Porto Alegre,

Publicada em 24 de Junho de 2024 às 00:30

Auxílio Reconstrução demora a chegar para moradores do Interior do RS

Benefício federal foi anunciado em 15 de maio, mas há demora na análise dos pedidos feitos pelos moradores

Benefício federal foi anunciado em 15 de maio, mas há demora na análise dos pedidos feitos pelos moradores

/TÂNIA MEINERZ/CIDADES
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Liliane Moura
Após mais de 40 dias da maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul, o pagamento do Auxílio Reconstrução, benefício concedido pelo governo federal no valor de R$ 5.100 a todos que tiveram as suas residências alagadas pelas enchentes, em maio, ainda demora a chegar. Anunciado em 15 de maio, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a São Leopoldo, no Vale do Sinos, o auxílio é depositado diretamente na conta de um dos integrantes da família atingida. Os cadastros são feitos pelas prefeituras, que transmite os dados para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, que faz a ligação com a Caixa Econômica Federal, responsável por operar os pagamentos.
Após mais de 40 dias da maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul, o pagamento do Auxílio Reconstrução, benefício concedido pelo governo federal no valor de R$ 5.100 a todos que tiveram as suas residências alagadas pelas enchentes, em maio, ainda demora a chegar. Anunciado em 15 de maio, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a São Leopoldo, no Vale do Sinos, o auxílio é depositado diretamente na conta de um dos integrantes da família atingida. Os cadastros são feitos pelas prefeituras, que transmite os dados para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, que faz a ligação com a Caixa Econômica Federal, responsável por operar os pagamentos.
Em Canoas, na Região Metropolitana, uma das cidades mais atingidas pelas cheias - cerca de 60% da cidade ficou alagada e mais de 100 mil pessoas precisaram sair de casa - a situação deixa moradores apreensivos. Passado mais de um mês dos alagamentos, as marcas das águas e a sujeira ainda estão presente da casa de Deise Martins, 46 anos, moradora do bairro Rio Branco. Ela trabalha como auxiliar de higienização no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
"A partir do dia 4 de maio a casa já não aparecia mais. A água cobriu toda a residência. Perdemos tudo", conta a residente da rua Ireneu de Carvalho Braga. Ela, os seus dois filhos - sendo um deles autista - e a sua mãe ficaram 31 dias abrigados na escola Marechal Rondon.
Diante desse cenário, ela solicitou o benefício do Auxílio Reconstrução diretamente na prefeitura, no final de maio. "Até o momento só diz que está em análise", comenta. Com o pagamento, caso receba, ela conta que usará para o conserto da sua residência visto que a água danificou os eletrodomésticos, móveis e o piso da casa.
Situação semelhante vive outra moradora do bairro. Luanna Machado, 21 anos, conta que a água atingiu a altura de dois metros na casa onde mora. "Nossas casas do bairro foram as últimas a secar, foram 35 dias embaixo de água. Começamos a limpar na semana retrasada", conta a jovem que desde o dia 3 de maio está na casa da sua mãe no bairro Igara. "A gente teve muitas rachaduras nas paredes tem que reformar e refazer algumas vigas, porque é perigoso desmorona", comenta.
A moradora de Canoas, que atualmente está desempregada, afirma que, desde o dia 13 de maio, solicitou o Auxílio Reconstrução pelo site da prefeitura. E, após mais de 40 dias a solicitação está em análise, sem que haja previsão para o pagamento dos valores.
Luanna explica que os R$ 5,1 mil seriam importantes para a compra de novos materiais para a residência. "A gente não tem dinheiro para reconstruir, para comprar as coisas. Eu vou comprar uma cama, um fogão e o necessário só para entrar em casa, porque os luxos não têm nem como tem com esse valor", diz.

Em Rio Grande, moradora de bairro atingido por enchente espera desde o dia 27 de maio por resposta

Água em condomínio do bairro Cidade Nova atingiu a marca de 1,3m
Água em condomínio do bairro Cidade Nova atingiu a marca de 1,3m AMANDA SIMÕES/ARQUIVO PESSOAL/CIDADES
A moradora de Rio Grande, Amanda Simões, 27 anos, que é estagiária, está na condição semelhante quanto à demora sobre uma resposta quanto ao Auxílio Reconstrução. A residente do bairro Cidade Nova, na rua São domingos Sávio, observou a água da Lagoa dos Patos atingir a marca de 1,3 metro no seu condomínio, em maio. A rua fica a cerca de três quadras da lagoa. Por conta disso, ela fez a solicitação junto à prefeitura para receber os valores. "Desde 27 de maio segue em análise", comenta a moradora.

De acordo com a prefeitura, no período mais crítico, a mediação atingiu 2,77 metros - a cota de inundação é de 1,90 m. Na média, 700 pessoas ficaram desabrigadas nos locais de acolhimento do cidade. A cidade sofreu com a maior enchente de sua história, superando a marca de 1941.

"Não tem mais nada dentro da minha casa. Estou mal, perdi tudo que levei anos adquirindo", comenta a jovem. Desde então, ela, as duas filhas, e o marido estão na casa dos sogros. "Eu não voltei ainda para o apartamento", comenta.

Com o valor do benefício, caso receba, Amanda deseja comprar móveis usados a fim de iniciar o processo de retomada pós-enchente de maio. "Com valor não é possível adquirir tudo novo. Mas dá pra começar", comenta. Ela afirma que segue esperando uma resposta sobre a concessão do benefício, mas ainda não tem ideia de quando isso poderá ocorrer.

Governo federal anuncia crédito para pagamento do benefício, e prefeituras cobram sobre repasse dos valores

Na quarta-feira (19), o O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional anunciou que terá mais R$ 689,6 milhões para ajudar famílias gaúchas desalojadas ou desabrigadas com o Auxílio Reconstrução. O crédito extraordinário está previsto em medida provisória editada pelo presidente Lula e publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).

Com o novo crédito, 135 mil famílias serão incluídas no cadastro de beneficiários do auxílio de R$ 5,1 mil, pago em parcela única. Do total de R$ 689,6 milhões, são destinados R$ 688,5 milhões para o apoio financeiro e R$ 1,18 milhão para despesas de operacionalização.
• LEIA TAMBÉM: Venâncio Aires tem 4,8 mil famílias que solicitaram o Auxílio Reconstrução

O governo federal aprovou o cadastro de 256.734 famílias para o recebimento do auxílio, o que representa impacto de R$ 1,3 bilhão. Deste total, segundo informações do ministério, 167 mil já receberam o benefício. O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, afirmou que o trabalho das prefeituras deve ser contínuo para que mais famílias sejam aprovadas no benefício.

Questionadas sobre os cadastros dos moradores, a prefeituras de Canoas e Rio Grande deram as suas versões. Em nota, o executivo canoense declarou que foram feitos mais de 120 mil cadastros para o Auxílio Reconstrução. Os bairros Rio Branco e Mathias Velho foram os realizaram o maior número de solicitações.

Além disso, do total das inscrições, 64.676 já estão habilitadas - aguardando confirmação do solicitante. Também foram realizados 55.862 pagamentos aos moradores, segundo o poder público.

Em Rio Grande, a prefeitura afirma que houve 38.564 cadastrados de pessoas em busca do benefício federal. Deste montante, 23.496 solicitações estão em análise. Também 12.786 pessoas foram aprovados para receber o valor. E 1.744 moradores estão habilitados - aguardando confirmação do solicitante. Além disso, 102 cancelados pelo responsável familiar e 75 desconsiderados por duplicidade. Outras 383 solicitações foram reprovados.

No dia 12, o prefeito de Rio Grande, Fábio Branco enviou um ofício ao governo federal solicitando respostas a respeito dos atrasos. No documento, o município questiona sobre os critérios para análise e também sobre os prazos para o pagamento, já que muitas famílias têm aguardado pelo depósito desde o final do mês de maio, sem terem recebido novas informações sobre o pagamento.

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