de empresas em distritos industriais como o de Bagé, com uma possível parceria público-privada em um escritório de prospecção de investimentos.
"Estamos articulando com o Badesul e BRDE possíveis linhas de crédito a serem acessadas pelos governos municipais, específicas para projetos de infraestrutura para distritos industriais", revela Ernani Polo.
Incentivos
• Nos últimos 10 anos, o BRDE destinou R$ 1,7 bilhão em recursos para projetos entre o Sul, a Campanha e a Fronteira Oeste. Representam 17% dos R$ 9,9 bilhões aportados pelo banco em todo o Estado neste período.
• Entre 2018 e 2022, somente 6 projetos entre Sul, Campanha e Fronteira Oeste foram aprovados pelo programa de incentivos fiscais Fundo Operação Empresa (Fundopem), resultando em 1,6% do total aprovado no Estado neste período.