A produção da região representa 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho, mas atende somente 53% da demanda de proteína animal do Rio Grande do Sul
/ Wenderson Araujo/CNA/JC
Eduardo Torres
Está nas raízes da economia gaúcha a pecuária no Pampa. Com um rebanho de bovinos em todo o Estado de 11,9 milhões de animais - 80,5% para produção de carne -, a estimativa é de que 70% da pecuária de corte está concentrada entre a Fronteira Oeste, a Campanha e o Sul. Em todo o último ano, conforme levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte (NesPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), 1,82 milhão de animais foram encaminhados para abate. A produção representa 4,5% do PIB gaúcho, mas atende somente 53% da demanda de proteína animal do Rio Grande do Sul. Acesse a edição completa do Mapa Econômico do RS aqui.
Um dos principais palcos da pecuária de corte gaúcha está na Expofeira, promovida anualmente pela Associação Rural de Pelotas, e que reuniu, no último ano, 130 mil pessoas no parque de exposições. "Está na origem da associação e da feira a valorização da bovinocultura de corte. Temos na Expofeira leilões das principais cabanhas produtoras de raças de corte do Estado. Daqui saem os melhores preços e se consolida o espaço para a promoção de reprodutores", valoriza Augusto Rassier, presidente da associação, que completa 125 anos em 2023.
Representa uma cadeia produtiva que tem, nessa região, conforme a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), cinco dos 16 frigoríficos de abates bovinos credenciados do Estado. Os maiores deles são as unidades da Marfrig, em Bagé, Alegrete e São Gabriel, com abate autorizado, somados, de mais de 200 animais por hora.
De um total de 425 mil toneladas de carne produzidas no ano passado, 128 mil foram exportadas para até 90 países, o que representa pouco mais de 5% do que o Brasil exporta. E neste ano, os números são pouco animadores. Dados da Abrafrigo apontam que o Estado reduziu, no primeiro quadrimestre, 27% da quantidade de carne bovina exportada. Foram 31,6 mil toneladas até abril, uma queda, de 41% em valores - US$ 97,7 milhões.
A maior parte da carne gaúcha exportada este ano foi na forma de sebo bovino fundido e de preparações alimentícias e conservas bovinas (22 mil toneladas), que tiveram os Estados Unidos como destino. Carnes desossadas congeladas, que têm a China como principal destino, tiveram 8,1 mil toneladas exportadas. "Temos quase 400 anos de história na produção de gado no Pampa. A produção representa 4,5% do PIB gaúcho. Este é um patrimônio que temos trabalhado para encontrar a valorização no mercado", explica o presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado, do Instituto de Desenvolvimento da Carne, Ivan Faria.
O desafio do setor é valorizar, pelo reconhecimento no mercado, a produção tradicional do Pampa. Já há o selo de identificação da carne produzida 100% no bioma, que tem como diferencial o valor nutricional da carne, pela alimentação do gado com a grande diversidade forrageira dos pastos nesta região.
Somente entre Alegrete e Santana do Livramento, há mais de 1 milhão de cabeças de gado. Conforme o IBGE, no entanto, não é em solo gaúcho, por exemplo, que a Marfrig cria um dos seus mais recentes produtos com grande valor adicionado: a carne orgânica. Apesar de processada na unidade de Bagé, este gado é criado no Uruguai. A carne orgânica é oriunda de animais alimentados somente a pasto, livres de fertilizantes sintéticos, hormônios anabolizantes e estimulantes de crescimento.
"Enquanto a lavoura avança com cada vez maior valor econômico, a produção de gado tradicional do nosso Estado tem se mostrado quase uma atividade antieconômica. De um ano para outro, tivemos queda de 30% no preço. O nosso desafio hoje é integrar esta pecuária à lavoura que avança, com a produção mais intensiva, com o uso de grãos da própria lavoura. Uma atividade que já é diferente daquela com o boi solto", diz Faria.