O óleo de canabidiol começou a ser aplicado em cães com dermatite atópica canina no Hospital Veterinário Universitário (HVU) de Santa Maria. A iniciativa é parte do projeto de mestrado de Carollina Mariga. Esta doença, embora não seja fatal, causa coceira excessiva na pele, o que faz com que os cachorros se machuquem ao se coçarem constantemente. A cannabis é uma alternativa para aliviar os sintomas, já que a doença não tem cura.
"Nosso objetivo é usar os efeitos antiinflamatórios presentes no óleo para aliviar a coceira que os cachorros têm. Isso porque o tratamento tradicional dessa doença são medicamentos caros e com grandes efeitos colaterais", explicou Saulo Tadeu Filho, docente do curso de Medicina Veterinária e orientador da pesquisa.
O óleo foi doado por instituições nacionais e o processo de testagens iniciou em agosto de 2022. Ainda segundo o professor, se a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) não disponibilizasse o medicamento de forma gratuita por meio do projeto, ele não seria acessível para parte da população. Além de um tratamento que é para a vida toda, cada frasco da substância custa cerca de R$ 300,00.
Logo após as tramitações para se adquirir legalmente o óleo pela UFSM, as testagens foram iniciadas em pacientes do HVU que já tinham a doença diagnosticada. Os tutores recebiam os frascos do hospital e medicavam os animais em casa. Foram 14 cães participantes. Entre as raças, estão labradores, sem raça definida, dachshund (salsichinha), e em grande maioria, shih-tzus.
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O óleo utilizado contém 1.500mg de CBD (canabidiol) e 72mg de THC (tetrahidrocanabinol, principal substância psicoativa) num frasco de 30ml. A dose estipulada para a pesquisa foi de 2,5 miligramas por quilo para cada cão. O óleo cobriu o período de tratamento estipulado no projeto. Mas, quem teve interesse em seguir com a medicação, pôde adquirir por associação, mediante prescrição veterinária.
Apesar de a análise laboratorial não apresentar grandes resultados na pele dos animais, a mudança na prática é expressiva: muitos cães melhoraram com o tratamento, outros estabilizaram. "A gente teve os mais variados resultados, assim como é a terapia canábica. Cada um vai responder de uma forma. Tivemos animais que passaram o primeiro verão sem crise, os que ainda estão em terapia, mas já melhoraram, e outros que não responderam ao tratamento", comenta Carollina Mariga.
Diante dos resultados, alguns desafios foram identificados durante as etapas de trabalho. Os pesquisadores entenderam que outras variáveis influenciam nos resultados de melhora, como o ambiente em que o animal vive, a dedicação do tutor, a sua rotina, entre outros aspectos. Carollina, porém, explica que a pesquisa não pode exigir uma realidade utópica dos cães. "Mantivemos a realidade do animal e acrescentamos a cannabis para verificar somente a atuação dela. Obviamente que associar mais cuidados poderia ter uma melhora significativa, mas aí iria sair do escopo da pesquisa", comenta.
Outro desafio foram as doses. Em um primeiro momento, a pesquisa se propôs a utilizar uma dose fixa, algo que já pensam em mudar no projeto de doutorado. "Tem pacientes que não respondem à primeira dose, mas a outras mais altas. E isso não fizemos, mas queremos. Variar a dose ou aumentar até um determinado patamar em que o paciente possa responder", disse Saulo Tadeu. A próxima etapa muda também o componente do tratamento: agora as testagens serão com óleo de cannabis, e não mais canabidiol.