Ideia é aproveitar áreas onde o vento é constante e intenso; Sul, Campanha e Fronteira têm 21 projetos
/ELETROSUL/DIVULGAÇÃO/JC
Eduardo Torres
O Rio Grande do Sul já produz 82% da sua energia a partir de fontes renováveis. As regiões Sul, Campanha e Fronteira Oeste são lugares estratégicos para que essa matriz seja ainda mais limpa e inovadora. Os mapas apontam para lá os maiores potenciais eólico, solar e para produção de hidrogênio verde no Estado. Acesse a edição completa do Mapa Econômico do RS aqui.
"Ainda é cedo para medirmos a consequência deste movimento, mas este é o caminho, certamente, para atração de investimentos para esta região do Estado, que hoje acaba não sendo privilegiada por problemas logísticos e de infraestrutura", avalia o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio.
Entre 2010 e 2020, a produção de energia eólica saltou de 2% para 19% no Rio Grande do Sul. Entre os 80 parques eólicos em atividade no Estado - a quinta maior potência instalada no País, com 1.836 MW -, Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar, Chuí e Rio Grande concentram 64% dessa potência.
Há ainda 63 parques em análise para licenciamentos ambientais em 31 municípios, sendo 21 entre o Sul, Campanha e Fronteira Oeste. Concentram 11,3 GW de potência estimada, ou 61,9% de toda a carga esperada com os futuros parques.
Com R$ 492,7 milhões arrecadados em 2022, a Campanha representa 2% da arrecadação de ICMS com atividades industriais no Estado. Quase metade deste valor — R$ 230,5 milhões — é proveniente de serviços industriais de utilidade pública, com um total de 82 indústrias na região, que representam atividades como a geração e distribuição de energia.
Entre os projetos com licença prévia emitida pela Fepam está o Complexo Três Divisas, que prevê 18 parques eólicos, com potência a ser instalada de 810 MW, em uma área de mais de 20 mil hectares entre Alegrete, Quaraí e Uruguaiana.
"A expectativa em toda a região é muito grande, porque hoje a nossa economia é muito dependente do setor agropecuário e com poucas outras alternativas. O nosso potencial para gerar energia por novas matrizes, como a eólica e a solar, pode fazer a diferença, não apenas pelos empreendimentos de infraestrutura para os parques eólicos ou usinas fotovoltaicas, mas por todos os novos negócios que eles poderão impulsionar", avalia o prefeito de Alegrete, Márcio Amaral.
A estimativa, segundo o prefeito, é de que em 10 anos a adição de ICMS para o município onde um complexo eólico se instala chegue a 500%. "Hoje é justamente o nosso déficit energético que muitas vezes impede novos investimentos industriais", explica.
De acordo com o diretor da Renobrax, Pedro Mallmann, responsável pelo projeto Três Divisas, ainda neste ano deve ser solicitada a licença de instalação à Fepam. A expectativa é de que os parques comecem a ser erguidos em 2024.
O Complexo Três Divisas, que tem previstos mais de R$ 3 bilhões entre investimentos diretos e o que movimentará na economia local, é somente um dos projetos eólicos criados pela Renobrax nesta região do Estado. Há outros dois em tramitação na Fepam: o São Miguel, com licença prévia já emitida e previsão de oito parques eólicos para gerar 200 MW, entre Chuí e Santa Vitória do Palmar; o Santa Helena, este em estágio inicial de licenciamento, a ser instalado em Quaraí, com potência de 500 MW.
A estimativa é de que, quando prontos, os três complexos poderão responder por até 16% da demanda gaúcha de energia.
"É uma região privilegiada em relação aos ventos. Este não é um investimento muito democrático, e não depende da vontade do empreendedor. Onde tem vento, tem, e o nosso papel é buscar este potencial de ventos. Iniciamos os levantamentos em 2006, levando em conta questões ambientais e a ausência de grande concentração urbana para que possam ser instalados os complexos. E em todos estes aspectos, a região é favorecida, além da boa logística e da ligação direta com o porto", aponta Mallmann.
O Porto de Rio Grande é considerado estratégico neste movimento energético na região. Tanto pela logística que envolverá as chegadas, montagens e instalações de equipamentos como aerogeradores, quanto pela própria área para novos projetos.
O Ibama analisa 22 possíveis parques eólicos offshore (no mar) no Rio Grande do Sul. São 16 no Litoral Sul do Estado, tendo as estruturas do porto e do distrito industrial local como referências para a instalação e operação. E há ainda projetos de energia eólica nearshore (na Lagoa dos Patos).