Porto Alegre, qui, 08/05/25

Publicada em 23 de Abril de 2025 às 00:30

Pesquisa analisa vírus em animais no Vale do Sinos

Foram coletadas amostras de animais em quatro cidades para analisar a circulação de agentes virais na região

Foram coletadas amostras de animais em quatro cidades para analisar a circulação de agentes virais na região

/ANA TERRA FIRMINO/JC
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Pela primeira vez, um estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vigilância Genômica e Saúde Única (INCT-One) sediado na Universidade Feevale analisou a circulação de diferentes agentes virais em animais silvestres do Vale do Sinos. De forma inédita, a pesquisa conseguiu revelar a incidência de arbovírus - vírus transmitidos por mosquitos - e adenovírus - vírus causadores de infecções respiratórias e gastrointestinais em humanos e outros - em espécies como felídeos, roedores selvagens, marsupiais e primatas não humanos no sul do Brasil, utilizando sequenciamento metagenômico.
O estudo coletou amostras retais e orais de 88 animais nas cidades de Novo Hamburgo, Campo Bom, Dois Irmãos e Rolante, durante os anos de 2022 e 2023. A partir da amostragem gastrointestinal, foi feita uma análise metagenômica, ou seja, a detecção e caracterização de vírus que vivem no ambiente desses animais. "A vigilância genômica permite a rápida identificação e rastreamento de mutações virais, o que é vital para o monitoramento e prevenção de pandemias", explica o virologista e pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Feevale, Fernando Spilki, um dos responsáveis pelo estudo.
Entre os achados da pesquisa, está a descoberta excepcional do vírus Chikungunya em amostras de roedores, o que, até agora, não havia sido relatado em animais da região. Além desse vírus, que é transmitido por mosquitos, também foram encontrados vírus de transmissão fecal-oral. "São patógenos que podem estar relacionados, por exemplo, à contaminação da água, de alimentos, e que podem ocorrer em várias espécies, mas que a poluição pode estar levando a uma disseminação maior", avalia Spilki.
Para os pesquisadores, a relação entre surtos de arbovírus (vírus transmitidos por mosquitos) humanos e a circulação desses vírus em animais silvestres reforça a necessidade de vigilância genômica e epidemiológica contínua. A degradação ambiental e a fragmentação de habitats podem contribuir para o surgimento de doenças zoonóticas, pois alteram o comportamento do vetor e as interações com o hospedeiro, impactando diretamente a saúde pública.
"Uma das implicações é que não se pode descartar que espécies selvagens possam servir como vítimas dessas doenças, envolvendo-se no seu ciclo", analisa o pró-reitor da Feevale. Por isso, continuar a vigilância matagenômica é fundamental para prevenir surtos e limitar a disseminação de novas epidemias. "É muito importante esse processo de monitorar o que circula de vírus novos e avaliar em que medida isso pode ser um problema, tanto para a conservação das espécies, quanto para outros animais domésticos e para nós mesmos. E não havia nenhum estudo aqui na região desse tamanho ainda", conclui Spilki.
 

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