O número de pessoas que moram no Rio Grande do Sul com cidadania italiana já é maior que a quantidade de italianos que chegaram no estado ainda no século XIX durante o processo migratório. Os 84 mil imigrantes da época no estado se transformaram em mais de 4 milhões de descendentes que não apenas valorizam, mas preservam a cultura de seus antepassados.
A busca pela cidadania do país europeu tem sido prática de muitas famílias que veem no reconhecimento uma forma de manter viva a história do seu núcleo familiar, além de permitir que seus filhos tenham acesso a universidades do continente europeu, saúde, segurança e residência, entre outros benefícios. Aliado ao expressivo aumento pela busca da dupla cidadania também está o interesse do Consulado Geral da Itália em Porto Alegre de agilizar a liberação em cerca de 5 mil processos ao ano, podendo beneficiar de 10 a 15 mil pessoas.
A projeção feita pelo cônsul-geral da Itália na Capital, Valerio Caruso, é de que 10 mil novos cidadãos italianos sejam reconhecidos no estado até os primeiros meses do próximo ano. "Vamos chegar a 120 mil cidadãos italianos no RS. A lei italiana é generosa e concede muitos direitos. Nosso objetivo é trabalhar para liberar 5 mil por ano. Estamos, inclusive, fazendo ações de interiorização, descentralizando o consulado. Assim, estamos mais presentes e próximos dos descendentes", destaca.
A Avanti Cidadania, escritório internacional de consultoria jurídica, com unidades em Garibaldi, na Serra Gaúcha, e em Verona, na região do Vêneto, na Itália, tem percebido essa corrida pela dupla nacionalidade. A empresa registrou 480 contatos no primeiro semestre de 2023 contra 216 no mesmo período do ano passado, um incremento de 123%. A maior procura se dá em cidades da Serra Gaúcha onde existe uma grande concentração de famílias com descendência italiana.
A explosão na busca pela dupla cidadania também se explica devido a tramitação de um Projeto de Lei na Itália que, se aprovado, deve endurecer as regras para quem deseja obter a cidadania. Em andamento desde o dia 7 de junho propõe a restrição do reconhecimento de cidadania para até a terceira geração (bisneto). A proposta prevê ainda a necessidade de exame de proficiência de língua italiana em nível B1 para qualquer descendente e residência por um ano para descendentes a partir da terceira geração que é o caso de mais de 90% dos gaúchos.
Nátali Lazzari, especialista em Genealogia, conta que a preocupação é grande e que é preciso correr. Segundo ela, especialistas alertam que o texto possui grandes chances de ser aprovado. "É hora de iniciar e agilizar processos. Este tipo de projeto não é novidade na Itália, só que agora ele veio de um senador da base governista, ou seja, tem grande apoio do Congresso Italiano, que é maioria", alerta.
Nátali recomenda que descendentes com a intenção de encaminhar pedidos de cidadania se atentem à tramitação do projeto e iniciem seus pedidos, porém, ela faz uma ressalva. "Desde o ano passado ocorreram mudanças importantes. Os processos, por exemplo, foram descentralizados de Roma e passaram a tramitar nas regiões de origem das famílias. E este projeto novo chega tendo como argumentos, entre outros, o aumento em fraudes documentais. Por isso, é importante que o interessado se apoie em empresas idôneas, embasadas na legalidade e no sentimento de pertencimento", reforça.