Enchentes, tentativa de demolição, avanço do tempo e transformações inerentes à sociedade são alguns dos desafios vividos pela Ponte 25 de Julho de São Leopoldo. Construída de no século XIX, em 1876, a passagem de ferro resistiu a diversas cheias históricas e, atualmente, é um dos símbolos da resistência da cidade do Vale do Sinos.
De acordo com o coordenador do Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais, o historiador Márcio Linck, o motivo para o acesso ter resistido as intempéries do clima, como as enchentes, está na via de ferro ser formada por grandes vigas oriundas da Alemanha. E, também, da qualidade do projeto que previu uma estrutura com pilares sólidos de alvenaria. "Foram, ao menos, três grandes cheias na cidade, em 1941, 1965 e 2024, e a ponte resistiu a todas", ressalta Linck. Ele ainda comenta que além do ferro foram usados, também, pedras, tijolos, argamassa e madeira.
A ponte foi construída para realizar o transporte de pessoas e mercadorias, como farinha, cevada, cereais e embutidos, entre outros da Zona Norte à Oeste da cidade, que havia sido emancipada cerca de 25 anos antes da inauguração. A ideia era, também, ligar a cidade e outros municípios do Vale do Rinos ao interior do Estado. A ponte centenária ganhou esse nome devido ao fato da data (25 de julho) marcar a chegada das primeiras famílias de língua alemã no Rio Grande do Sul, data que foi comemorada este ano com o bicentenário da imigração alemã.
Estrutura resistiu a, pelo menos, três grandes enchentes na cidade
ROMEU FINATO/DIVULGAÇÃO/CIDADES
Além disso, em 1874, foi inaugurada a primeira ferrovia no Estado, cujo trajeto inicial era de São Leopoldo até Porto Alegre. A junção dos dois modais - rodoviário e ferroviário - foi crucial para o desenvolvimento do município e da região. "As pessoas vinham de Porto Alegre pelo trem e depois usavam a ponte. Dessa maneira, o desenvolvimento social e econômico foi grande. Além do escoamento da produção de mercadorias. Um transporte complementou o outro", explica o historiador.
Ao longo do tempo, o acesso de ferro passou por transformações, como a elevação de cerca de 1,5 metro, em 1980, asfaltamento na estrutura, e a construção de uma passagem só para pedestres. A via de ligação também tem o marco de ser o primeiro tombamento realizado no Rio Grande do Sul pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), em 1980. Na época, foi realizada de forma emergencial a fim de se evitar a demolição por parte do poder público local.
Entre os moradores que se mobilizaram contra a destruição do acesso histórico estava o historiador, Cláudio Tagliari. "Quando soube da notícia que ia ser destruída, eu fiquei revoltado devido à importância dela e decidi que faria alguma coisa. Começamos de maneira silenciosa, montamos um grupo, durante a semana. E, no sábado (dia em que a ponte ia ser demolida) subimos na ponte e impedimos que fosse destruída. Só saímos de lá quando iniciou o processo de tombamento no domingo", relembra Tagliari.
No século XXI, a ponte tem a função de melhorar a mobilidade urbana, pois transporta pedestres e veículos leves e desafoga a BR-116, como um caminho alternativo por dentro da cidade, além de ligar a região central da cidade com o bairro Rio dos Sinos". Os monumentos contribuem para valorizar mais a história, promove a cultura que valoriza a identidade das pessoas em relação à sua cidade e se pertencimento", explica Marcio Linck.