O Carnaval em Canoas, previsto para ocorrer inicialmente no dia 15 de março, não receberá recursos públicos para sua realização este ano e terá a data de realização mudada. O anúncio, feito pela prefeitura de Canoas no fim de fevereiro, foi baseado, segundo o Executivo municipal, na necessidade de priorizar a recuperação da área da saúde, que enfrenta desafios desde a enchente ocorrida em maio de 2024, a qual afetou a estrutura hospitalar e o pagamento dos profissionais de saúde. A intenção é que o valor seja usado, por exemplo, para reabilitar o Hospital de Pronto Socorro da cidade.
A Associação das Escolas de Samba de Canoas (AESC) afirma que os organizadores do evento foram informados sobre a decisão no dia 29 de janeiro, através da reunião com o secretário de Cultura e Turismo, Pinheiro Neto. "O secretário disse para nós que não teria como dar dinheiro para o Carnaval, sendo que a saúde estava pendente. Porém, a saúde está pendente em todos os governos que entram. Isso já é um é uma desculpa para não fazer a cultura de Carnaval", diz Noé Oliveira, presidente da Associação e fundador da escola de samba Unidos do Guajuviras.
Para as escolas desfilarem seria necessário um recurso de cerca de R$ 140 mil. Ele afirma que nos anos anteriores, as escolas recebiam subsídio público para realizar o Carnaval plenamente, e em 2024 receberam o valor de R$ 252 mil. Porém, para realizar o evento cultural este ano, as escolas de samba estão aguardando entrar em vigor uma emenda parlamentar, destinada no valor de R$ 50 mil, para a realização do evento. A entidade ainda negocia outros verbas públicas, oriundas de representantes gaúchos no Congresso Nacional,
Durante a reunião, o prefeito Airton Souza explicou aos presentes que a decisão não é uma medida isolada, e o mesmo tratamento será dado a todos os eventos programados até o mês de dezembro. Ele ressalta que a prefeitura conseguirá apoiar os eventos somente de maneira institucional, como ceder locais públicos. Sem recursos municipais, a festa está prevista para acontecer fora de época, em 17 de maio, no parque Eduardo Gomes.
Temas das escolas de samba teriam sido proibidos; secretário nega

Secretário de Cultura e Turismo, Pinheiro Neto, foi acusado de censurar temáticas
PREFEITURA DE CANOAS/DIVULGAÇÃO/CIDADESOs sambas-enredo também foram pautados na reunião do dia 29 de janeiro. O secretário de Cultura e Turismo, Pinheiro Neto, teria informado aos organizadores que letras que tivessem temáticas de cunho inclusivo, como voltados ao público LGBTQIA e sobre as religiões de matriz africana - comumente presentes nos sambas-enredo - seriam vetadas, e que somente assim o espaço para realizar os desfiles seria liberado. Segundo Oliveira, a justificativa apresentada seria devido à religião do prefeito, que é cristão. "Ele não admitia Carnaval com etnias religiosas, com LGBT. Então eu me senti humilhado como representante das escolas e entramos na Justiça contra ele", explicou o presidente da Aesc.
Mesmo assim, as escolas pretendem manter as letras dos sambas-enredo. Ele destaca que Pinheiro Neto propôs que as letras dos sambas-enredo passassem por uma análise, que ele próprio faria, para autorizar ou proibir aqueles que estivessem fora da exigência estabelecida. Por conta disso, a AESC entrou com uma ação judicial pelo crime de racismo religioso.
Em nota, o secretário de Cultura e Turismo de Canoas, Pinheiro Neto, informa que não procede a informação de que teria estabelecido condições relacionadas a temas de apresentações para realizar a cedência do Parque Eduardo Gomes ou do local que os organizadores da festa solicitarem. O secretário explica que "jamais houve qualquer tipo de censura ou condições estabelecidas em sua manifestação", apenas um pedido de atenção e respeito às religiões em geral. Além disso, alega que, até o momento, os organizadores do Carnaval não formalizaram projeto solicitando cedência de espaços públicos para alguma data.