Memória e prevenção. Foi assim que Flávio Silva, pai de uma vítima e ex-presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) analisou a construção do Memorial às Vítimas da Boate Kiss, cuja empresa foi definida esta semana e com obras previstas para o mês de abril. A associação planeja, inclusive, um ato simbólico no dia da destruição do prédio, e, no início das construções do memorial, ainda sem datas definidas.
Flávio afirma que a ideia é colocar algum item da Boate Kiss no memorial, como os guarda-corpo, barras, portas, para registro do que aconteceu naquela data. "A história tem que ser contada até para que não se repita A nossa luta é para que isso não aconteça novamente. Queremos transformar o local de dor em um local de amor e memória", comenta ele, que era pai de Andrielle Righi da Silva, de 22 anos, falecida na tragédia na casa noturna, em 2013.
A associação trabalha com a ideia de construir um espaço para registro, homenagem às vítimas e que contribua para a cultura de prevenção. Flávio conta que, após o incêndio, a prioridade do grupo de pais e amigos da vítimas era pela busca por justiça. Por causa disso, somente a partir de 2017, o grupo começou a atuar para a execução da ideia do memorial. Um ano depois foi divulgado o projeto vencedor do arquiteto Felipe Zene Motta, da empresa Motta e Zene Engenharia e Arquitetura, de São Paulo.
Após isso, veio a pandemia da Covid-19, em 2020, além do julgamento do caso, em dezembro de 2021, que retirou a atenção dos associados para o Memorial às Vítimas da Boate Kiss. "Não queríamos tirar o foco do julgamento. Logo após isso, em 2022, o projeto foi retomado", comenta.
Na semana passada, a prefeitura divulgou a empresa que fará a demolição e o início das obras, para execução das obras, Infa Incorporadora LTDA, de Triunfo. De acordo com a prefeitura de Santa Maria, a estimativa é que as construções estejam concluídas até janeiro - data que marca 12 anos da tragédia. Porém, Flávio Silva é mais conservador na previsão pois, terminada as obras, o local precisa estar mobiliado o que levará mais tempo. Ele acredita que a iniciativa estará totalmente completa em 2026.
O ex-presidente da associação explica o motivo da demora para o andamento do memorial, além da preocupação em fazer uma homenagem às vítimas e aos processos burocráticos para elaboração do projeto, também é para que o local seja uma amostra do cuidado máximo com a prevenção. "Superação para nós é uma palavra que não existe. A gente se acostumou a lidar com a dor, a gente chora, a gente sangra", relata Flávio Silva, emocionado.
Ele relembra que o memorial será uma forma de estabelecer, para sempre, a memória das famílias "Não há como escapar da dor. Ela sempre estará ali", diz sobre a aprendizagem consistir em vivenciar este sentimento, e, também, continuar a seguindo a vida. " A dor só vai acabar no dia da nossa morte", finaliza.