As obras para remodelação do antigo prédio do Grande Hotel de Pelotas estão sob risco. O motivo seria a falta de repasses do governo federal para o andamento das intervenções, que são feitas pela Universidade Federal de Pelotas.
O projeto foi contemplado, em 2014, pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. As obras que envolveriam o restauro do prédio, tombado a nível municipal em 1986 e incluído no conjunto de tombamento a nível federal do centro histórico de Pelotas em 2018, e sua adequação para a implantação das dependências do hotel-escola e de áreas acadêmicas, iniciaram em 2019, tendo um custo de cerca de R$ 8,7 milhões. No entanto, a pandemia da Covid-19 também impactou o processo de requalificação do prédio. O primeiro semestre de 2020 trouxe às obras uma paralisação parcial, seguido de um retorno com ritmo reduzido.
Em agosto do mesmo ano, diversos fatores interpuseram a necessidade de realização de aditivos contratuais; houve ampliação da área de patologias entre a elaboração do projeto e o início das obras, período que compreende aproximadamente cinco anos, com situações como a queda de rebocos, apodrecimento de assoalhos e esquadrias, além de alterações nas normas do projeto e modificações nos planos por descobertas somente possíveis com a intervenção no prédio. Apesar de a equipe de fiscalização da obra ter buscado atentamente adequar os valores que precisaram ser acrescidos à realidade atual, redistribuindo os valores recebidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi necessário desembolsar o valor de aproximadamente R$ 286 mil ao montante contratado, custos estes abraçados pela universidade.
Mesmo a UFPel tendo encaminhado regularmente as notas fiscais das medições da obra, o Iphan permanece repassando apenas o recurso financeiro relativo à quitação dos serviços existentes na planilha licitada, deixando de incluir os aditivos. Atualmente, o somatório de todos esses ajustes já chega aos R$ 600 mil.
A complicação nos repasses também resultou na demissão de toda a equipe de trabalhadores que realizavam as intervenções no local. Até o mês de novembro, todos os salários, de acordo com a documentação recebida pelo fiscal da obra, estavam sendo pagos em dia. No entanto, no dia 27 daquele mês, a empresa comunicou a UFPel que, após aguardar pela análise dos aditivos pelo Iphan por três meses, sem solução, teria colocado os funcionários em aviso prévio. Como ainda não há previsão de retomada, a UFPel determinou que a edificação tenha serviço de vigilância 24h.
Recentemente, a reitora da UFPel, Isabela Andrade, agendou atendimento na sede do Iphan, em Brasília, para tratar do tema; ela, entretanto, não obteve acesso a autoridades do instituto na ocasião, e a pendência permanece sem manifestação conclusiva por parte do órgão. O instituto foi procurado para dar a sua versão, mas não retornou até o fechamento desta edição
"Lamentamos a suspensão da obra", diz Cíntia Essinger, coordenadora de Desenvolvimento do Plano Diretor da UFPel e também fiscal da obra do Grande Hotel. A arquiteta relata que os contatos com a superintendência regional do instituto são quase diários, além das tentativas feitas com a sede nacional do órgão, em Brasília. "Estamos há cinco meses sem ter um retorno", pontua. Cíntia ainda destaca que todos os esforços foram mantidos para que a obra não fosse paralisada, mas, como ela explica, "há um momento em que não se consegue avançar sem a realização dos serviços de correção que não constavam no projeto original".