A invasão das palometas (Serrasalmus maculatus) em algumas bacias do Rio Grande do Sul preocupam as autoridades e os pescadores há alguns anos. Também conhecida como piranha, além de procriar e de se adaptar com facilidade ao novo local, a espécie, por ser carnívora, gera desequilíbrio ambiental e social. Desde 2021, foi detectada no rio Jacuí, Bacia do Jacuí a presença desses peixes.
Há registro de palometas que foram encontradas nos afluentes, como o rio Vacacaí, rio Sinos, rio Gravataí, rio Taquari e rio Cai e, posteriormente, no Lago Guaíba e Laguna dos Patos. Desde o mês passado, há relatos do animal na Bacia do Tramandaí, Lagoa Mirim e rio Camaquã, de acordo com o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis do Rio Grande do Sul (Ibama/RS), Maurício Vieira de Souza.
O biólogo e professor da Unisinos, Uwe Horst Schultz, reitera o risco da presença desses animais fora do seu habitat natural. Nativa da bacia hidrográfica do rio Uruguai, as causas prováveis para o espalhamento das palometas nas demais bacias são os canais de irrigação e açudes, que bombeiam água de um rio para as lavouras. O biólogo afirma que as piranhas preferem água doce e calma. Logo, locais de muita correnteza como o mar elas tendem a não ocupar.
"Há possibilidade das palometas invadirem todos os sistemas aquáticos gaúchos até 2025", afirma o biólogo, que acredita ser improvável a erradicação delas. Porém é comum que as espécies invasoras apresentem uma curva padrão. Dessa forma, no início, há uma grande expansão, e depois como passar do tempo começam a fazer parte dos ecossistemas. Ainda não há previsão de quando isso irá acontecer. "Depois desse ápice tende a diminuir, mas a gente está na fase inicial, três anos do Jacuí e recentemente nas lagoas, como Fortaleza, em Cidreira", pondera o biólogo.
Segundo Schultz, o peixe dourado é predador natural das piranhas, mas o animal está ameaçado de extinção no Rio Grande do Sul. Por causa disso, uma das ações que os pescadores podem realizar para atenuar a situação é revisar constantemente o seu material, como as redes de pesca, e não deixar em períodos longos. "Se deixar rede a noite inteira e recolher no dia seguinte tem o risco de perder tudo", recomenda o analista.
Sobre a possibilidade de espalhar em demais regiões do Estado, entre elas o Litoral Norte afetando a economia e o turismo o analista do Ibama é ponderado sobre uma projeção. "É uma preocupação legítima, mas acredito que não tem como prever efetivamente a dimensão do problema", afirma. Segundo ele, as invasões biológicas são consideradas uma das principais causas de extinção de espécies, junto com a destruição de hábitats. Mas ainda não há como afirmar se as palometas possam levar alguma espécie à extinção no Estado. Ele ainda afirma que o monitoramento dessa situação é contínuo e conta também com a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado do Rio Grande do Sul, as universidades, as prefeituras e voluntários que informam as ocorrências.